Ao contrário da política, da educação ou do futebol, o cinema não tem “rentrée”, desde que o verão deixou de ser uma época de reposições, comercialmente fraca, e começou a ter estreias, com destaque para os “blockbusters” americanos, e a ser relevante em termos de receitas. Em setembro e outubro, entre o final do verão e a chegada do outono, o número de filmes nas salas vai continuar a ser praticamente o mesmo do que nos meses do calor e das férias. Selecionámos 12 sugestões entre as mais de 60 estreias previstas para os dois próximos meses. O critério foi o mais aberto possível em termos de origens, géneros, registos, interesses e gostos.

1- “Cartas da Guerra” (Ivo M. Ferreira) – O cinema português tem sido muito parcimonioso na abordagem à guerra nas antigas colónias, e quando o faz, costuma carregar uma estereotipada mochila de má consciência. Este filme de Ivo Ferreira, que competiu no Festival de Berlim, consegue aligeirar essa carga, ao adaptar a uma narrativa cinematográfica as cartas escritas por António Lobo Antunes (mais excertos de outras obras do escritor) à mulher, Maria José, quando era alferes médico e cumpria uma comissão de serviço em Angola, no início dos anos 70. Destaque para a fotografia a preto e branco de João Ribeiro. (1 de Setembro)

2- “Milagre no Rio Hudson” (Clint Eastwood) – Clint Eastwood escolheu contar uma história real para a sua primeira colaboração com Tom Hanks. É a de Chelsey Sullenberger — Sully para a família e amigos –, o piloto que, no dia 15 de Janeiro de 2009, conseguiu pousar um avião de passageiros com 155 pessoas nas águas gélidas do rio Hudson, transformando-se num herói nacional. No entanto, enquanto Sully era aclamado pelo público e celebrado pelos media, decorria uma investigação oficial ao acidente, que, incrivelmente, poderia pôr em perigo a sua imagem e acabar-lhe com a carreira. (8 de Setembro)

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3- “O Bebé de Bridget Jones” (Sharon Maguire) – Depois de se separar de Mark Darcy, Bridget Jones fez 40 anos, dedicou-se à sua carreira, à família e aos amigos, e envolveu-se com outro homem, um americano chamado Jack. Descobriu também que está grávida, e não tem a certeza de quem é o pai da criança. Sharon Maguire, que assinou o primeiro filme da trilogia sobre a heroína dos livros de Helen Fielding, “O Diário de Bridget Jones”, regressa aqui à realização, tal como Renée Zellweger e Colin Firth aos papéis de Bridget e Darcy, agora acompanhados por Patrick Dempsey no namorado vindo dos EUA. (8 de Setembro)

4- “Salsicha Party” (Conrad Vernon/Greg Tiernan) – Seth Rogen, um dos autores do argumento de “Salsicha Party”, afirma ser este “o primeiro filme de animação digital que não é propriamente para crianças”, e é melhor acreditarmos nele. Contando, entre outros, com as vozes do próprio Rogen, de Jonah Hill, Edward Norton, Salma Hayek, Kristen Wiig ou James Franco, esta paródia às animações da Disney/Pixar tem como herói Frank, uma salsicha para cachorros-quentes que, ao cair do carrinho de compras do supermercado onde mora, vai viver, juntamente com outros produtos comestíveis, uma aventura de profundo significado existencial. (15 de Setembro)

5- “The Beatles: Eight Days a Week-The Touring Years” (Ron Howard) — Tirando umas férias dos filmes de ficção, Ron Howard realiza este documentário batizado com o título de uma canção dos Beatles, no qual segue a carreira do grupo entre 1962 e 1966, anos em que Paul, John, George e Ringo deram 250 concertos. Recorrendo a um maná de imagens de arquivo, bastantes das quais nunca vistas até agora, Howard, que também co-produz, contou com a total colaboração de Paul McCartney, Ringo Starr e de Yoko Ono e Olivia Harrison, viúvas de John Lennon e George Harrison. Os beatlemaníacos vão delirar. (15 de Setembro)

6- “Se as Montanhas se Afastam” (Jia Zhangke) – Este filme do realizador de obras fundamentais do cinema chinês contemporâneo, como “Plataforma” (2000) ou “China-Um Toque de Pecado” (2013), concorreu no Festival de Cannes de 2015. Decorrendo em 1999, 2014 e 2025, o enredo gira em redor de uma rapariga, Tao, e daqueles que lhe são mais próximos, caso dos dois amigos de infância que estão apaixonados por ela. A história abrange duas gerações, a cavalo entre a China e a Austrália, e o realizador serve-se das personagens para refletir sobre a China e os chineses de hoje, e do futuro próximo. (15 de Setembro)

