O ministro da Economia de Portugal, Manuel Caldeira Cabral, defendeu, esta segunda-feira, em Maputo que as empresas portuguesas devem ter “uma perspetiva de longo-prazo” sobre Moçambique, um país em crise mas com “enorme potencial”.

Caldeira Cabral, que esteve presente no primeiro dia da Feira Internacional de Maputo (Facim), disse aos jornalistas que pretende levar uma mensagem de “resiliência” e uma “perspetiva de longo-prazo” às empresas que estão em Moçambique e “a resistir a este momento menos positivo”.

O governante destacou que, a médio-prazo, “há claramente perspetivas de melhoria e um potencial muito grande de negócios e de projetos em Moçambique”, confiando que as empresas portuguesas “estarão cá este ano, mas também no próximo e daqui a uma década para os implementar”.

A Facim arrancou hoje em Marracuene, nos arredores de Maputo, e o pavilhão português é o maior do principal evento empresarial de Moçambique, embora com menos inscrições do que nos anos anteriores.

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No primeiro de três dias de visita a Moçambique, Caldeira Cabral reconheceu que os momentos que a economia moçambicana atravessa “não são os melhores”, numa referência ao abrandamento do crescimento, forte desvalorização do metical, subida da inflação e ainda à crise da dívida e às hostilidades militares entre Governo e Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).

As intenções de investimento em Moçambique caíram 48% no primeiro semestre de 2016 comparativamente ao mesmo período do ano passado, com Portugal no quinto lugar dos principais investidores estrangeiros, mas com uma queda de 80%, bastante superior à média.

Também as exportações de Portugal para Moçambique baixaram de 174 milhões de euros no primeiro semestre de 2015 para 116 milhões nos primeiros seis meses de 2016.

“Há uma redução natural, nestes períodos de menor crescimento do investimento, e há uma redução muito mais pequena nas exportações”, comentou o ministro português, lembrando que, no ano passado as vendas para Moçambique atingiram um valor recorde, antes da queda registada no primeiro semestre de 2016, e esperando uma retoma dos indicadores.

As exportações, afirmou, “poderão recuperar ao longo do ano” e, com a normalização da economia moçambicana, também confia numa retoma do investimento.

“Encontrei nas empresas portugueses que estão cá, algumas delas há muitos anos e que estão cá para ficar, a perspetiva de quem percebe que há anos bons e menos bons e é preciso continuar”, insistiu o ministro da Economia, que salientou, por outro lado, a participação na Facim de companhias a iniciar atividade em Moçambique.

Manuel Caldeira Cabral aconselha os investidores portugueses que queiram operar em Moçambique a agir com “prudência, estudar bem os negócios e encontrar os parceiros certos”, num mercado com “enorme potencial”.

“O que vi também foi empresas com projetos, não só interessantes em termos de negócios de longo-prazo, mas com uma verdadeira perspetiva de desenvolvimento, como é o caso de empresas que estão a investir no setor florestal, ou no turismo ou na construção”, apontou.

Após a Facim, o ministro da Economia visitou a empresa de capitais portugueses MCM (Mozambique Cotton Manufacturers) e, nos próximos dias, tem previstos encontros com alguns dos titulares das pastas económicas do Governo moçambicano e empresários, e ainda uma deslocação, na terça-feira, à Beira.

Além da visita a um projeto da Galp na segunda maior cidade moçambicana, Caldeira Cabral pretende “sentir as dificuldades particulares” que os empresários portugueses estão a enfrentar na região centro do país e que tem sido a mais atingida pela crise militar entre Governo e Renamo.

A Facim decorre até 4 de setembro em Marracuene, nos arredores de Maputo, com a presença prevista de 2.250 empresas moçambicanas e 630 estrangeiras, provenientes de 33 países.