“Este não é como os outros.” A expressão pode até soar algo discriminadora, é certo — estaremos a pôr todos os restaurantes indianos de Lisboa no mesmo saco? — mas é a que melhor define, em quatro palavras, o novo — abriu há cerca de duas semanas — Costa do Malabar, especializado na gastronomia típica do sudoeste da Índia, sobretudo da região de Kerala, mas também das de Tamil Nadu, Andhra Pradesh, Karnataka e Telangana.
Sunilkumar Bhaskaran, o dono, pega num papel e desenha um mapa improvisado do seu país para melhor explicar essa singularidade. Primeiro, assinala a capital Nova Deli, no norte, e faz um círculo à volta: “A maioria dos restaurantes indianos fora da Índia fazem pratos desta região”, diz. Depois, sublinha a costa sudoeste do país com entusiasmo. “Esta é a nossa Costa do Malabar, que é rica em especiarias com propriedades medicinais, ayurvédicas. Os portugueses documentaram tudo há 400 anos, sabe?”
Uma pesquisa rápida confirma o feito: o livro Hortus Malabaricus, publicado no final do século XVII, é uma espécie de glossário medicinal da dita costa e apesar de ter autoria holandesa contou com o precioso contributo dos portugueses que, naquela época, já tinham estudado matéria semelhante, como Garcia de Orta.
Percebe-se assim o porquê de o extenso menu do Costa do Malabar ser farto em receitas inéditas por estas paragens. Casos da Dosa, um crepe de arroz e lentilhas que pode ser recheado de diversas formas, do Puttu, um cilindro de arroz, cozido a vapor, com camadas de coco, do Utthapam, a que chamam a pizza indiana, dos diversos pães, pratos com mandioca ou ainda dos caris feitos à moda de Kerala, dos inúmeros pratos de peixe e marisco (afinal, trata-se de uma zona costeira), dos biriyani típicos do Malabar e até dos arrozes que servem de acompanhamento, que podem ser de coco, limão, pulao (com vegetais), de tomate ou de iogurte com mostarda e pimenta verde, que é servido frio. Tudo isto a preços que já não se praticam: uma refeição completa, com bebidas, fica em cerca de 10€ por pessoa.
“A nossa comida não é tão picante como noutras regiões. É mais aromática por causa das ervas”, explica o responsável. Mesmo assim, nestes primeiros tempos a cozinha tem reduzido a dose habitual de picante para se adaptar (melhor) ao paladar dos lisboetas. Daí parecer, à primeira prova, ainda menos picante do que seria de esperar. “Perguntem antes de servir”, aconselhamos. É que não deve faltar quem queira experimentar com tudo a que tem direito. Picante incluído. Os cozinheiros aceitam a dica. Sunil acena. E por falar nele: como é que um homem do Sul da Índia decide abrir uma casa destas em Lisboa? Palavra ao próprio:
Desde 2009 que tenho trabalhado em vários restaurantes entre Lisboa e Cascais. Há muita gente que, ao falar comigo, quando percebe que sou de Kerala pergunta-me logo se sei fazer Malabar Biriyani ou Masala Dosa, porque já provaram ou ouviram falar desses pratos. Então pensei que havia uma oportunidade aqui para servir a estas pessoas a melhor comida da minha região.”
E se pensou, em boa hora agiu. Agora, tal como Vasco da Gama fez em 1498, quando chegou a Calecute, em plena Costa do Malabar, abrindo assim a rota marítima para a Índia, cabe aos lisboetas soltarem o espírito descobridor que há em si. Desta vez, contudo, sem bússola nem quadrante, muito menos astrolábio. Chega o garfo e faca.
Nome: Costa do Malabar
Morada: Rua Rosa Damasceno, 6A (Alameda), Lisboa
Telefone: 21 093 2433 / 91 435 8835
Horário: Todos os dias, das 11h30 às 15h e das 18h30 às 22h30
Preço Médio: 10€
Reservas: Aceitam
Site: www.costadomalabar.com ; facebook.com/CostaMalabarLisboa