O preço de um dólar norte-americano nas ruas de Luanda voltou a descer na última semana, mais de 8%, para, em média, 560 kwanzas (três euros), mantendo-se três vezes acima da taxa oficial de câmbio.

Os preços foram confirmados esta quarta-feira numa ronda da agência Lusa pelas ruas da capital angolana onde é feito este tipo de negócio, uma prática ilegal, mas a única alternativa face à falta de divisas nos bancos, e contrastam com os 610 kwanzas (3,30 euros) por cada dólar cobrados há uma semana.

As ‘kinguilas’ de Luanda, como são conhecidas as mulheres que se dedicam a este negócio, relataram que na origem da queda geral da cotação do mercado de rua estará alguma falta de “notas de kwanza”, a moeda nacional, para essas transações, compra e venda de moeda estrangeira.

Os receios por parte de quem negoceia, tendo em conta as detenções conhecidas em junho, são agora quase inexistentes.

Na habitual ronda feita pela Lusa foi esta quarta-feira possível encontrar quem vendesse a nota de dólar, no bairro do São Paulo, a 560 kwanzas, enquanto as ‘kinguilas’ do bairro dos Mártires de Kifangondo cobravam 550 kwanzas. Já no bairro do Prenda, igualmente no centro de Luanda, era hoje possível encontrar quem venda a nota de dólar a 580 kwanzas.

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Ainda assim, são preços especulativos de quem vende, que, em muitos casos, como sejam os trabalhadores expatriados, é a única forma de ter acesso a divisas no atual contexto de crise económica, financeira e cambial, decorrente da quebra nas receitas petrolíferas.

O Governo português reconhece que apenas em salários de trabalhadores nacionais em Angola estão retidos, por falta de divisas para concretizar essas transferências, cerca de 160 milhões de euros.

Só desde setembro de 2014, a moeda nacional angolana desvalorizou-se em mais de 40%, face ao dólar norte-americano, para 166 kwanzas para um dólar, à taxa oficial, muito longe dos valores do mercado paralelo.

O Banco Nacional de Angola (BNA) recomendou em maio um “maior controlo e responsabilização dos agentes promotores do mercado informal de moeda estrangeira” por parte da polícia.

O BNA informou na passada sexta-feira que está a trabalhar com os bancos comerciais numa “melhor programação na venda de divisas” para “repor de forma gradual, programada, organizada e prudente” as necessidades de todos os setores da economia.

Em comunicado, o banco central referia ainda que nas últimas semanas tem vindo a realizar reuniões de “auscultação e concertação” com a Associação dos Bancos Comerciais de Angola (ABANC) e com os presidentes ou representantes dos conselhos de administração de 15 bancos angolanos para “partilhar informação sobre os desafios do sistema financeiro”.

O Presidente angolano exigiu a 01 de julho ao BNA que encontre soluções para resolver as dificuldades dos clientes e empresas no acesso a divisas, reconhecendo que no momento atual quem tem dinheiro prefere mantê-lo fora do país.

José Eduardo dos Santos explicou que a venda de divisas aos bancos por parte das empresas petrolíferas estrangeiras que operam no país, para obterem moeda nacional para o pagamento das despesas em Angola, são na ordem dos 300 milhões de dólares por mês e não cobrem atualmente as necessidades, como no passado.

O chefe de Estado disse que o Governo já recomendou ao BNA que “trate desta matéria com urgência”, em articulação com os bancos comerciais, “para melhor proteger os interesses” de Angola.