Um em cada cinco pais e mães na Alemanha arrependem-se de terem tido filhos e optariam por viver sem descendentes se pudessem escolher novamente, concluiu um estudo alemão.

“Eu arrependo-me bastante de ter tido um filho”, disse uma mãe que respondeu ao inquérito conduzido por Holger Geissler e Sonja Laude da YouGov, uma empresa de pesquisas de mercado ‘online’.

O estudo, publicado no final de julho, perguntou a 2.045 pessoas se prefeririam viver sem filhos caso pudessem optar novamente e o resultado mostrou que 19% das mães e 20% dos pais escolheriam não ter filhos, apesar de 77% dos pais afirmarem que a experiência da parentalidade é motivo de satisfação.

“É importante referir que a maioria dos 20% é considerada ambivalente, ou seja, por um lado os pais arrependem-se de terem tido filhos por várias razões, mas por outro também veem coisas positivas na parentalidade porque amam os seus filhos”, disse Holger Geissler em entrevista à agência Lusa em Berlim.

Geissler referiu que as razões para o arrependimento estão relacionadas com carreira e desenvolvimento pessoal.

“Eles têm a perceção de que as suas carreiras teriam sido muito melhores caso não tivessem filhos”, disse Geissler, acrescentando que o estudo mostra que 44% das mães e 20% dos pais apontaram a carreira como fator de arrependimento.

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O desenvolvimento pessoal também influenciou as respostas ao inquérito, com 52% a dizerem que tiveram momentos das suas vidas restringidos pela parentalidade.

Geissler acrescentou que “a percentagem de pais e mães solteiros arrependidos é maior” quando comparada com progenitores que criaram os filhos com um parceiro, tal como entre famílias com baixos rendimentos, em comparação com famílias com uma vida mais desafogada.

Pais considerados jovens, entre os 18 e 24 anos, tiveram níveis de arrependimento mais altos do que pais mais velhos, mostra o estudo. A idade média de nascimento do primeiro filho na Alemanha é de 28 anos.

O investigador referiu que “a principal coisa a ser feita [por parte do governo] é melhorar o apoio aos pais por parte de instituições como colégios”, já que 64% dos entrevistados manifestaram a opinião de que a Alemanha tem poucas opções de locais onde deixar as crianças enquanto os pais trabalham.

“Em algumas zonas da Alemanha é realmente muito difícil encontrar um jardim-de-infância para crianças até um ano de idade. No estudo, quem teve problemas com creches, tem mais probabilidade de se arrepender”, referiu Holger Geissler, pai de quatro crianças.

O investigador disse que a equipa ficou surpreendida com o facto de a percentagem de homens e mulheres que se arrepende de ter tido filhos ser muito semelhante porque “apesar de não termos uma grande pressão social na Alemanha para as mulheres terem filhos, ainda existe alguma, no sentido de que uma mulher é vista como completa apenas depois de ter sido mãe”.

Números do Departamento Federal de Estatística da Alemanha (Destatis) indicam que 2015 nasceram mais crianças na Alemanha do que nos 15 anos anteriores, mas a taxa de natalidade alemã permanece entre as mais baixas do mundo, ficando abaixo de países como o Japão.