O ex-administrador da RTP Luís Marinho, que foi até agora responsável pelo gabinete de projetos especiais, deixa esta quarta-feira a RTP, após 15 anos no grupo de media público com críticas ao estado atual da empresa.

Numa carta de despedida enviada aos trabalhadores da RTP, a que a Lusa teve acesso, Luís Marinho afirma que, “do ponto de vista organizativo, a RTP é hoje uma empresa dos anos 80 do século passado, com direções para todos os gostos, a que se juntam ainda mais diretores disfarçados de consultores”.

Na mensagem, de cerca de duas páginas, Luís Marinho faz uma avaliação dos últimos 18 meses da RTP, “coincidentes com o mandato do atual” Conselho de Administração liderado por Gonçalo Reis.

“Não era esta a forma, nem era nesta altura que esperava abandonar a empresa a que me dediquei nos últimos 15 anos”, começa por dizer António Luís Marinho.

“Mas a nova governação inventada pelo ministro [Miguel Poiares] Maduro, cumprindo a missão que lhe tinha sido cometida, ao demitir o anterior Conselho de Administração [na altura liderado por Alberto da Ponte] e nomeando o atual, criou todas as condições para abreviar a minha estadia na RTP”, aponta Luís Marinho, que assumiu vários cargos no grupo de media, entre os quais de diretor-geral de conteúdos, diretor de estratégia de grelha ou ainda diretor de informação da rádio e da televisão públicas.

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“Depois de ser afastado das funções que exercia, recebi, ao longo dos últimos meses, recados mais ou menos discretos no sentido de se criarem ‘condições extraordinárias’ caso encarasse a hipótese de sair da empresa. E a vontade do Conselho de Administração acabou por se concretizar, ao aceitar as ‘condições extraordinárias’ que propus”, prossegue.

O jornalista considera ainda que “a RTP caminha a passos largos para a total irrelevância, em nome de uma suposta qualidade que talvez alguns amigos consigam vislumbrar”.

Relativamente ao Conselho Geral Independente (CGI), órgão de supervisão do Conselho de Administração da RTP criado pelo ministro Poiares Maduro, Luís Marinho classifica-o de “inexistente”.

“A atual situação deixa-me triste, mas continuo a acreditar que os verdadeiros profissionais da RTP não vão baixar os braços e serão capazes de reerguer a empresa. Não vai ser fácil, sobretudo se a atual governação renovar o mandato que termina no final de 2017”, diz.

Luís Marinho conclui a carta com o título “Adeus… e obrigado” desejando “aos verdadeiros profissionais da RTP – a esmagadora maioria dos seus trabalhadores – as maiores felicidades”.