Usar fio dental na higiene bocal é uma recomendação ouvida frequentemente nos consultórios de dentistas, um pouco por todo o mundo. Mas uma pesquisa da Associated Press, que tentou encontrar trabalhos académicos que suportem a recomendação, chegou à surpreendente conclusão de que não existem estudos específicos sobre esta matéria.

A pesquisa feita pela Associated Press partiu do facto de a American Dental Association defender, oficialmente, que “usar fio dental é essencial para proteger os dentes e as gengivas”. A agência noticiosa perguntou aos organismos públicos quais eram os estudos que suportavam essa recomendação — legalmente, os estudos têm de existir — e, pouco tempo depois, estranhou o facto de as recomendações de uso de fio dental terem, sem aviso, desaparecido das instruções federais de saúde no ano seguinte.

Numa carta enviada à Associated Press, mais tarde, o governo admitiu que a eficácia do fio dental nunca foi devidamente estudada.

A agência de notícias leu os 25 estudos mais influentes sobre o assunto e concluiu que os resultados eram inconclusivos, já que as investigações tinham sido feitas com métodos arcaicos, com poucas pessoas ou durante pouco tempo. Um dos estudos usou apenas 25 pessoas e tirou as conclusões depois de terem usado fio dental apenas uma vez. Outro durou apenas duas semanas, que não é suficiente para desenvolver cáries ou inflamações nas gengivas, os problemas que o fio dental deve prevenir.

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O que se conclui é que “a maioria dos estudos disponíveis não demonstram que usar fio dental é eficiente na remoção de placa”.

Note-se que, apesar de poder não trazer assim tantos benefícios como parece, os riscos do fio dental são poucos, por isso o seu uso continua a ser recomendado. No entanto, a má utilização pode causar danos nas gengivas ou nos dentes, que podem provocar infeções perigosas devido à assimilação de bactérias perigosas para a corrente sanguínea. Estes casos são raros e afetam principalmente quem tem o sistema imunitário fragilizado. O fio dental deve ser usado em movimentos ascendentes e descendentes e com cuidado, para evitar lesões nas gengivas.

O Observador questionou a Ordem dos Médicos Dentistas sobre as recomendações de higiene oral e a Ordem destacou como rotina básica fundamental “escovar os dentes duas vezes por dia com um dentífrico fluoretado durante cerca de dois minutos” e “consultar um médico dentista regularmente, duas vezes por ano”. Sobre o uso de fio dental, defendem que é importante para a “higienização dos espaços interdentários” para “cuidar adequadamente dos seus dentes e das suas gengivas”. No entanto, ressalvam que o espaço entre os dentes pode ser higienizado também com escovilhões interdentários e higienização profissional.

O responsável da Ordem diz ainda que “a higienização diária dos espaços interdentários onde a escova não chega, é fundamental para a remoção dos resíduos alimentares que, por ação das bactérias patogénicas, podem facilitar o aparecimento de cárie dentária e doença gengival. A Ordem dos Médicos Dentistas recomenda naturalmente ao público os procedimentos que decorrem de toda a evidência científica e clínica e boas práticas profissionais.”