A Procuradoria-Geral dos EUA anunciou na quinta-feira a revogação da condenação de Ingmar Guandique, um imigrante ilegal do El Salvador, pela morte da estudante universitária Chandra Levy, cujo corpo foi encontrado num parque Washington, D.C., um ano depois de ter sido dada como desaparecida, a 1 de maio de 2001. Na altura do desaparecimento, Chandra Levy mantinha uma relação amorosa com o então congressista democrata, Gary Condit.

Na altura, Gary Condit figurou entre a lista de suspeitos do homicídio de Chandra Levy, que tinha terminado um estágio no Federal Bureau of Prisons, o órgão estatal que supervisiona o sistema penitenciário norte-americano. Chandra Levy e Gary Condit, que tinha mais 30 anos do que ela, mantinham uma relação romântica apesar de o congressista ser casado.

Segundo comunicado das autoridades, a decisão de retirar a condenação de Ingmar Guandique, que já estava preso na altura do julgamento por outros homicídios e que foi condenado a 60 anos pela morte de Chandra Levy, surgiu depois de “desenvolvimentos recentes e imprevistos”. Além disso, anunciou que vai abrir um novo processo para averiguar quem matou a jovem de 24 anos.

Testemunha-chave afinal é “caluniador facilmente manipulável”

O último volte-face deste caso que no ano de 2001 foi seguido com particular atenção nos EUA deu-se depois de a veracidade do depoimento de Armando Morales, uma das testemunhas-chave do caso ter sido posto em causa. Armando Morales e Ingmar Guandique conheceram-se na prisão em 2006, enquanto cumpriam pena. Em tribunal, já no ano de 2010, Armando Morales assegurou que o seu companheiro de cela lhe tinha confessado que tinha matado Chandra Levy. Em tribunal, disse que Ingmar lhe tinha dito um dia: “Meu, eu matei a p***, mas não a violei”.

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Ingmar Guandique estava preso pelo homicídio de outras duas mulheres no parte de Rock Creek, o mesmo onde Chandra Levy foi morta. Na altura do julgamento, as autoridades concluíram que a morte daquela jovem tinha semelhanças inegáveis com os dois outros homicídios, que Ingmar Guandique confessou em tribunal.

O caminho para as autoridades chegarem a esta recente conclusão surgiu de uma forma pouco provável. Segundo o Washington Post, uma mulher chamada Babs Proller terá sido fulcral. Proller conheceu Morales quando ela tinha acabado de se mudar para o mesmo prédio do que a testemunha-chave do caso da morte de Chandra Levy. Quando Proller ficou a saber que Morales já tinha estado preso e que tinha feito parte de gangues, começou a gravar às escondidas todas as conversas que mantinha com ele. E foi numa dessas ocasiões que Morales lhe confessou um segredo: o seu depoimento, fulcral para a condenação a 60 anos por homicídio para Ingmar Guandique, era falso.

“O senhor Guandique tem mantido desde o início, quando passou um teste de deteção de mentiras administrado pelo FBI, que não tinha matado a senhora Levy”, referiu a advogada de Guandique, Laura Hankins, num comunicado por escrito. “Agora tornou-se claro que o informador dentro da prisão, que foi essencial para a acusação pública, era um caluniador facilmente manipulável pelos procuradores.”

Defesa de Guandique aponta o dedo a congressista

Segundo o Washington Post, a equipa de defesa de Ingmar Guandique prepara-se para apresentar em tribunal uma estratégia que aponta para a culpabilidade de “Condit ou outros”.

Em comunicado, o advogado do ex-congressista, que saiu da política depois de ter perdido as eleições primárias para se recandidatar ao Congresso em 2003, disse estar “extremamente desiludido” com a retirada da acusação e com a reabertura do caso. “O falhanço das autoridades em trazer um fim para esta tragédia 15 anos depois é uma desilusão muito grande mas que, de nenhuma maneira, altera o facto de o senhor Condit ter sido há muito tempo exonerado pelas autoridades de qualquer relação com a morte da senhora Levy”, lê-se nesse documento.

Também em comunicado, a mãe de Chandra Levy disse apenas “desejar apenas que apanhem a pessoa certa, quem quer que tenha feito aquilo à minha filha”. “Mesmo que seja feita justiça, isso não vai devolver paz a uma família que foi quebrada por um crime horrendo como este.”