O proto-indo-europeu é o idioma baseado numa reconstrução linguística das chamadas línguas indo-europeias (um grupo de cerca de 445 idiomas do qual fazem parte o português, o inglês, o bengali ou o russo, por exemplo). Apesar de não existirem registos escritos desta língua, os investigadores conseguiram agora perceber como seriam os seus sons.

Através de um inovador método estatístico que analisa a vibração produzida pela vocalização das palavras, estatísticos da Universidade de Cambridge e especialistas em fonética e linguistas da Universidade de Oxford conseguiram deduzir a que soaria o idioma mãe de centenas de línguas — algumas faladas e outras extintas, usadas por pessoas que viviam entre o ano 6 mil e 3.500 a.C. nas estepes do norte do Mar Cáspio.

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“Os sons têm forma”, disse John Aston, do Laboratório de Estatística da Universidade de Cambridge em comunicado. Quando uma palavra é pronunciada, o ar vibra e esta vibração produz uma onda sonora que pode ser medida e traduzida numa série de números explicou o especialista.

Quando uma palavra é dita numa língua, esta produz uma determinada onda sonora e quando a mesma palavra é dita noutra língua (ou numa língua mais antiga), o resultado é uma onda sonora diferente.

A tradução dos números das ondas de som de diferentes palavras permitiu aos investigadores fazer uma triangulação do som e apontar para uma possível origem comum das mesmas. Desde o século XIX que o estudo do proto-indo-europeu era feito através da reconstrução da forma escrita das palavras das línguas consideradas “filhas”.

Desta vez, os investigadores recorreram a gravações de áudio (atuais e de arquivo) e tentaram reconstruir os sons para perceber como poderiam soar versões anteriores das mesmas palavras. A comparação das ondas de som de cada palavra foi feita recorrendo a uma área relativamente nova da matemática baseada na análise de formas, ou seja, na sua representação tridimensional (também conhecido por espectograma).

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Espectogramas que representam a comparação das ondas sonoras da palavra “um” do francês ao italiano.

Estes espectrogramas em forma de onda representam a forma desses sons, que depois foram remodelados recorrendo a uma trajetória desenhada recorrendo a sons conhecidos. Os investigadores começaram o trabalho de investigação pelas palavras que significam números porque têm o mesmo significado em idiomas diferentes.

Até agora a “simulação reversa” que vai mais atrás no tempo realizada recua 8 mil anos e vai do inglês “one” (um) até à palavra que terá estado na sua origem “oinos“. Clique para ouvir: