Uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra está a desenvolver um pâncreas bioartificial com células produtoras de insulina, que estão destruídas ou disfuncionais nos doentes com diabetes, anunciou esta segunda-feira aquela instituição.

A equipa liderada pela investigadora Raquel Seiça “focou-se em melhorar as propriedades biológicas” do dispositivo artificial, desenvolvendo uma “microcápsula” em que as células produtoras de insulina são envolvidas numa matriz de hidrogéis de um polímero natural que mimetiza o “microambiente celular ‘in vivo'”, explica a Universidade de Coimbra (UC), numa nota de imprensa.

Esta técnica “permitiu aumentar a viabilidade e funcionalidade das células encapsuladas e transplantadas”, refere a mesma nota, sublinhando que os sistemas de encapsulamento apresentavam grandes limites no transplante, nomeadamente “a instabilidade dos materiais usados e a sua biocompatibilidade”.

Os resultados das experiências ‘in vitro’ e ‘in vivo’ (em ratos diabéticos) revelaram-se “bastante promissores”, constatando-se uma “melhoria dos níveis da glicose sanguínea e da resistência à ação da insulina” nos animais diabéticos, realçou Raquel Seiça.

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Provada a primeira técnica, “os investigadores avançaram para a criação de um novo modelo, o co-encapsulamento de nanopartículas” de uma hormona intestinal que estimula a produção de insulina e de células insulino-produtoras, “de forma a aumentar a produção e a libertação da hormona”.

Com o encapsulamento das nanopartículas e das células produtoras de insulina, “observou-se um aumento muito significativo da secreção de insulina”, explanou Raquel Seiça, citada na nota de imprensa, sublinhando que está em curso “a realização de novos ensaios em modelos animais”.

No entanto, sublinha a catedrática da UC, “há ainda um longo caminho a percorrer”, nomeadamente “reduzir o tamanho da microcápsula, torná-la ainda mais estável, mais viável e mais funcionante para ser transplantada em humanos”.

Para Raquel Seiça, este tipo de sistemas, caso se tornem viáveis, permitiriam “libertar os doentes com diabetes tipo I das injeções de insulina e alcançar um melhor controlo dos níveis de glicose com a consequente diminuição das complicações agudas e crónicas da doença”.

Em Portugal, a diabetes afeta mais de um milhão de pessoas.

O presente estudo da Faculdade de Medicina teve o seu início há quatro anos, com o projeto de tese de Joana Crisóstomo, em colaboração com o Departamento de Engenharia Química da UC (Jorge Coelho) e Instituto Nacional de Engenharia Biomédica – INEB da Universidade do Porto (Pedro Granja, Cristina Barrias e Bruno Sarmento).