As imagens do ataque em Nice, França, que resultou na morte de dezenas de pessoas, começam a circular nas redes sociais, mas são os relatos das testemunhas que presenciaram o incidente que estão a ocupar os jornais de todo o mundo. São estas pessoas que estão a ajudar a entender como o camião atingiu as vítimas na Promenade des Anglais e a reação da multidão.

Ao Guardian, testemunhas relataram que vários pais atiravam os filhos por cima das barreiras de proteção –colocadas na rua por causa das comemorações do 14 de julho — com o objetivo de as colocar a salvo no momento em que “centenas e centenas de pessoas” corriam de forma caótica para fugir do perigo.

É o caso de Damien Allemand, jornalista francês, que disse em entrevista à revista Time que estava a ver os fogos de artifício, quando o camião apareceu e “começou a atropelar pessoas”. “Vi corpos voarem como pinos de bowling. Ouvi gritos como nunca mais esquecerei”, confessou.

Alain Boudail, proprietário do restaurante Le Crocodile Restaurant, localizado na avenida, descreveu à Time o ataque com a mesma referência ao bowling. “Eu podia ouvir gritos, choro, e parecia bowling, as pessoas estavam a ser lançadas ao ar numa distância de dois ou três metros”, narra. “Na frente do meu restaurante, havia pelo menos dez pessoas estendidas no chão, mortas.”

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Franck Sidoli relatou à Reuters um momento que lhe marcou durante o ataque. “Vi pessoas a correr, então o camião parou, estávamos a cinco metros de distância. Uma mulher estava lá e ela havia perdido o seu filho. O seu filho estava no chão, a sangrar”, confessou visivelmente abalado, segundo a publicação.

Já um pai de família, não identificado, contou ao canal France 2 como teve sorte em salvar a sua família:

Os fogos de artifício haviam acabado. Havia estacionado mal, por isso a minha esposa e os meus dois filhos saímos rapidamente para tomar um gelado. E então vimos uma multidão a correr, eram cenas de pânico. Estávamos a cerca de 50 metros de distância. Coloquei a minha mulher e os meus filhos num local seguro na parte de dentro do local e comecei a correr na direção oposta para ver se podia ajudar.”

O homem, no entanto, reconhece que o seu ato foi um erro. “O que vi foi horrível. Corpos das mulheres esmagados, cheios de sangue; não havia ninguém que pudesse prestar assistência”, afirmou.

Um homem chamado Thierry contou à rádio France Info que apenas percebeu que algo estava errado na avenida, quando viu mulheres com carrinho de bebé a chorar, pedindo ajuda à polícia. Teve de correr “egoisticamente”, descreve.

Tudo estava bem, os fogos haviam acabado. Estávamos a ir para casa, e de repente vi como um grupo de jovens começou a correr, mas pensei que seria pelos explosivos. Percebi que algo estava errado quando vi mulheres com carrinhos de bebé a chorar, pedindo ajuda à polícia. Estavam a chorar. Então comecei a correr também e cruzei-me com umas senhoras que iam mais devagar e parei para esperá-las. Outra mulher gritou-me para que começasse a correr e que fosse para casa. Então comecei a correr egoistamente”, narrou.

Já a brasileira Luciana Dias Bonfim disse ao jornal Estadão que já estava a voltar ao seu hotel com o namorado, quando viu “um mar de gente a correr”. “A nossa sorte foi estarmos já perto do hotel. Estamos a cinco minutos a pé de onde foi a confusão. Dá para ouvir bem as sirenes das ambulâncias e helicópteros. Quando chegámos no hotel vimos gente a chorar, pessoas desesperadas e soubemos o que tinha acontecido”, avança.

Para Luciana, ir a Nice era uma maneira de evitar um possível atentado em Paris, por motivo do Dia da Batalha. “A gente ia para Paris hoje, mas desistimos porque pensámos que ia ter algum atentado pela data e resolvemos vir para Nice. Chegamos nesta quinta-feira à tarde”, lamentou.