Nos últimos nove meses, o cruzamento de Gush Etzion, na Palestina, foi palco de 12 ataques dos chamados “lobos solitários”. Encaixada entre a população palestiniana e o enclave israelita de Alon Shvut, aquela rotunda parece um autêntico cenário de guerra. Uma reportagem do El Mundo descreve até as paragens de autocarro como trincheiras, num local que tem “tantas câmaras como um campo de futebol em dia de jogo”. Trata-se de um sítio que tem vindo a ficar conhecido como local de coexistência entre israelitas e palestinianos. Uma coexistência que podia ser relativamente pacífica, não fossem os ataques solitários de alguns extremistas.
Os “lobos solitários”, como são conhecidos, representam um inimigo cada vez mais perigoso, porque são imprevisíveis e quase indetetáveis, e estão a tornar-se numa das principais ameaças em Israel. Por isso, o exército israelita desenvolveu um sistema informático capaz de detetar estes atacantes solitários. E a tecnologia está até a atrair vários líderes europeus a Israel, para se familiarizarem com este sistema.
O tenente-coronel Yaniv Barot, do exército israelita, explica ao El Mundo que “um dos grandes desafios” é “a ausência do perfil clássico de terrorista. Pode ser homem, mulher, ou desgraçadamente menor. E com uma faca, com um carro, com uma espingarda”. Por isso, reconhece, “não é fácil. Devemos garantir que os israelitas e os palestinianos seguem as suas vidas e ao mesmo tempo não podemos confiar em ninguém”. E é dessa necessidade que surge o sistema de deteção, lançado na sequência da onda de esfaqueamentos que ficou conhecida como “Intifada de Jerusalém”, no ano passado.
O algoritmo está preparado para analisar informações provenientes, por exemplo, de publicações em redes sociais, e compará-las com uma base de dados de perfis-tipo que representam vários níveis de risco para a segurança. A ideia é conseguir capturar suspeitos antes deles se radicalizarem, e já tem tido resultados. Ao El Mundo, um oficial do exército, que recusou revelar a sua identidade, explicou que “de acordo com os perfis do terrorista potencial, compusemos uma base de dados como sistema de riscos ou alertas, para sabermos se devemos vigiar um suspeito, falar com a sua família, ou detê-lo”. Os suspeitos detetados são sobretudo homens menores de 24 anos, apesar de o sistema já ter apontado para uma rapariga, que acabou por ser detida enquanto se preparava para um ataque num checkpoint israelita.
Grande parte dos atentados são ações suicidas. De acordo com as autoridades palestinianas, “mais do que a luta contra a ocupação, há jovens com problemas pessoais, que preferem pôr fim às suas vidas como mártires”. É por isso que as forças armadas do lado israelita estão a reforçar os seus treinos de luta corpo a corpo. “O objetivo é salvar a vida do cidadão atacado e tentar que não morra o terrorista, que às vezes é menor”, explica o coronel Ido Mizrachi, do exército israelita.
O sistema informático para a deteção de terroristas é apenas a mais recente medida adotada por Israel. A verdade é que em Israel, muito antes do ataque em Nice, já todos os eventos públicos na rua implicavam colocar dois autocarros vazios, um em cada extremo da estrada utilizada para o evento. O especialista em terrorismo Boaz Ganor explica, por isso, ao El Mundo que “os europeus devem adaptar-se à situação em que os ataques são frequentes, mudar o seu comportamento em questões de segurança, e adotar recursos tecnológicos de proteção aplicados em Israel desde há muito tempo”.