O surgimento de lagos de água azuis na Antártida está a preocupar os cientistas, revela um estudo publicado no início deste mês, que dá conta do aparecimento e rápido crescimento destes lagos que drenam para o interior dos glaciares, colocando assim em risco a sua estabilidade. A Antártida tem a maior massa de gelo do planeta e onde se tem registado menor degelo, um dos argumentos utilizados pelos mais céticos relativamente ao aquecimento global, mas estes lagos são semelhantes aos que aparecem na Gronelândia, onde o degelo é mais acentuado.

O estudo, baseado na análise de imagens de satélite do continente, revelou o aparecimento de perto de 8 mil lagos entre 2000 e 2013, na zona do glaciar de Langhovde, na zona oriental da Antártida. Além disso, os lagos estão a formar-se em zonas que podem ser fulcrais para a coesão de muitas massas de gelo, podendo ter como consequência a fratura de partes do glaciar.

Trata-se da primeira vez que um fenómeno desta dimensão é observado na Antártida Oriental, que “é a parte do continente que as pessoas assumiram, durante muito tempo, ser relativamente estável”, explicou ao The Washington Post o investigador Stewart Jamieson, um dos autores do estudo. Na publicação, os investigadores alertam para consequências semelhantes às observadas na Gronelândia: “Sabe-se que os lagos supraglaciais acentuam o derretimento da capa de gelo da Gronelândia, e potencialmente causam a desintegração da plataforma de gelo da península Antártica”.

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De acordo com os investigadores, estes lagos têm sido a principal razão pela qual a Gronelândia tem derretido tão rapidamente. A água dos lagos, formados na superfície dos glaciares, pode penetrar no interior das massas de gelo, comprometendo a sua estabilidade. O estudo divulgado agora vem trazer um novo dado preocupante: o aparecimento dos lagos e o seu posterior desaparecimento no interior dos glaciares tem-se verificado de forma muito rápida. Um lago pode aparecer e desaparecer em apenas cinco dias.

lagos glaciar

Exemplo de drenagem de um conjunto de lagos. As imagens têm uma diferença de 12 dias. A imagem da direita é de 14 de janeiro de 2005, e a da esquerda de 26 de janeiro. As imagens, divulgadas pelo The Washington Post, foram obtidas a partir da base de dados ESDIS, da NASA.

Apesar de nunca se ter observado um problema com esta dimensão na Antártida, o continente gelado apanhou um susto em 2002, altura em que um bloco de gelo com mais de 3.250 quilómetros quadrados (maior que o Luxemburgo, como lembra o El País), se desprendeu da península. É precisamente neste local, perto da América do Sul, que se têm registado os maiores aumentos de temperatura dos últimos anos no hemisfério sul.

Jamieson, o líder da equipa que conduziu o estudo, explica que a investigação não pode ainda provar que o gelo na Antártida esteja a ficar enfraquecido, até por ser muito difícil analisar as consequências do degelo no Sul, ao contrário da Gronelândia. No entanto, admite a preocupação com o futuro: Os lagos “provavelmente não são suficientemente grandes para fazer muito no presente, mas se o aquecimento global continuar no futuro, só podemos esperar que o tamanho e o número destes lagos aumente”, disse ao jornal norte-americano.