7- “Julieta” (Pedro Almodóvar) – As mulheres voltam a predominar no novo filme de Pedro Almodóvar, baseado em três contos da Prémio Nobel da Literatura Alice Munro. Dividido entre o tempo presente e um tempo passado, e interpretado por Emma Suárez, Adriana Ugarte, Rossy de Palma e Michele Jenner, “Julieta” conta a história de Julieta Arcos, que vive em Madrid e vai mudar-se para Portugal. Mas após encontrar por acaso Beatriz, uma amiga de infância da filha, Antia, com a qual não tem contacto há muitos anos, e que lhe revela que ela vive na Suíça, casou e tem três filhos, Julieta cancela todos os planos que tinha feito. (22 de Setembro)

8- “Snowden” (Oliver Stone) – Mais um filme de Oliver Stone que vai certamente fazer faísca. Parte biografia, parte “thriller” político, “Snowden” abraça a causa de Edward Snowden, o analista da Agência Nacional de Segurança dos EUA responsável por uma colossal fuga de informação classificada para os media em junho de 2013. Stone, também co-argumentista, foi beber a dois livros, um deles, “Time of the Octopus”, escrito pelo advogado russo de Snowden, Anatoly Kucherena. Joseph Gordon-Levitt interpreta Snowden, acompanhado por Nicolas Cage, Melissa Leo, Zachary Quinto, Tom Wikinson e Scott Eastwood. (22 de Setembro)

9- “Os Visitantes – A Revolução” (Jean-Marie Poiré) – O primeiro filme, “Os Visitantes”, é de 1993, e o segundo, “Os Visitantes da Idade Média”, de 1998 (pelo meio houve um “remake” americano, em 2001, “Visitantes na América”). Eis, finalmente, a continuação das delirantes aventuras através do tempo do nobre Godfroy de Montmirail (Jean Reno) e do seu servo Jacquouille (Christian Clavier), deixados em plena Revolução Francesa no final da parte 2, e que agora vão ter de se desenvencilhar de mais uma situação histórica complicada, além de terem que lidar com os seus descendentes que vivem na França em convulsão de finais do século. XVIII. (22 de Setembro)

10 – “A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares” (Tim Burton) – Um adolescente órfão chamado Jacob, um lar para crianças peculiares (leia-se: com poderes especiais) situado no País de Gales e gerido por uma senhora, Alma LeFay Peregrine, um conjunto de forças maléficas lideradas por um homem chamado Barron, que quer destruir o lar da Sra. Peregrine, e matar todos os que lá vivem. Eis, em traços largos, o novo filme de Tim Burton, que leva à tela o primeiro livro da série fantástica criada por Ransom Riggs, a qual já vai em três volumes. Com Asa Butterfield, Eva Green, Samuel L. Jackson, Judi Dench, Rupert Everett e Terence Stamp. (29 de Setembro)

11 – “Fuocoammare” (Gianfranco Rosi) Vencedor, em 2009, do Festival de Veneza, com o documentário “Sacro GRA”, o italiano Gianfranco Rosi ganhou, este ano, o Festival de Berlim, com outro trabalho documental, “Fuocoammare”. A fita foi rodada na ilha siciliana de Lampedusa, onde vão dar as vagas de refugiados e sobretudo de migrantes económicos do Médio Oriente e de África que atravessam o Mediterrâneo em busca de asilo e de trabalho na Europa. Rosi viveu durante vários meses em Lampedusa e captou o dia-a-dia dos seus habitantes e as suas reações a este êxodo maciço. (13 de Outubro)

12 – “Café Society” (Woody Allen) – É na Hollywood dos anos 30 que Woody Allen situa o seu penúltimo filme (já está a preparar outro, ainda sem título, passado na década de 50, em Nova Iorque, para além da série de televisão “Crisis in Six Scenes”), com Jesse Eisenberg no papel de um rapaz da Bronx que ruma a Los Angeles para trabalhar com o seu tio, um agente que representa vários atores e atrizes de primeiro plano, apaixonando-se pela secretária dele. Esta comédia dramática conta ainda com as participações de Kristen Stewart, Steve Carell, Blake Lively e Parker Posey. (20 de Outubro)