O Governo de António Costa visto do país vizinho — e parceiro na transgressão do limite do défice imposto por Bruxelas em 2015 — é resumido a uma expressão que, curiosamente, é aquela que o primeiro-ministro tem recusado sempre como a postura desejável de Portugal junto das instituições europeias. “O Governo português adotou a posição do bom aluno que, apesar de todas as dificuldades (económicas), está a cumprir todas as exigências da Comissão“.

A descrição consta num artigo publicado no jornal digital El Español sobre o processo de sanções a Portugal e Espanha por défice excessivo. O correspondente do jornal em Lisboa escreve que, no momento em que os dois países já apresentaram os argumentos junto da Comissão Europeia para evitar a multa, que “a estratégia de Portugal passa por demarcar-se de Espanha, perante os olhos da Comissão”. Como? “O argumento do Executivo de António Costa é que, enquanto Mariano Rajoy aprovava um Orçamento do Estado para 2016 que reincidia na derrapagem nas contas públicas, o seu Governo negociou com Bruxelas para acertar as metas”.

No texto é citado o socialista João Galamba, que explica ao jornal que “a diferença face a Espanha é que Portugal preparou o seu Orçamento para 2016 através de negociações diretas com Bruxelas”, “foi elaborado para cumprir as metas fixadas pela Comissão em fevereiro e março, pelo que não é necessário nenhum corte adicional”, garante. O porta-voz do PS repete alguns dos argumentos expostos pelo ministro das Finanças Mário Centeno, na carta enviada na segunda-feira à Comissão Europeia, nomeadamente que “no final, se Portugal for multado e este Governo falhar por culpa da Comissão Europeia, só vão fomentar o anti-europeísmo“.

Face à situação espanhola, em que estão a ser exigidas medidas adicionais, António Costa “argumenta que é injusto que o seu Governo tenha de assumir uma multa que se deve a uma derrapagem nas contas do anterior Executivo, de Pedro Passos Coelho”, diz o jornal que descreve a posição portuguesa como a “do bom aluno”, uma expressão que já tem anos e que foi utilizada de forma elogiosa pelo antigo presidente da Comissão, Jacques Delors, mas aproveitada pela então oposição ao Governo que Cavaco Silva liderava. E continuou a ser usada pelo PS. Ainda em 2012, o próprio António Costa (que ainda não era líder do PS) disse, no discurso que fez a 5 de outubro (como presidente da Câmara de Lisboa) rejeitava esta postura: “Não podemos aceitar que um país com oito séculos de História e que aderiu à Comunidade Europeia vai para três décadas tenha apenas para oferecer a uma Europa em crise o seu estatuto de bom aluno obediente e cumpridor, a que mediocremente e com incompreensível orgulho alguns o querem condenar”, afirmou o socialista António Costa.

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