A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) tem “obrigação e dever” de apoiar a integração da Guiné Equatorial, defende o secretário-executivo, que acredita que o país vai abolir a pena de morte e ratificar os estatutos antes da próxima cimeira.

“É nossa obrigação e nosso dever apoiá-los na integração”, disse o responsável, Murade Murargy, em entrevista à Lusa a propósito do segundo aniversário da adesão da Guiné Equatorial à CPLP, que ocorreu na cimeira de Díli, a 23 de julho de 2014.

O secretário-executivo afirma que a Guiné Equatorial está muito empenhada na vertente empresarial da CPLP, mas reconhece que ainda não estava preparada para “assumir as suas responsabilidades comunitárias e participar em todas as reuniões”.

“Têm um pouco de retração. De vez em quando também não fazemos um esforço para os acolher”, disse, admitindo que ainda prevalece “uma certa rejeição”.

“Já são membros comunitários e não podemos assumir atitudes de rejeição”, ressalvou, considerando que a CPLP deve acolher este país “com os braços abertos”.

Questionado sobre se Portugal é o Estado que tem colocado mais entraves à Guiné Equatorial, Murade Murargy respondeu que “não é justo” afirmar isso, mas comentou que “alguns setores da sociedade portuguesa sempre se manifestaram contra” a adesão deste país à CPLP.

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A organização pode prestar apoio às autoridades de Malabo na área cultural e na educação, exemplificou.

“Temos de discutir com eles para que os programas de ensino da língua portuguesa possam ser mais intensivos e abranger mais a sociedade da Guiné Equatorial, de forma a que o português comece a entrar gradualmente como a terceira língua”, disse Murade Murargy.

A Guiné Equatorial é o único país de língua espanhola do continente africano e a introdução do português como língua oficial neste país – que foi colonizado pelos portugueses antes de passar para as mãos dos espanhóis – era uma das condições da adesão.

O secretário-executivo reconhece que o português “não é língua de origem” na Guiné Equatorial, mas disse que este país “está a fazer um grande esforço” na divulgação do português.

Murargy ressalvou que ainda “há um longo caminho a percorrer” para que a língua portuguesa seja dominada por todos os povos da CPLP.

“Não podemos ter a pretensão de que todos falam português”, destacou, exemplificando que na Guiné-Bissau o francês é muito forte, enquanto em Timor também é comum falar-se inglês.

Sobre a abolição da pena de morte, outra das condições da adesão, o diplomata afirmou-se convicto de que o Presidente, Teodoro Obiang Nguema, irá ratificar a decisão, já aprovada nas duas câmaras do parlamento equato-guineense, antes da próxima conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP, prevista para novembro no Brasil.

Murargy acredita também que o país ratificará os estatutos da CPLP antes da cimeira, uma necessidade para a qual vem alertando as autoridades de Malabo.

A entrada da Guiné Equatorial ocorreu após “um minucioso processo”, como descreve a CPLP na sua página oficial, e foi recebida com protestos, principalmente em Portugal, do meio político e cultural e também de organizações de defesa dos direitos humanos.

O regime de Teodoro Obiang, no poder desde outubro de 1979, é acusado por várias organizações da sociedade civil de constantes violações dos direitos humanos e perseguição a políticos da oposição.

As autoridades de Malabo dizem que a aplicação da pena de morte foi suspensa desde a adesão à CPLP, mas falta a ratificação da decisão pelo Presidente.