O português Fernando Pimenta lembrou esta sexta-feira os sacrifícios que faz diariamente para praticar canoagem e afirmou que algumas pessoas que criticam só se lembram das modalidades nos Jogos Olímpicos. “Não fico triste quando leio comentários negativos, porque existe falta de cultura por parte de algumas pessoas, que devem ser perdoadas. Talvez nunca tenham ido à escola, talvez sejam um pouco analfabetas, talvez só se preocupem com modalidades na altura dos Jogos Olímpicos”, disse Fernando Pimenta.

Depois do apuramento do K4 para a final, o quinto classificado em K1 1000 afirmou que os que criticam “provavelmente nunca viram desporto sem ser o futebol”.

“Eu acho engraçado. Sinceramente, vejo esses comentários e começo a rir. Às vezes dá-me vontade de chorar, mas é de [chorar a] rir, porque vê-se claramente que as pessoas não têm noção do que é desporto, do que é passar um inverno completo dentro de um rio, acordar às 7h para fazer treinos de natação, ir para o rio com dois ou três graus de temperatura”.

Fernando Pimenta não se deteve: “Nos dias chuvosos em que o pessoal gosta de estar durante o domingo instalado no sofá a ver um bom programa de televisão, um bom filme, nós não podemos, nós estamos dentro de água, a andar de bicicleta, a treinar, nós vamos correr, fazemos natação, fazemos ginásio. Nota-se que as pessoas não sabem os nossos currículos”.

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O canoísta luso diz que, nas redes sociais, não fez qualquer publicação após o K1, optando por deixar as coisas rolar, acrescentando que nem abriu mensagens, só viu os títulos. “Recebi centenas de mensagens. Gosto só de dar uma vista de olhos para ver como estão os adversários, os restantes portugueses e, claro, de vez em quando aparecem esses comentários, essas crónicas de senhores que se acham senhores. E eu acho piada. Isso a mim dá-me ainda mais garra, mais vontade. Continuem, se se sentem felizes, continuem”, disse.

Pimenta deixou também elogios para o ciclista Rui Costa, que lhe deixou uma carta aberta solidária: “Ainda nem agradeci ao Rui. É dos atletas que tenho como referência, como o Nelson (Évora), a Telma (Monteiro), o Rui Bragança”.

“Vários atletas aqui presentes e outros que não vieram cá aos jogos, para mim, são atletas de referência, exemplos, são ídolos, porque representam a alma, a verdadeira essência do que é Portugal, do que são os portugueses, conquistadores, ambiciosos, corajosos, destemidos, que não têm medo de dar tudo por tudo para conseguirem um bom resultado, não só para eles como por Portugal”, prosseguiu Pimenta.

O canoísta luso prometeu um post para o final: “No final dos Jogos, quando me sentar, tranquilo, vou escrever qualquer coisa, mas de uma forma serena, fria. É isso que tenho aprendido com o desporto, controlar muito as emoções, gerir essas emoções e, depois, no momento certo, dar as respostas, mas sempre com muita classe”.

No Rio 2016, a canoagem ainda não conseguiu qualquer medalha, mas soma um quarto lugar, um quinto e o K4 está na final, marcada para sábado. “Eu gostava que todas as modalidades não conquistassem diplomas, conquistassem medalhas. Mas, como o Rui Bragança, o João Pereira, entre outros atletas, referiram, enquanto a cultura desportiva em Portugal não melhorar em termos de apoios privados – e não falo só na canoagem, mas em nome de todas as modalidades -, é difícil”, frisou.

Pimenta explicou que também sente a “angústia com os poucos recursos” disponíveis: “O próprio Rui Bragança já disse que está a equacionar se continua ou não. Em alta competição, tudo conta”.

“Estive 210 dias em estágio, isto é um cálculo feito pela minha namorada -, que sabe os dias todos, desde novembro. Isso é muito duro. Abdiquei da família, dos amigos. Eu dou o meu melhor e espero que os portugueses compreendam isso, que não estamos cá para sair derrotados, que não estamos cá para entristecer os portugueses”, prosseguiu.

Pimenta garante que os atletas lusos estão no Rio 2016 pelos bons exemplos: “Queremos transmitir boas energias, dizer aos portugueses que devem acreditar no seu trabalho. Sempre que tiverem sonhos de serem atletas olímpicos, de estarem na luta pelo seu país, devem acreditar, devem trabalhar”.

“Vão aparecer desafios, obstáculos, barreiras durante a preparação e até da vida pessoas, e temos de saber dar a volta por cima. O desporto é isso mesmo, é uma das melhores escolas que as pessoas devem ter. Como atleta, só tenho de apelar à prática do desporto”, finalizou.