A conversa de que a natureza nos faz bem não é nova — até certo ponto, é algo que sempre suspeitámos sem precisar de provas. Mas até nisso a ciência meteu o bedelho ao esclarecer que o simples ato de percorrer trilhos ou de caminhar sob um manto de árvores é uma forma de aliviar o stress, além de ter benefícios físicos. Sim, leu bem: desta vez o convite passa por sair temporariamente da praia (ainda que a vitamina D também seja precisa) ou do escritório e ir passear na floresta mais próxima.

O segredo de algo que, à partida, parece tão simples está na expressão “Shinrin-yoku” que significa qualquer coisa como “banhos de floresta”, ou seja, passar tempo em cenários verdes com atenção plena (mindfulness, em inglês). O termo foi desenvolvido no Japão na década de 1980 e, desde então, ganhou fama e importância na medicina do país. Há inclusive uma organização com o nome “Shinrin-yoku” apostada em promover o seguinte lema: “Vá a uma floresta. Ande devagar. Respire.”

A lista de artigos científicos que sustenta o termo e a sua prática é vasta, até porque nas últimas décadas têm surgido estudos que demonstram os benefícios para a saúde que o contacto com a natureza proporciona: desde fortalecer o funcionamento do sistema imunitário ou reduzir a pressão sanguínea à melhoria do humor e do sono, bem como o aumento de energia. A ideia principal parece assentar no facto de as árvores libertarem uma espécie de composto que estimula as células NK (do inglês Natural Killer Cell), que têm um papel importante no combate a infeções virais e células cancerígenas.

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Mas há mais coisas a dizer. Um estudo japonês de 2010 descobriu que pessoas expostas a florestas apresentam traços mais favoráveis quando comparadas com indivíduos que preferem centros urbanos. Ou seja, os amantes da natureza têm uma menor concentração de cortisol — hormona associada ao stress –, um batimento cardíaco menos acelerado e menor pressão arterial.

Esta terapia verde é também capaz de melhor a criatividade e a atenção, com uma pesquisa — desta vez da Universidade do Kansas e da Universidade do Utah — a concluir que quem pratica caminhadas ou gosta de acampar tem uma performance mais eficiente (50%) ao resolver problemas de forma criativa do que quem não se dedica a estes hábitos. A isso acrescenta-se ainda outro estudo norte-americano que descobriu que 20 minutos a passear em parques (por oposição a caminhadas em áreas residenciais) aumenta mais o tempo de atenção de crianças com Hiperatividade com Défice de Atenção do que tomar o medicamento Ritalin.

Outra solução parece ser tomar conta do jardim e das suas plantas, com um relatório recente a dar conta dos benefícios físicos e psicológicos da jardinagem — desde poder aliviar a dor provocada pela artrite a ter um impacto positivo no bem-estar e também no humor.

Com ou sem quintal à porta de casa ou acesso a hortas urbanas, há sempre parques que merecem uma visita, seja o da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, ou o de Serralves, no Porto. Esperemos é que, até sair de casa para uma caminhada, os fogos que assolam o país já estejam controlados.