O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, incentivou hoje os industriais a apostarem em unidades de transformação de porco preto em Portugal, cuja maioria da produção tem como destino Espanha, considerando que os incentivos “são bastante generosos”.

“Cabe à iniciativa privada” a criação de unidades de transformação de porco preto e “ao Governo compete criar os estímulos e incentivos e esses estão criados e são bastante generosos, bem mais do que em Espanha”, afirmou.

O governante disse que o seu ministério “está disponível para financiar a instalação de agro-indústria à volta desta fileira”, realçando que ajudas vão “até cerca de 45 por cento a fundo perdido em investimentos que podem atingir individualmente quatro milhões de euros”.

“Este é o grande desafio que se coloca à indústria, à produção e à fileira”, insistiu, destacando que “boa produção existe, as boas condições de produção foram repostas nos últimos anos e existem mercados”.

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O titular da pasta da agricultura falava à agência Lusa à margem da conferência comemorativa dos 25 anos da Associação Nacional dos Criadores de Porco Alentejano (ANCPA), integrada na Feira da Luz/Expomor, em Montemor-o-Novo, distrito de Évora.

Capoulas Santos assinalou que a fileira teve de “começar do zero” em Portugal, após a peste suína africana ter afetado o país nos anos 60, em que era proibida a criação de animais, tendo a doença sido declarada erradicada em 1996.

“O porco, ao longo deste período, voltou a crescer e a produção atingiu valores elevadíssimos”, observou o ministro da Agricultura, estimando que o efetivo atual “possa rondar os 50 mil animais”.

O governante considerou que o setor estabeleceu um mercado de exportação para Espanha por aquele país ter “uma poderosa indústria de transformação e uma enorme tradição de consumo de presunto”.

“Neste período, apenas duas unidades para produzir presunto ibérico foram instaladas em Portugal e, pela inexistência de indústria em Portugal, a produção passou a ser orientada para exportação”, destacou.

Também em declarações à Lusa, o presidente da ANCPA, Luís Bulhão Martins, revelou que “a esmagadora maioria dos animais, cerca de 90 por cento, é vendida para Espanha”, indicando que, muitas vezes, “o porco é de origem portuguesa e leva designação espanhola”.

“Em termos económicos, a fileira ao nível da produção valerá 25 milhões de euros, mas se a transformássemos multiplicaríamos [o valor] por quatro”, previu.

O responsável justificou a situação por “não haver capacidade instalada em Portugal para transformar o número de porcos já produzidos”, considerando que os matadouros especializados e indústrias de transformação que existem são “muito poucas”.

A venda dos animais para Espanha “não é absolutamente dramático”, ressalvou Bulhão Martins, mas alertou que, com a exportação, “o valor fica em Espanha”, o que “é pior para a economia portuguesa”.

“É evidente que é um problema da iniciativa privada”, disse, defendendo que “há mecanismos de política, apoios ao investimento e outro tipo de ajudas que poderão melhorar o desempenho do setor em Portugal”.

O presidente da ANCPA indicou que o setor está novamente a crescer, depois da crise de 2008 ter afetado negativamente o número de produtores e de efetivo.