Um sistema inovador para o tratamento do cancro está disponível desde abril no IPO de Coimbra. O instituto de oncologia investiu 4,5 milhões de euros no sistema Tomotherapy HD, um equipamento que ajuda a tratar com maior precisão tumores em doentes oncológicos. A técnica pode significar tratamentos mais eficazes e mais tempo de vida para os doentes.

O equipamento recorre a uma tecnologia chamada tomoterapia, uma forma de radioterapia. O nome vem da expressão Tomografia Axial Computorizada, vulgarmente conhecida por TAC. Este tipo de recolha de imagens retrata o organismo “às fatias”, ou seja, por secções. Partindo desta ideia, a tomoterapia emite um feixe de radiação direcionado a uma determinada “fatia” — fração da imagem — que corresponde ao local do tumor canceroso e a irradiação dos tecidos saudáveis é mínima.

Outra das vantagens para os pacientes é o facto de a tomoterapia poder ser adaptada ao movimento do tumor, uma vez que a radiação é administrada de forma helicoidal (em forma de hélice).

Maria do Carmo Lopes, do Serviço de Física Médica do IPO de Coimbra, explicou ao Observador que apesar de a tecnologia já estar disponível há uma década em países como os EUA, a aquisição veio mudar a forma como a equipa do IPO trata os doentes. Neste momento, a técnica está a ser aplicada sobretudo a doentes com cancros no pescoço e cabeça — como o cancro da tiroide, da faringe ou no cérebro — zonas que devido à elevada densidade de órgãos exigem radioterapia de maior precisão.

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“Técnicos e médicos passaram a verificar o quão preciso deve ser o posicionamento diário do doente para receber a radiação”, disse. É uma forma de abordar o tratamento que exige ainda mais planeamento que a radioterapia convencional.

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Maria do Carmo Lopes (ao centro, de colar azul) acompanhada pela equipa de médicos radioncologistas, físicos médicos e técnicos de radioterapia no primeiro dia de tratamentos na nova unidade do IPO Coimbra, a 19 de abril 2016.

Esta inovação permite “perceber, muito facilmente, que em cerca de 30% dos doentes temos de refazer planeamentos, seja porque o doente emagreceu ou porque vemos que o tumor diminuiu”. Ou seja, a equipa médica tem de ver as imagens do equipamento todos os dias, o que permite introduzir alterações no plano de tratamento definido inicialmente, sempre em benefício do doente.

“Esta capacidade de fazermos uma radioterapia adaptativa (através da tomoterapia) é um fator inovador. Porque o ideal, num tratamento de radioterapia, é sempre tratar com o plano do dia. Ou seja, todos os dias introduzimos uma mudança porque o doente e o tumor também se alteram. Ainda não conseguimos isso para todos os doentes, mas caminhamos nesse sentido”, esclareceu Maria do Carmo Lopes.

Tratamento mais eficaz?

Mas até que ponto é a tomoterapia mais eficaz no tratamento de certos cancros? A física médica explica que, “na radioterapia oncológica, a eficácia é medida em termos de probabilidade de controlo do tumor e de não complicação nos tecidos normais”. Isto porque num tratamento com recurso a radiação “a eficácia não se mede imediatamente, o efeito é prolongado no tempo”. Mas, desde logo, os pacientes sofrem efeitos secundários menos graves.

“A aquisição do equipamento introduziu uma nova rotina de tratamento que é ver, tratar e alterar, se for preciso“, disse Maria do Carmo Lopes, uma das envolvidas na decisão de compra do sistema Tomotherapy HD à empresa norte-americana Accuray, uma das peças fundamentais do plano de investimento do IPO de Coimbra.

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Manuel António Silva, Presidente do Conselho de Administração do IPO de Coimbra, contou ao Observador que o investimento de 4,5 milhões de euros foi feito com fundos próprios, através de uma capitalização, “sem ter de aborrecer ninguém”.

A aquisição deste equipamento — o único que existe neste momento em Portugal — é justificada pelo facto de “permitir tratar cancros de forma mais eficiente” e, na prática, “permite salvar mais vidas no sentido em que torna possível prolongar a vida, ou seja, a sobrevida das pessoas com alguns tipos de cancro é aumentada“, explicou.

O novo sistema Tomotherapy HD possibilita o tratamento de cancros “que, sem este equipamento, não seria possível”. Apesar de estar nas instalações do IPO de Coimbra, qualquer paciente oncológico do SNS pode ser tratado com este equipamento. Para isso, basta que esteja indicado pelos especialistas de radioterapia para receber tratamento através da tomoterapia e será encaminhado.