O antigo Presidente francês e atual chefe da oposição conservadora, Nicolas Sarkozy, acusou hoje o Governo de François Hollande de falta de determinação e de ineficácia contra o terrorismo desde os atentados de janeiro de 2015.

“Fui chefe de Estado, sei que não existe o risco zero (…) mas não se fez tudo o que se deveria ter feito nos últimos 18 meses”, sublinhou Sarkozy, numa entrevista à televisão TF1, ao ser questionado sobre o atentado em Nice, na passada quinta-feira.

“Estamos em guerra, numa guerra total. Os nossos inimigos não têm tabus, não têm fronteiras, não têm princípios”, disse, defendendo que a luta tem de ser colocada em termos de “ou eles ou nós” e isso implica “determinação durante anos”.

“Sou o líder da oposição e explico que o risco zero não existe, mas há uma obrigação de meios para garantir a segurança”, considerou.

O antigo Presidente francês acusou o Governo de ter demorado a legislar que é um delito consultar páginas ‘jihadistas’ — medida que só entrará em vigor em outubro. Outra crítica de Sarkozy é a de que o executivo não abriu nenhum centro para a desradicalização, quando há “milhares de jovens franceses radicalizados ou em vias de radicalização”.

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Sarkozy propôs que as 11.400 pessoas que estão identificadas pelos serviços secretos franceses por suspeita de ligações ao terrorismo sejam objeto de “uma análise precisa” para se fazer uma seleção.

Os estrangeiros suspeitos de terrorismo seriam expulsos “urgentemente” do país e os franceses teriam de ter uma pulseira eletrónica, para se saber sempre onde estão, ou teriam os movimentos restringidos por ordem administrativa ou seriam colocados em “centros de retenção”.

O presidente dos republicanos também lançou críticas à política externa de Hollande, defendendo, em particular, a necessidade de procurar uma aliança com o Presidente russo, Vladimir Putin, para combater o Estado Islâmico, para que “na Síria haja uma coligação [internacional] e não duas”.

Sarkozy defendeu ainda que os aliados na região devem intervir militarmente com forças terrestres para combater os jihadistas, mas rejeitou que França coloque os seus próprios soldados neste tipo de missões.

O antigo Presidente rejeitou também os apelos de Hollande à unidade na luta antiterrorista, insistindo que numa “democracia forte” como a francesa há que poder debater e, acima de tudo, após “sete atentados” e “cerca de 250 mortos” desde janeiro do ano passado — no ataque à redação do Charlie Hebdo –, não tem intenção de se limitar a “comentar e comemorar”.

Na quinta-feira à noite, um camião avançou durante dois quilómetros sobre uma multidão na Promenade des Anglais (Passeio dos Ingleses), em Nice, que estava a assistir ao fogo-de-artifício para celebrar o dia de França, causando pelo menos 84 mortos e 202 feridos.

Pelo menos um cidadão português ficou ferido no ataque, confirmou o Governo.

O condutor do camião foi abatido pela polícia.

As autoridades francesas consideraram estar-se perante um atentado e o Presidente da França, François Hollande, anunciou o prolongamento por mais três meses do estado de emergência que vigora no país desde o ano passado.

O grupo extremista Estado Islâmico reclamou este sábado a autoria do atentado.