O triplo salto é como a personalidade dela. É assim que Patrícia Mamona define a queda para esta modalidade. Não é fácil, não é básica; é mais técnica e bonita. É mais complexa do que o salto em comprimento. A atleta do Sporting é a campeã da Europa, feito conquistado há um mês sensivelmente (10/07), em Amesterdão. E isso não é para esquecer em vésperas de estreia nos Jogos Olímpicos.

“Não é passado”, trava as ideias de um jornalista, nas imediações da Aldeia Olímpica. “Esse título já ninguém me tira. É motivação extra, estou muito orgulhosa do que fiz.” Patrícia Mamona voou 14,58 metros na capital holandesa e ficou a saber a que pesa o ouro no pescoço — é o recorde nacional. No passado, apenas soube a que sabia a prata: foi em Helsínquia, nos Europeus, com um salto de 14,52 metros. Tinha 23 anos.

Números no Triplo Salto

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– Juventude Operária do Monte Abraão: 2002-2010
Sporting: 2010-…

– Recordista nacional: 14,58, Julho de 2016

– Medalha de prata no Campeonato da Europa (Helsínquia, 2012)

– 13.º lugar nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012

– 9 vezes campeã de Portugal de Pista (2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016)

– 5 vezes campeão de Portugal em Pista Coberta (2012, 2013, 2014, 2015 e 2016)

– 1 vitória na Taça dos Clubes Campeões Europeus de Pista (2016)

– 6 vitórias no Campeonato Nacional de Clubes de Pista (2011, 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016)

– 6 vitórias no Campeonato Nacional de Clube de Pista Coberta (2011, 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016)

Há quatro anos, quando o vento parecia estar a favor, não passou do 13º lugar nos JO, a cinco centímetros da final. Admitiu depois que se sentiu nervosa como nunca. Nessa altura, em entrevista ao Público antes dos Jogos de Londres, olhou para o Rio de Janeiro, à distância de quatro anos, e piscou o olho aos 15 metros.

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“Quem sabe daqui a quatro anos… Nos Jogos Olímpicos do Brasil talvez possa ser uma candidata à medalha… Estou no bom caminho”, disse então. O futuro chegou, Patrícia. Bem-vinda. Sábado arranca, à hora de almoço portuguesa (12h em Portugal), a qualificação para a final do triplo salto. Para Mamona, disse aos jornalistas no Rio de Janeiro, não interessa pensar na final, nem em altos voos, antes de tratar de passar a qualificação.

“Venho aqui com motivação e grande inspiração para saltar muito. Temos de ir passo a passo. É importante para a mim passar a qualificação, há quatro anos não consegui”, lembra.

O que muda, afinal, de Londres (JO 2012) para o Rio de Janeiro? Que Patrícia é esta? “É uma rapariga com mais experiência, que já não fica tão nervosa nas competições de alto nível e por estar a competir com as melhores do mundo. É mais concentrada, mais focada e bastante motivada por sentir o apoio todos portugueses”, esclarece.

Patrícia “Eclética” Mamona

Patrícia Mbengani Bravo Mamona tem ascendência angolana e nasceu em novembro de 1988, em Lisboa. Era rebelde quando era miúda e chegava a fugir de casa para treinar, admitiu na tal entrevista ao Público. A paixão pelo atletismo começou na escola, depois de ganhar o corta-mato. O triplo salto veio depois. Alinhou entre 2002 e 2010 com o Juventude Operária do Monte Abraão, onde ganhou três campeonatos nacionais. Em 2010 mudou-se para o clube de Alvalade.

Pelo meio, em 2005 (juvenis), bateu recordes nacionais de… 100 metros barreiras (13,79s) e de salto em comprimento (6,16m), conta o WikiSporting. A rapariga era eclética. Antes disso, já reinava no triplo salto: em 2003 bateu o recorde nacional de iniciados (11,69m); nos juvenis melhorou oito vezes o seu recorde, fazendo-o estacionar nos 12,87m. Foi no Campeonato do Mundo de Juvenis, em Marrocos, onde terminou em sétimo lugar. Nos 100 metros barreiras chegou às meias-finais.

Mais tarde investiu numa carreira académica, em Engenharia Biomédica, e mudou-se para os Estados Unidos, em 2008. A sua casa foi, durante alguns anos, a Carolina do Sul, onde frequentou a Universidade Clemson. Teve experiências no atletismo a nível universitário, enquanto continuava a participar nas provas maiores de Portugal.