Comerciantes do Mercado do Bolhão, no Porto, acreditam que a obra de remodelação e modernização “agora vai”, tendo em conta que a autarquia agendou o início dos trabalhos para segunda-feira, após mais de três décadas de avanços e recuos.

“Eu estou convencida que agora arranca. Ou vai ou racha, mais mês, menos mês a obra vai ser feita”, declarou à Lusa Ernestina Barros, 82 anos e há 70 a trabalhar na Manteigaria do Bolhão. A vendedora acredita que ainda vai ter saúde para ver o Bolhão renovado e que ainda vai trabalhar no edifício modernizado.

As obras subterrâneas do Mercado do Bolhão estão agendadas para arrancarem na próxima segunda-feira, com as máquinas avançarem no exterior e no subsolo para desvio de várias infraestruturas e de uma linha de água que atravessa todo o imóvel para as ruas Sá da Bandeira e Fernandes Tomás.

A Câmara do Porto aponta a conclusão da modernização do Bolhão, edifício icónico da cidade do Porto, para 2019 e refere que a primeira empreitada relativa ao desvio de uma linha de água demore oito meses.

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A duração total da obra está estimada em dois anos, o que obrigará a realojar os vendedores num mercado temporário no primeiro trimestre de 2017. O realojamento é no piso inferior do centro comercial La Vie e os custos rondam 1,5 milhões de euros.

Após mais de três décadas de avanços e recuos para recuperar o Bolhão, Marília Brandão, 74 anos, vendedora de carne de aves no naquele mercado, diz que sempre acreditou que a obra nascia na era de Rui Moreira.

“Nestes 30 anos, agora não ponho dúvidas que desta vez a obra nasce. Estou convencida, até porque as obras do desvio das águas começam na segunda-feira. Agora vai! E só queria que Deus me deixasse ver o novo Bolhão, que vai ser inspirado no velho”, diz Marília Brandão.

O regresso ao novo Bolhão vai depender da saúde, admite, Marília Brandão. “Eu sou realista, otimismo é outra coisa e não sei se perto dos 80 anos vou conseguir começar uma nova profissão com horários das 8h00 às 20h00”, explica, reconhecendo que “só por amor ao Bolhão” é que voltará àquele edifício renovado.

Se tudo correr como a autarquia prevê, a empreitada termina em 2019, depois de 27 milhões de euros investidos.

Os trabalhos vão provocar alguns constrangimentos no trânsito, designadamente o corte da rua Fernandes Tomás, entre as ruas Alexandre Braga e Sá da Bandeira. E a rua Formosa passa a ter dois sentidos no troço entre Sá da Bandeira e Alexandre Braga. Por outro lado, a rua Sá da Bandeira verá eliminado um dos sentidos de circulação no troço compreendido entre as ruas Formosa e Fernandes Tomás.

A empreitada de restauro e modernização do Bolhão terá início no 2.º trimestre de 2017, bem como a construção de um túnel de acesso a uma cave logística no mercado – para cargas/descargas –, que terá início na rua do Ateneu Comercial do Porto.

No Mercado do Bolhão, edifício classificado como monumento de interesse público em 2013, há atualmente 129 comerciantes, com uma média de idade na casa dos 67 anos — 47% deles já ultrapassou a idade de reforma.

O futuro do Bolhão é continuar a ser um espaço público e a funcionar como um mercado de frescos na zona do terrado. No piso superior prevê-se uma zona de restauração e cafés e uma área que poderá se usada para a venda de produtos sazonais, na ala norte, junto à entrada pela Rua Fernandes Tomás.

O mercado vai ser dotado de aquecimento artificial para o inverno, de coberturas no piso inferior, acesso direto ao metro e cave técnica com acesso para cargas e descargas a partir da rua Alexandre Braga.

Em janeiro deste ano foi anunciado que o concurso público para a requalificação do mercado seria lançado até final de março de 2016 e, já este mês de julho, foi comunicado pela Câmara do Porto que as obras de reabilitação do Bolhão iam iniciar-se a 01 de agosto.

O responsável pelo projeto do Bolhão é o arquiteto Nuno Valentim, docente na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, que vai coordenar a equipa externa, em conjunto com técnicos da Câmara do Porto.

O projeto, cuja apresentação pública foi feita no passado dia 22 de abril, numa sessão que contou com a participação do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, do vereador do Urbanismo, Manuel Correia Fernandes e do arquiteto responsável pelo projeto, privilegiou soluções tecnológicas atuais, o conforto dos comerciantes e visitantes, a segurança humana e alimentar, redes de eletricidade, esgotos, frio e aquecimento modernas.

As origens do mercado remontam a 1839, quando a Câmara do Porto decidiu construir uma praça em terrenos adquiridos e nesse local existia um lameiro, atravessado por um regato que ali formava uma bolha de água, daí resultando o nome ‘Bolhão’.