O livro do Guiness reconhece Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, como o romance mais longo de sempre. São nove milhões de caracteres e perto de um milhão e meio de palavras. Comparada com a colossal obra de Proust, Guerra e Paz é uma leitura rápida.

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Capa do primeiro volume dos sete que estão agora a ser reeditados pela Relógio d’Água

Ninguém podia acusar Proust de ser conciso. De um pequeno episódio extraía dezenas de páginas recheadas de digressões e divagações que um editor menos generoso teria desbastado implacavelmente. Essa terá sido uma das razões da famosa recusa de André Gide, na altura leitor da editora NRF, em publicar o primeiro volume, Do Lado de Swann. Gide, que acabaria por considerar essa a sua pior decisão quanto editor, não gostou de tantas palavras gastas com o mundo fútil descrito pelo narrador, embora alguns defendam a tese de que nem sequer chegou a ler o livro. Em Diário Mínimo, Umberto Eco inventou relatórios de leitura para algumas das obras do cânone ocidental. Eis a opinião desse leitor profissional e imaginário sobre a obra de Proust: “É necessário, primeiro, um trabalho aturado de editing: por exemplo, tem de se rever toda a pontuação. Os períodos são demasiado fatigantes, há-os que ocupam uma página inteira. Com um bom trabalho de reescrita, que os reduza ao fôlego de duas ou três linhas cada um, simplificando um pouco as coisas, tornando o conjunto mais mexido, o trabalho podia certamente melhorar”.

Levámos ainda mais longe o desafio do leitor de Eco e tentámos condensar cada um dos volumes em 140 caracteres. Não é uma tarefa impossível. Lembremos o que Woody Allen disse sobre Guerra e Paz depois de tirar um curso de leitura rápida: “envolve russos.” De Em Busca do Tempo Perdido diria “rapaz come madalena e não se cala.”

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Aqui ficam os sete volumes em sete tweets, publicados esta sexta-feira pelo Observador, para todos aqueles que não podem perder tempo a ler um livro sobre o tempo perdido.

Do Lado de Swann

À Sombra das Raparigas em Flor

O Lado de Guermantes

Sodoma e Gomorra

A Prisioneira

A Fugitiva

O Tempo Reencontrado

[os dois primeiros volumes, reeditados pela Relógio d’Água, já estão publicados]

Bruno Vieira Amaral é crítico literário, tradutor e autor do romance As Primeiras Coisas, vencedor do prémio José Saramago em 2015