Um livro sobre a origem do tango “ditado” pelo escritor Jorge Luís Borges, chegou agora à Europa, com o lançamento em Madrid, apresentando a célebre música ligada à Argentina como sendo alegre.

A gravação de quatro conferências dadas pelo escritor sobre a história do tango, em 1965, deu origem a uma obra inédita, lançada, depois de 14 anos de várias peripécias, em Buenos Aires, em junho, para assinalar os 30 anos da sua morte, e que chega agora a Madrid.

Com o título “El tango, cuatro conferencias”, o livro resulta da transcrição de registos em cassetes, quase inaudíveis, num trabalho de Bernardo Atxaga que, em 2002, recebeu as gravações das mãos de José Manuel Goikoetxea (Goika).

Mais de 10 anos depois, em novembro de 2013, a viúva de José Luís Borges, María Kodama, certificou a autenticidade das gravações e apresentou o material na Casa del Lector, em Madrid.

“Já era tempo de ser publicado. Não sou fetichista nem bom investigador, mas entusiasmava-me ter descoberto algo inédito de Borges”, relatou o Bernardo Atxaga.

No livro agora publicado é feita uma viagem pela história da música que identifica a Argentina no mundo, mas com a perspetiva de Jorge Luís Borges, defendendo que o tango não é triste, nem popular ou suburbano, ou pelo menos, não nasceu assim.

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“O tango surge da milonga e, no início, é valente e feliz. Depois vai desanimando e ficando triste”, relatava o escritor, citado pelo jornal El Pais.

As conferências do escritor argentino são quase um tratado que junta erudição, sabedoria popular e humor para falar não só da música, mas também da sua cidade, na Argentina, e da vida dos “guapos” (briguentos) que protagonizam as letras dos tangos.

“O tango não é triste, melancólico, nostálgico, choroso. O tango é alegre”, insistia Jorge Luís Borges e criticava Carlos Gardel, apontado como uma figura decisiva na história desta música, por ter alterado o seu espírito original.

“Gardel tomou a letra do tango e transformou-a numa breve cena dramática, em que um homem abandonado por uma mulher se queixa, e em que se fala da decadência física de uma mulher”, insurge-se o escritor.

Jorge Luís Borges “gostava dos tangos da ‘velha guarda’, que ouvia na sua infância, porque não eram patéticos. Tinham letras alegres. E pensava que Gardel tinha arruinado” esta música, explica María Kodama.