O ano passado, Pedro Santana Lopes ameaçou, mas não avançou para a Presidência da República. Em abril deste ano, no congresso do PSD, fez um discurso, que fechou com aquela frase enigmática sobre a câmara de Lisboa: “Keep cool!…” Marcou terreno. Deixou o partido à espera e ameaçou. Mas voltou a recuar esta semana com uma declaração ao “Expresso”. Santana ficou “cool” no seu canto na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, e deixou as estruturas a ferver. José Eduardo Martins, um dos poucos críticos que falou no mesmo congresso contra a estratégia de Pedro Passos Coelho, será um nome provável a lançar pela concelhia social-democrata de Lisboa presidida por Mauro Xavier, segundo apurou o Observador.

A preferência de Pedro Passos Coelho, que terá a última palavra quanto ao candidato na capital, deve inclinar-se para o seu primeiro vice-presidente, Jorge Moreira da Silva. Este afirmou, porém, numa entrevista ao Observador que não estava a ponderar — e mantém o que disse no novo cenário pós-Santana — mas de forma suficientemente ambígua para não fechar a porta. Há quem diga que o próprio Santana pode querer que o vão buscar a casa.

Esta semana, na quarta-feira, o PSD reúne o Conselho Nacional para definir o perfil dos candidatos e a estratégia autárquica. Mauro Xavier não confirma nem desmente o nome de José Eduardo Martins ao Observador: “O nome do José Eduardo é o quarto ou quinto que surge, mas não irei comentar qualquer nome. Tenho visto vários nomes nos jornais”. E recorda: “O José Pedro Aguiar-Branco lançou o nome dele no congresso”, durante o discurso em que apelou a uma série de personalidade a concorrer às autárquicas. Outra fonte do partido diz que poderia ser um bom palco para depois tentar a liderança do PSD, mas não crê que Passos Coelho o pudesse aceitar. O Observador tentou contactar José Eduardo Martins, mas não obteve qualquer resposta.

Jorge Moreira da Silva, ex-ministro do Ambiente, tem sido o mais falado dos próximos do líder do partido. Numa entrevista ao Observador há 15 dias, o vice-presidente do PSD dizia que não, mas até admitia que estava a ser “incentivado por algumas pessoas”:

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Não estou a ponderar essa hipótese [de se candidato à câmara municipal de Lisboa]. A notícia surgiu várias vezes e tenho sido incentivado por algumas pessoas, mas devo dizer de forma transparente que não estou a ponderar essa hipótese. Estou muito focado na política nacional como primeiro vice-presidente do PSD e como presidente e fundador da Plataforma para o Crescimento Sustentável (PCS). As pessoas não devem querer fazer tudo. A questão não é saber se quero ser candidato a uma câmara. A questão é saber se prefiro isso ou ser mais útil numa determinada função.

Quando foi confrontado com o processo de decisão de Pedro Santana Lopes, na mesma entrevista, também reagiu como se o processo fizesse parte da sua equação política: “Não confundo o meu processo de avaliação com a avaliação que outra pessoa esteja a fazer”, respondeu ao Observador. “Neste momento — acrescentou Moreira da Silva — não estou a ponderar esta hipótese porque estou totalmente focado na política nacional”.

Apesar de o dirigente nacional do partido ter medido bem as palavras, a entrevista de Jorge Moreira da Silva suscitou uma reação violenta por parte do presidente da concelhia de Lisboa, que também já terá começado a fazer alguns estudos de opinião. Mauro Xavier escreveu um post no Facebook a criticar o número dois de Passos Coelho, para “deixar claro se há alguém que o ande a incentivar não é o PSD Lisboa“. E para dizer que “estes assuntos não se tratam nos jornais”. Mauro Xavier ainda citou os estatutos do PSD realçando que “cabe à comissão política de secção propor à Comissão Política Distrital as listas de candidatura aos órgãos das autarquias Locais.”

Para não travar mais o processo, sobretudo na semana da reunião do Conselho Nacional, Pedro Santana Lopes disse ao “Expresso”, este sábado, que “neste momento não” podia “aceitar convites para ser candidato a outros cargos” porque estava em “concentração máxima e dedicação total” à Santa Casa. E declarava: “Compreendo que o meu partido tenha outros calendários, pelo que não quero, de forma alguma, condicionar a estratégia que seja delineada. Sei que este dossiê está entregue e bem, ao presidente do PSD”.

Carlos Carreiras, coordenador do processo autárquico do PSD, referiu ao Observador que “ainda não foram discutidos nomes em quaisquer concelhos”, explicando que já deu a volta ao país, não para falar dos nomes mas a estratégia e o projeto: “Primeiro temos de saber: ganhar para quê?” Até 16 de outubro, data das eleições regionais nos Açores, explica Carreiras — que também preside à câmara de Cascais — o tempo é de se “aprofundarem os projetos para os concelhos”.

Uma das condicionantes da estratégia social-democrata é o que vai fazer o CDS. Assunção Cristas, líder do partido, pelo que o Observador pôde apurar, continua em fase de avaliação de uma eventual candidatura a Lisboa, ainda não totalmente afastada, o que baralha as contas ao PSD (a concelhia é frontalmente contra). O partido só agora vai começar a fazer sondagens.