O embaixador de Angola, António Luvualu de Carvalho, rebateu as críticas do deputado socialista João Soares pela falta de liberdade de imprensa no seu país, ao questionar o excesso de interesse dos media portugueses pela situação política e económica angolana. “Por onde sai esta paixão quase mórbida por Angola?”, perguntou. Num debate realizado pela RTP3, o embaixador disse ao socialista — desde sempre conotado com a UNITA — que em Angola “não se fazem manchetes negativas sobre Portugal” e reafirmou que no país há livre circulação de informações.

João Soares reconheceu que “as questões de Angola são vistas com uma imensa paixão, mas não contra Angola, mas por Angola”. O deputado português acredita que a imprensa angolana “não tem pluralismo e isenção”, e citou o “poder” que o Jornal de Angola tem em detrimento das “folhas de couve” — forma como qualificou os jornais de “pequenas tiragens” com “alcance limitado” que circulam no país.

Para Luvualu de Carvalho, “a imprensa em Angola é livre e o Jornal de Angola tem feito o seu bom trabalho”, e muitas destas “‘folhas de couve’ não durariam um dia em Portugal pela falta de ética”. O embaixador citou o caso do jornalista Rafael Marques, que foi condenado a seis meses de prisão com pena suspensa por “crime de difamação caluniosa”, uma informação que para o representante do país africano foi mal dimensionada pela imprensa estrangeira. Luvualu de Carvalho explicou que o jornalista foi “foi processado por um grupo de generais” e que se chegou a um acordo mútuo entre as partes”. E afirmou: “O senhor presidente não dá ordens de prisão”.

Carvalho

António Luvualu de Carvalho e João Soares debateram sobre a situação política e económica de Angola na RTP3

Questionado sobre a longevidade de José Eduardo dos Santos como Presidente do país, cargo que ocupa há 36 anos, Luvualu De Carvalho defendeu que esta “não é uma questão unicamente africana” e fez referência a Islândia, país que teve Ólafur Ragnar Grímsson como chefe de Estado por 20 anos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Não há nenhum país do mundo em que o Presidente esteja no poder, por eleições livres e justas por 35 anos seguidos”, atacou João Soares. “O que passou, passou. Deixem o José Eduardo dos Santos ir para a reforma e deixem a democracia funcionar e vão fazer uns aninhos de oposição”, argumentou o ex-ministro da Cultura português. “O senhor quer que o MPLA perca as eleições, mas o povo angolano não quer”, rebateu o embaixador angolano.

Indagado pelo socialista sobre o congresso do MPLA, que reelegeu José Eduardo dos Santos como líder do partido com 99,6%, em agosto, Luvualu de Carvalho disse que “o congresso provou que o partido é um partido múltiplo, com diversas forças” e que os observadores internacionais “só assistem as sessões de abertura e encerramento”.

Defendeu ainda que a candidatura única “não é uma coisa exclusiva de Angola” e citou o Bloco de Esquerda, “que dissolveu a comissão permanente para tornar Catarina Martins a única líder do partido”, e o PSD, “que tem reeleito Pedro Passos Coelho como candidato único com índices superiores a 88%”.