O pregador islamita Fethullah Gulen, acusado pelo presidente da Turquia de instigar a tentativa de golpe de Estado de 15 de julho, voltou a negar a acusação e pediu que os factos sejam investigados por uma comissão internacional.

“Peço que uma comissão internacional independente investigue esta tentativa de golpe de Estado. Se uma décima parte das acusações contra mim for demonstrada, comprometo-me a regressar à Turquia e a receber a pena mais dura”, afirmou Gulen num artigo de opinião publicado hoje pelo diário francês Le Monde.

“As probabilidades de ter um processo justo” na Turquia “são quase nulas”, disse, frisando que “desde outubro de 2014 o sistema judicial está sob a tutela do poder”.

O pregador, autoexilado nos Estados Unidos desde 1999, afirmou que condenou o golpe desde o primeiro momento e assegurou que o movimento que fundou, o Hizmet, não pretende o poder.

Se algum dos seguidores do seu movimento esteve implicado na tentativa de golpe, afirmou, trata-se de “traidores”, que “provocaram danos à unidade e à integridade do país” e “devem ser castigados com as penas que merecem num processo justo”.

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Gulen acusou por outro lado o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de ter aproveitado a tentativa de golpe para acentuar a repressão do seu movimento, iniciada em 2013, e qualificou de suspeita “a celeridade” com que Erdogan o apontou como instigador, quando “nenhum pormenor, nenhum motivo” estava ainda esclarecido.

“Esta tentativa de golpe de Estado é a ocasião de o governo turco provar todas as alegações contra mim”, disse, acusando Erdogan de levar a cabo “um genocídio” contra os membros do seu movimento, cujos bens foram confiscados, contas bancárias bloqueadas e passaportes anulados.

“É um drama humanitário […] Quase 90.000 pessoas perderam o emprego, 21.000 professores ficaram sem autorização para ensinar”, disse.

Gulen admitiu que no início apoiou o partido de Erdogan, o AKP, apesar das reservas que lhe suscita o islão político, mas afastou-se porque o presidente “domesticou a imprensa e a oposição” na Turquia.

A tentativa de golpe de 15 de julho, afirmou, foi “a maior catástrofe da histórica recente” do país e “o pior ato terrorista perpetrado no seu território”.

Na sua opinião, a reação do povo à tentativa de golpe impediu que este triunfasse, mas “não foi suficiente para podermos falar de uma vitória da democracia”, porque “nem o domínio da minoria, nem da maioria, nem o autoritarismo eleito representam a democracia autêntica”.