Algures há milhares de anos, uns quantos Homo sapiens tiveram sexo com uma espécie de hominídeo, até aqui desconhecida. Ou seja, o homem tem um novo antepassado.
Este par de frases, escrito assim, é difícil de ser compreendido. Esta segunda-feira, um grupo de cientistas publicou na revista Nature um artigo que, para ser entendido, precisa de um contexto. Que é tão longo e complexo quanto a caça às origens da espécie humana, porque veio contradizer duas teorias que obrigam a explicar o que antes se sabia para se perceber o que agora se sabe.
Há cerca de 60 mil anos, os primeiros Homo sapiens, que começaram a abandonar África e migraram rumo à Europa e à Ásia, ter-se-ão deparado com uma espécie de hominídeo — família dos grandes primatas –, algures no sul e no sudeste asiáticos, com a qual tiveram sexo. Em suma, foi esta a conclusão a que chegaram os cientistas, após estudarem o ADN de 10 habitantes das Ilhas Andamão e de o compararem ao de 60 indivíduos que nasceram na Índia continental.
Foi nos indivíduos destas ilhas, situadas no Oceano Índico, sob jurisdição indiana, que os cientistas descobriram uma sequência genética que não foi encontrado em outros antepassados do homem. Contudo, nunca foram descobertos quaisquer fósseis desta espécie de hominídeo.
Já se sabia que, há dezenas de milhar de anos, os Homo sapiens que saíram do continente africano se cruzaram com Neandertais e os Denisovanos — em 2008 foi descoberto um pequeno osso fossilizado de uma criança, na Sibéria, que permitiu esta descoberta –, duas espécies que coexistiram e se reproduziram em paralelo com os humanos. Agora, portanto, o homem terá mais um antepassado.
É a primeira vez que um estudo avança que o homem se reproduziu com uma terceira espécie. “No total, o fragmento do genoma deste antepassado corresponde a cerca 1,5% do ADN de uma pessoa de Andamão”, resumiu Materia Jaume Bertranpetit, investigador do Instituto de Biologia Evolutiva (CSIC-UPF) de Barcelona, e um dos autores do estudo, ao El País. Falta descobrir quem é, ou foi, esta espécie que se cruzou com o homem no continente asiático.
Algo que deverá ser muito difícil de conseguir, já que, é necessário uma sequenciação total do genoma de ADN. O que apenas é possível caso se descubra um fóssil. “Até descobrirmos um esqueleto que esteja bem preservado, não conseguiremos gerar um genoma como aconteceu com os Denisovanos. A Ásia é um pesadelo em termos do número de diferentes grupos que andavam por lá durante o mesmo tempo”, explicou Alan Cooper, um investigador da Universidade de Adelaide, na Austrália, citado pelo site New Scientist.
Há muito que os cientistas seguiam pistas que indicavam fragmentos de uma quarta espécie no genoma humano atual — além do Homo Sapiens, dos Neandertais e dos Denisovanos. Faltava descobrir a última. E ainda falta, mas, pelos vistos, estamos mais perto.