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São gigantes, com barbas de guerreiro, corpos tonificados e uma expressão serena. Mas, por alguma razão – e maior parte de nós já reparou, mesmo que não queira admitir – quase todas as estátuas gregas clássicas têm pénis pequenos.
Este facto, claro, não passou despercebido aos historiadores – até porque é um elemento comum em boa parte das esculturas feitas na Antiga Grécia e tornou-se alvo de debate, como informa o Quartz. Um grupo de investigadores desenvolveu agora uma teoria sobre o porquê desta fascinação com um micro pénis na Grécia Antiga: possuir um órgão genital pequeno era o look que melhor servia a um “macho alfa”.

Uma das estátuas que foi encontrada no mar de Riaci. A estátua com mais de 1,80 metros representa um guerreiro grego. A escultura do corpo alto, musculado e com uma barba cerrada é acompanhada de um pénis que muitos considerariam como “pouco impressionante”, nos dias de hoje. (Keystone Features/Getty Images)
Andrew Lear, um professor de estudos clássicos nas faculdades de Harvard, Columbia e na Universidade de Nova Iorque, explicou ao Quartz que “os gregos associavam pénis pequenos e não eretos a moderação”. E essa mesma moderação era uma das virtudes fundamentais no que se considerava ser um ideal masculino. Os homens sérios não eram conduzidos pelo desejo e pela luxúria, mas sim pela moderação e serenidade. Aparentemente, para os gregos, o tamanho não importava mesmo.
As estátuas gregas focavam-se mais no equilíbrio e idealismo que eram inerentes aos ideais de beleza da época, diz a especialista em História de Arte, Ellen Oredsson.

A escultura de Miguel Ângelo, comummente conhecida apenas como David, é um exemplo clássico do estudo das proporções – embora tenha sido esculpida no século XVI, recupera o cânone clássico. (ALBERTO PIZZOLI/AFP/Getty Images)

A estátua de um sátiro, representado com um pénis erecto. (GRANT MITCHELL/WIKIMEDIA)
Ordesson explica no seu site que o homem ideal para os gregos era “racional, intelectual e autoritário e podia ainda fazer muito sexo, mas isso não tinha qualquer relação com o tamanho do seu pénis”.
Lear explica até que nas esculturas é possível notar dois padrões: aos “homens ideias” – deuses, semideuses, heróis, atletas – convinha ter um pénis pequeno, mas os sátiros – criaturas mitológicas que são metade cabra, metade homem (como o Phil, do Hércules) e que são constantemente retratados como bêbedos e luxuriosos – e velhos decrépitos eram representados com pénis eretos de grande proporção.
Até aos deuses, essa relação “ter um pénis pequeno é bom” e “ter um pénis grandes é mau” se aplicava. Na mitologia, Priapus, um deus grego da fertilidade, foi amaldiçoado por Hera com uma ereção permanente, ao mesmo tempo que se tornou impotente, feio e com uma mente conspurcada. Priapus era tão odiado pelos outros deuses que foi mesmo expulso do Monte Olimpo.

Fresco de Priapus e do seu pénis ereto.
E, embora na Antiga Grécia os volumes mais generosos fossem reservados para aqueles menos respeitáveis, achamos que Cristiano Ronaldo não tem de se preocupar. A “maior exportação da Madeira” não deixa de estar repleta de qualidades de um guerreiro.