Consagrações

Usain Bolt (Atletismo)

592240092_1200x300_acf_cropped

Acabou. Para voltar a ver Usain Bolt a correr nos Jogos Olímpicos, só com telecomando por perto. Depois de vencer a final de 4×100 metros pela Jamaica — o derradeiro percurso foi dele –, a última das provas que disputou no Rio2016, e chegado à sala de imprensa do estádio Olímpico, sorridente ali como na primeira medalha em 2008, atirou: “Foi a última vez, malta, desculpem…”. Talvez ainda vá ao Mundial de atletismo, em Londres, no próximo ano, mas aí, irá como “o maior” desportista de sempre — Bolt dixit no Rio de Janeiro. É que pela terceira vez consecutiva em olimpíadas, “limpou” a medalha de ouro nos 100 e 200 metros, deixando a da estafeta para o final. É verdade que, quanto a medalhas, iguala “apenas” as de Mark Spitz ou Carl Lewis, ficando ainda distante das tantas de Phelps. Mas não haverá outro como ele, ponto. Tão carismático — foi amado e odiado por isso — quanto medalhado. Tão bom, que nem a ciência sabe como explicá-lo. Não se explique, então; sorria-se por se ter vivido no tempo de Usain Bolt. Como ele sorriu enquanto corria.

Michael Phelps (Natação)

21129492_1200x300_acf_cropped

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Antes dele, só Leónidas de Rodes (152 a.C.) nos Jogos Olímpicos da Antiguidade havia vencido mais medalhas. Phelps bateu, no Rio de Janeiro, um recorde olímpico com mais de 2000 anos — 2168 anos, para ser exato. Em cinco participações olímpicas, amealhou 28 medalhas, 23 delas de ouro. No Rio de Janeiro, e depois da medalha mais ambicionada nos 4×100 metros estilos, a “Bala de Baltimore” fechou a loja, uma “loja” que abriu em 1992, quando resolveu ser nadador. O melhor de sempre. Tinha sete anos. Aos 15, ainda menino, foi a Sidney participar nos primeiros Jogos Olímpicos entre homens. Não venceu nenhuma medalha aí. Venceria depois, até se retirar em 2012. Foi uma retirada breve, voltou para vencer umas quantas mais no Rio, e agora não há retorno. Nem precisava haver.

Mo Farah (Atletismo)

592613666_1200x300_acf_cropped

Mo Farah caiu. O medalhista de ouro nos 5.000 e 10.000 metros em Londres2012 caiu, depois de ser pisado por outro atleta, e o estádio Olímpico ficou em suspenso. Aos 33 anos, Farah queria o double-double, ou seja, reeditar as vitórias conquistadas em casa — ele que é somali, mas compete pelo Reino Unido. Levantou-se. E ainda venceu a final dos 5.000 metros. Como venceria a dos 10.000 metros, poucos dias depois. Muito dificilmente Mo Farah estará em Tóquio, daqui por quatro anos. Mas se estiver, e mesmo perto de ser quarentão — mas ainda com corpo franzino e rosto adolescente –, o britânico é o favorito ao triple-double.

Surpresas

Simone Biles (Ginástica Artística)

590186218_1200x300_acf_cropped

Simone Biles venceu a física. Como pode uma atleta com 1,45 metros (e 47 quilos) elevar-se do solo tão alto, saltando o dobro da própria altura? Não importa a física. Simone pode. E ao salto, com assinatura, por entre piruetas várias que nenhuma outra ginasta faz, chamou-lhe “The Biles”. Talvez não seja ainda a melhor ginasta da história. Afinal, tem apenas 19 anos e mais olimpíadas pela frente. Mas entrou na história e surpreendeu o mundo, que se colou ao ecrã para a ver ser o que é: Simone. Ao fim das primeiras duas medalhas de ouro perguntaram-lhe se se sentia a nova Usain Bolt ou a nova Michael Phelps. E respondeu: “Sou a primeira Simone Biles”. Acabou o Rio2016 com mais três medalhas, duas de ouro e uma de bronze, cinco ao todo. Simone Biles é a terceira norte-americana a conseguir cinco medalhas nuns Jogos Olímpicos, depois de Katie Ledecky e Missy Franklin. Mas as quatro de ouro colocam-na no patamar de lendas da ginástica como Ecaterina Szabo (1984), Vera Caslavaska (1968) e Larisa Latynina (1956). Em Tóquio há mais.

Joseph Schooling (Natação)

456014526_1200x300_acf_cropped

Rewind. Estávamos em 2008. Joseph Schooling tinha 13 anos e tirou uma fotografia com o ídolo. O ídolo do menino de Singapura, caixa-de-óculos e tímido, era Michael Phelps, que semanas depois da fotografia haveria de vencer oito medalhas em Pequim2008. Fast forward. Oito anos depois, lado a lado na piscina olímpica com o ídolo de sempre, Schooling bateu-o. Foi na final de 100 metros mariposa; Phelps ficou com a prata e ele com o ouro. “Quando era miúdo queria ser como ele”, disse Joseph Schooling no final. E acrescentou: “É uma loucura pensar no que acontece em oito anos. Muito disto é por causa do Michael [Phelps]. Ele é a razão pela qual eu quis ser melhor nadador”.

