Feyisa Lilesa, o segundo classificado na maratona dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, pode vir a ficar a viver no Brasil com medo das repercussões que o seu gesto no final da prova possa vir a ter, caso regresse à Etiópia.

Ao cruzar a meta no passado domingo, o atleta etíope fez um gesto em que cruzou os braços acima da cabeça. Este gesto representa uma forma de protesto contra o governo etíope e a favor do povo Oromo — ao qual pertence Lilesa. “Se voltar para a Etiópia, se calhar vão matar-me”, explicou a seguir à prova.

Esta terça-feira o El País adianta que o atleta etíope pode mesmo ficar no Brasil, o único país para o qual tem um visto em ordem. Mas explicou que se conseguir um novo visto pode tentar ir para os Estados Unidos da América.

O gesto feito por Lilesa é usado pelos manifestantes na Etiópia que protestam contra os planos do governo de usar as terras da tribo Oromo para conseguir expandir a capital, Adis-Adeba, expulsando os nativos. Uma parte considerável dos protestos públicos têm terminado com matanças, sendo que a Human Rigths Watch afirma que mais de 400 pessoas já morreram desde novembro em protestos. A chegada de Lilesa só foi transmitida na televisão da Etiópia uma vez, tendo sido proibidas as repetições do atleta a cruzar a meta.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em janeiro a ordem de expropriação da tribo do seu território foi cancelada, mas os protestos contra o governo continuaram, desta vez pelas prisões arbitrárias que se verificaram e continuam a verificar.

Durante uma conferência de imprensa depois da prova, o atleta explicou que “o governo etíope está a matar” o seu povo e que, por isso, apoia os manifestantes. “Oromo é a minha tribo. Os meus familiares estão na prisão e se falarem de direitos e de democracia são mortos”, explicou ainda o atleta. Entretanto, teme que a sua mulher e filhos tenham sido detidos pelo governo.

No fim desta entrevista, o corredor demonstrou a sua vontade de não regressar à Etiópia: “Provavelmente vou mudar-me para outro país”. No fim da conferência de imprensa, Lilesa repetiu o gesto de protesto.

Um crowdfunding na internet já conseguiu reunir 74.000 euros para que Lilesa consiga encontrar asilo num outro país, juntamente com a sua família.

Os Oromo representam cerca de 25% da população da etiópia.