Entraram para os últimos 250 metros com a medalha de prata ao pescoço. Estavam sólidos, acompanhavam deste início os alemães, os principais favoritos. Portugal procurava repetir o que fizera em 2012, nos Jogos Olímpicos de Londres: vencer uma medalha em K2 1000m. Na altura, Emanuel Silva fazia dupla com Fernando Pimenta. Desta vez foi com João Ribeiro, que se estreava em JO.

Os portugueses cumpriram os primeiros 250 metros em 44.82 segundos, o que lhes dava o terceiro lugar. Ao dobrar a distância, o cronómetro cantava 1:33.58, mantendo-se o terceiro posto. A seguir veio a pedalada: 750m em segundo lugar, com 2:23.54. Estavam na bulha pelas medalhas. O ouro, no entanto, já era quase missão impossível: os alemães Max Rendschmidt e Marcus Gross já ganhavam praticamente dois segundos.

Começa o sufoco angustiante dos últimos 250 metros. Parece lento e rápido ao mesmo tempo, os braços não quebram, os troncos não curvam. Continuam rijos como o aço. As setinhas nas TVs no recinto permitiam confirmar que estávamos a comprar bilhete para uma viagem ao pódio, até que os australianos dão um salto de canguru na classificação e roubam o pódio aos lusos. Emanuel Silva confirmaria no final que só deu por essa agreste novidade “depois de cortar a meta”.

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Final de K2 1000m

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  1. Alemanha (3:10.781)
  2. Sérvia (3:10.969)
  3. Austrália (3:12.593)
  4. Portugal (3:12.889)

Conclusão: Portugal em quarto lugar (3:12.889), Austrália em terceiro (3:12.593) e a Sérvia (3:10.969). Em primeiro, os reis da Lagoa Rodrigo de Freitas, foram os alemães, com 3:10.781. A dupla germânica esteve sempre, sempre em primeiro lugar. Nos primeiros 250 metros fizeram 44.32 segundos; aos 500m registavam 1:32.79; e nos 750 o cronómetro marcava 2:21.51 segundos. Um senhor ritmo, portanto.

Emanuel Silva e João Ribeiro estavam tranquilos no fim, deram tudo. O primeiro foi mais duro, pois quem está habituado a ganhar e fazer mossa nas competições internacionais é assim mesmo. Afinal, meteu uma prata no bolso em 2012. Ele sabe do que fala. “O quarto lugar é o primeiro lugar dos últimos, infelizmente”, foi uma das suas primeiras frases. Implacável. “Só depois de cortar a meta é que reparei que tínhamos sido ultrapassados pelos australianos. Durante a prova sabíamos que íamos nos lugares da frente, tive de acreditar”, admite.

A seguir confidenciou que o colega, João Ribeiro, tinha indicações específicas para não olhar para o lado, para não se perder ou ser intoxicado por andamentos alheios. “O João tinha ordens para seguir o meu ritmo, a minha estratégia. Foi quase perfeito. Perfeito seria uma medalha. É frustrante. Por 28 centésimos de segundo se ganha, por 28 centésimos de segundo se perde. Hoje não foi dia das medalhas para Portugal. Não vou dizer que estou triste, estou contente. Estou um bocado frustrado. É um misturar de sensações e emoções. Agora é descansar, amanhã nasce um novo dia, novas oportunidades. Temos o K4.”

Portugal volta a entrar em ação sexta-feira (a partir das 13h51 em Portugal), em K4. Ou seja, estarão todos a bordo, para o bem e para o mal. Enquanto o Observador esperava pela dupla de K2 na zona mista, Fernando Pimenta ia deixando a mensagem de confiança para o dia seguinte. Falou em fúria. Vão entrar na água furiosos. O que é isso, Emanuel?

“Em todos os barcos que entro, entro sempre com raiva, furioso. É esse o meu instinto animalesco, em cada pagaiada que dou. Nunca fico satisfeito com os resultados. Tenho 31 anos e não estou cansado disto. Cada vez me dá mais prazer representar o meu país e os portugueses. É um enorme orgulho. Cada tripulação que faço, vou com tudo.”

João Ribeiro, estreante nestas andanças, disse que ninguém tremeu. “Não senti pressão. Disse ontem à minha família que parecia que estava numa competição regional. Estava super descontraído. Às vezes, quando estamos nervosos, o barco treme um bocadinho antes da largada. Não tremeu”, explica. “Fizemos tudo perfeito, não deu por pouco. Aos 500 metros queríamos dar mais um bocadinho, conseguimos manter. O desporto é mesmo assim. É esta adrenalina que gostamos.”

Quanto à competição K4, que o junta a Fernando Pimenta, Emanuel Silva e Hélder Silva (5º na Final B de C1 200m), João Ribeiro está confiante num bom resultado. “Vamos estar bem. Trabalhámos muito, preparamo-nos e sabíamos que ia ser assim.Vamos recuperar, descontrair. Amanhã vamos estar fortes, com certeza.”

Hélder Silva não estava feliz com o seu 13º em C1 200 metros. “O balanço não é positivo. Nunca tinha falhado nenhuma Final A, nem em Campeonatos do Mundo, nem da Europa, nem em Taças do Mundo. Foi a minha primeira Final B”, conta. “Saio daqui triste. Dei o meu melhor, mas não chegou. Há dias assim. Ontem foi um deles [semi-final]. Hoje, se calhar, estava um pouco melhor, mas mesmo assim não chegou…”