Wayde van Niekerk (Atletismo)

589523496_1200x300_acf_cropped

O lendário Michael Johnson foi assistir à final dos 400 metros. Esteve no estádio Olímpico João Havelange. O que Johnson não esperaria é que o seu recorde mundial — que perdurava desde 1999 e do Mundial em Sevilha — cairia naquela noite. E cairia logo às mãos de um (pouco favorito) sul-africano de 24 anos e com um apelido que se nos enrola na língua: Wayde van Niekerk. Nunca até hoje um atleta se viu perto de correr abaixo dos 43.18 segundos de Michael Johnson. Nem perto. E insistimos: van Niekerk não era favorito a consegui-lo no Rio2016. Desde logo porque só fez um tempo assim-assim na qualificação para a final. Depois, porque esse tempo o fez correr por fora, na pista oito — o que é uma desvantagem para os demais. Por último, porque o campeão olímpico em título (Kirani James, de Grenada) e o outro favorito (o norte-americano LaShawn Merritt) corriam por dentro — e por dentro se digladiaram desde o começo. Wayde van Niekerk acelerou, acelerou como Michael Johnson acelerava, acelerou tanto, mas tanto, que acelerou mais do que a lenda de Sevilha e acabou os 400 metros em apenas 43.03 segundos. O quê?! Ninguém no estádio queria acreditar no que havia acontecido, no que havia visto. Mas Wayde van Niekerk acreditou. Sempre. E recordou no final: “Sim, eu acreditei que podia conseguir o recorde mundial. Sonhei com esta medalha desde sempre. Sinto-me abençoado”.

Desilusões

Serena Williams e Novak Djokovic (Ténis)

587845986_1200x300_acf_cropped

As irmãs Serena e Venus Williams, campeãs olímpicas em título, foram eliminadas na primeira ronda do torneio de pares pelas checas Lucie Safarova e Barbora Strycova. Serena, que para lá de pares foi campeã em Londres2012 em singulares, voltaria a competir pouco depois. E voltaria a ser eliminada. A primeira tenista do ranking ATP foi eliminada pela vigésima, a ucraniana Elina Svitolina, em dois sets — agora à terceira ronda. No final, conseguiu apenas dizer: “Quem jogou melhor, venceu”. Quem também não jogou bem foi o número um do mundo, Novak Djokovic. Saiu em lágrimas depois de derrotado no torneio de singulares por Juan Martin del Potro. Estávamos na primeira ronda. No torneio de pares seria eliminado — ele e Zenad Zimonjic — à segunda por Marcelo Melo e Bruno Soares, do Brasil. Serena e Novak são desilusões. Mais ele que ela, talvez. Ela sempre pode dizer que foi campeã olímpica em 2012. Entre homens, e desde 1988, quando o ténis voltou a ser modalidade olímpica, o número um do ranking mundial nunca conseguiu ganhar o ouro. E ainda não foi desta.

Seleção dos EUA (Futebol Feminino)

585717962_1200x300_acf_cropped-1

A senhora da fotografia é Hope Solo, a guarda-redes dos Estados Unidos no futebol feminino. Uma modalidade olímpica (para as senhoras) desde 1996. E desde 1996 que os Estados Unidos são medalhados: ouro em 1996, 2004, 2008 e 2012; prata em 2000. E Solo foi vencendo pela seleção norte-americana desde 2004. Mas este ano, no Rio de Janeiro, nada venceu. As campeãs em título (ou melhor: tri) nada venceram. A Suécia eliminou os Estados Unidos do torneio olímpico de futebol nas grandes penalidades. Solo não conseguiu travar o penálti decisivo da sueca Lisa Dahlkvist.

Ryan Lochte (Natação)

21109710_1200x300_acf_cropped

É a história mais mirabolante que há para contar do Rio2016. E passou-se fora das olimpíadas. Tudo aconteceu a 14 de agosto, domingo, à saída da Casa França, na Sociedade Hípica do Rio de Janeiro. Os nadadores norte-americanos Ryan Lochte, James Feigen, Gunnar Bentz e Jack Conger terão saído embriagados do local, por volta das quatro horas da manhã, apanhado um táxi perto dali, e foi no interior deste que acabaram por ser assaltados à mão armada. À NBC, Ryan Lochte (na foto) contou que o táxi foi abordado por “homens que apresentavam distintivos”, parou, um deles “apontou uma arma” e obrigou-os a deitarem-se no chão. Depois, levaram consigo o dinheiro dos nadadores – cerca de 400 dólares –, bem como a carteira de Ryan Lochte, deixando, no entanto, a credencial e o telemóvel do atleta. Mas isto foi à NBC. Em depoimento à polícia brasileira, o nadador terá contado que os quatro foram assaltados por um só indivíduo, que apenas terá levado o dinheiro e nenhum outro pertence. A justiça brasileira achou os dois depoimentos contraditórios e determinou a apreensão dos passaportes dos nadadores, o que impossibilitaria que estes abandonassem o país. Mas terá sido tarde demais. Ryan Lochte, depois de concluída a sua participação olímpica na natação, regressou aos Estados Unidos. Todos eles regressaram. Mais tarde, Lochte, que conta com 12 medalhas olímpicas no currículo, admitiria que fez “acusações imaturas” no depoimento às autoridades brasileiras. E continuou, em mea culpa: “Se não tivesse exagerado ou se tivesse contado a história completa nada disto teria acontecido. Eu estava a vir da Casa da França, estava altamente embriagado e fiz acusações imaturas. Se não tivesse feito isso, nada disso teria acontecido, as pessoas do mundo inteiro não estariam a prestar atenção a esta história, estariam apenas a assistir aos Jogos Olímpicos”.