A Renamo denunciou esta sexta-feira bombardeamentos na serra da Gorongosa, centro de Moçambique, onde se presume que esteja o líder do partido, Afonso Dhlakama, no dia em que as autoridades moçambicanas responsabilizaram homens armados da oposição pelo assassínio de um régulo.

“Estes ataques estão a ser feitos de forma generalizada à serra da Gorongosa, através de artilharia pesada, que está a lançar obuses de B11 em todas as direções, e visam irritar a Renamo [Resistência Nacional Moçambicana]”, declarou em conferência de imprensa em Maputo o porta-voz do maior partido de oposição.

Segundo António Muchanga, os ataques na serra da Gorongosa têm também como finalidade levar a que a Renamo “responda com ofensivas militares em todo o território nacional, incluindo a capital, de modo a declarar-se o fracasso das negociações”.

O porta-voz da Renamo referia-se ao reatamento das negociações de paz entre o Governo e o maior partido de oposição, em Maputo, na presença de mediadores internacionais, e que está a ser acompanhado pelo relato de novos episódios de violência política no centro do país.

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As autoridades moçambicanas acusaram esta sexta-feira homens armados da Renamo, maior partido de oposição, pelo assassínio do régulo de Chibabava, província de Sofala, morto a tiro na quinta-feira à noite na sua residência.

“Estamos completamente angustiados pela forma como o incidente ocorreu”, declarou Helena Taipo, citada pela Rádio Moçambique, referindo-se à morte do régulo Muxúnguè, em frente dos seus familiares, e pedindo à Renamo para parar a violência.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, defendeu na quinta-feira a cessação imediata dos confrontos militares.

“O que os moçambicanos querem é a cessação imediata da matança e destruição de bens”, afirmou Nyusi, falando num comício no distrito de Mopeia, província da Zambézia, centro do país.

Numa entrevista concedida esta sexta-feira ao semanário Savana, Afonso Dhlakama afastou um cessar-fogo imediato e disse que a questão só se colocará no fim das negociações entre as partes.

“Se nós cessarmos fogo, significa que a guerra terminou. Mas como ainda não chegámos a um acordo, não nos reconciliámos, não nos entendemos, significa que, meses depois, voltaríamos ao conflito e estaríamos a dececionar o povo”, afirmou.

Apesar do reatamento das negociações em Maputo entre Governo e Renamo, não cessaram os relatos de confrontações militares no centro de Moçambique, além de emboscadas nas estradas atribuídas ao braço armado da oposição e denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos.

Na entrevista ao Savana, Dhlakama voltou a justificar as emboscadas nas estradas no centro do país com a alegação de que os veículos atacados, mesmo os civis, transportam militares do Governo.

“A Renamo tenta reduzir a logística do inimigo. Digo inimigo porque vem nos atacar”, declarou.

Embora Dhlakama tenha afirmado que não está pronto para um cessar-fogo, na conferência de imprensa em Maputo, o porta-voz do maior partido de oposição apelou para “a cessação imediata dos atos hostis contra o presidente da Renamo e membros desta formação política”.

O momento, disse ainda António Muchanga, “é de negociações e devemos dar oportunidade àquelas individualidades [mediadores internacionais] que de boa-fé aceitaram vir a este país para ajudar a encontrar o caminho da paz”.

O Governo moçambicano e a Renamo iniciaram em Maputo na quinta-feira a discussão da exigência do principal partido de oposição de assumir a governação das seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.

A agenda integra ainda a cessação imediata dos confrontos entre as partes, a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança, incluindo na polícia e nos serviços de informação, e o desarmamento do braço armado da Renamo e sua reintegração na vida civil.

O principal partido de oposição recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, ameaçando governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.