António Correia de Campos falhou a eleição para o Conselho Económico e Social (CES). O ex-ministro da Saúde precisava de uma maioria de dois terços dos votos dos deputados presentes, mas ficou-se pelos 105. Houve 93 votos brancos e 23 nulos que inviabilizaram a eleição. Os deputados votaram esta quarta-feira para quatro entidades através de voto secreto em urna, pois trata-se da eleição de pessoas: presidência do CES, membros do Conselho Superior de Magistratura, juízes do Tribunal Constitucional e elementos do Conselho de Fiscalização do Segredo de Estado. Correia de Campos foi o único que a eleição falhou, apesar de, tal como nos outros casos, ter sido objeto de negociações entre PS e PSD.

A maioria dos deputados do CDS terão votado a favor de Correia de Campos, segundo apurou o Observador. Este dado coloca o ónus do falhanço quase todo do PSD, que aceitou o nome depois de prolongadas negociações com os socialistas. Resta saber também quantos deputados do PS furaram a orientação de voto, o que será impossível apurar porque o voto é secreto. A direita, que agora atira a responsabilidade para a “geringonça”, interroga-se saber por que razão o Bloco de Esquerda não ajudou a escolher Correia de Campos, uma vez que o PS lhe cedeu um nome para o Tribunal Constitucional.

“O PSD não cumpriu o acordo com o PS, uma vergonha”, comentou um alto dirigente socialista ao Observador minutos depois de ser conhecido o resultado. “E isto vindo de um partido que tem como lema ‘levar Portugal a sério”, criticou. O mesmo deputado disse que “não foi seguramente o PS que se absteve”.

Fonte da direção da bancada do PSD garantiu ao Observador que foram dadas instruções para que os deputados sociais-democratas votassem a favor de Correia de Campos, negando desta forma que o acordo com os socialistas tenha sido rasgado.

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Outra fonte da bancada parlamentar do PSD admitiu que “alguns deputados do PSD e do CDS terão votado em branco”. O mesmo deputado social-democrata sublinha que “se a ‘geringonça’ tivesse votado unida, o nome teria passado”.

A mesma leitura foi feita por outro deputado do PSD, que assegura que sabe de muitos votos favoráveis vindos dos sociais-democratas. “A história não está no lado do PSD; a história está no que aconteceu no PS, BE e PCP”, defendeu.

O deputado do PS que falou ao Observador argumentou que o acordo era com o PSD e não com o PCP.

Como o voto foi secreto, não é possível confirmar quantos deputados de cada partido votou favoravelmente na eleição de Correia de Campos.

No entanto, é possível fazer algumas contas. Os deputados do PS e do PSD somados totalizam 175 parlamentares. Tendo em conta a participação na votação em urna (221 votos), o nome de Correia de Campos passava mesmo que 20 deputados dos dois partidos se abstivessem. Mas foram muitos mais. Houve 116 votos brancos e nulos. Mesmo que todos os deputados do CDS, Bloco, PCP e Verdes tivessem votado branco e nulo, era preciso que 62 deputados do PS e do PSD não tivessem votado no nome escolhido.

Conclusão: ou houve uma esmagadora maioria de deputados do PSD a furar o acordo partidário, ou mesmo com uma elevada abstenção dos sociais-democratas, um número significativo de socialistas também pode não ter contribuído para o nome apresentado pelo seu partido.

Peça corrigida às 11h45, retirada a informação sobre a não participação da maioria dos deputados do PCP na votação.