O embaixador itinerante de Angola considera que a gestão de Isabel dos Santos à frente da Sonangol trouxe melhorias face à anterior gestão, o que veio calar críticas quanto à nomeação da filha do Presidente angolano para a petrolífera estatal.

“Levantaram-se algumas vozes, mas acredito que depois dos primeiros resultados apresentados pela sua administração – não por ela em particular, mas pela administração como um todo – acredito que a opinião é diferente, porque nota-se que existe um conhecimento muito grande do que se está a fazer”, explicou António Luvualu de Carvalho em entrevista à agência Lusa.

Luvualu de Carvalho considerou que a nomeação de Isabel dos Santos para presidente da Sonangol não choca com a Lei da Probidade Administrativa angolana, que regula o comportamento dos órgãos eleitos e da administração pública

“Eu acredito que não. Até porque foram apresentados vários pareceres jurídicos. Para contrariar a lei da probidade teria de ser alguém inimputável para o cargo, um menor de idade, uma pessoa com capacidades intelectuais reduzidas, o que concretamente não é o caso. Acredito que neste caso em particular tentou-se fazer uma celeuma que depois acabou por não se revelar positiva para quem a levantou”, realçou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O embaixador defendeu – tal como tinha feito noutras ocasiões – que os filhos de titulares de cargos executivos “não estão diminuídos de exercer o seu papel enquanto cidadãos”.

“A engenheira Isabel dos Santos tem a sua formação, é cidadã angolana, por que razão haveríamos de coartar esse direito? Se tem capacidades plenas para tal – demonstrou-as noutras empresas: em Portugal, em Angola, na Inglaterra e noutras partes do mundo – porque não dar a possibilidade a uma cidadã angolana de desempenhar o seu papel e poder contribuir para o crescimento do país?”, questionou.

A Sonangol garantiu mais de 65% das receitas que o Estado angolano angariou em junho, totalizando 84.659 milhões de kwanzas (465 milhões de euros), indicam dados oficiais compilados pela Lusa.

O barril exportado por Angola no primeiro semestre deste ano chegou a valer apenas 28 dólares, contra os 45 dólares que o Governo previa arrecadar, segundo o Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2016.

A 22 de junho, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, considerou que “com este nível de preços, a Sonangol ficou sem condições de garantir os recursos para o Orçamento”, especificando que “desde janeiro o Governo deixou de receber receitas da Sonangol porque a empresa não está em condições de o fazer”, numa aparente alusão aos compromissos da concessionária estatal com o seu próprio endividamento e despesas de funcionamento.

Na entrevista de hoje à Lusa, António Luvualu de Carvalho adiantou que, sob a gestão de Isabel dos Santos, a Sonangol corrigiu parcialmente a rota que a tinha levado, nos últimos meses, a deixar de contribuir para o Orçamento de Estado.

“Sabemos que de um tempo a esta parte a Sonangol tinha deixado de honrar os seus compromissos para com o Orçamento Geral do Estado, isso foi dito pelo próprio Presidente da República”, lembrou o diplomata. Além da entrada em funções de Isabel dos Santos, em junho, Luvualu de Carvalho ressalvou que é preciso “reconhecer que nos últimos 15 a 20 dias o preço do barril de petróleo registou uma ligeira atualização positiva nos mercados internacionais”.

“Isso faz com que a Sonangol consiga ter mais receitas, maiores equilíbrios e, do ponto de vista da administração, possa corrigir algumas das coisas que não se encontravam no melhor caminho, em função da crise que se vivia”, disse António Luvualu de Carvalho.

Ou seja, para o embaixador, o objetivo final da multinacional angolana (como já era com a anterior administração) é o de se manter “como segunda maior empresa petrolífera de África, atrás da Sonatrach argelina, e como uma das 50 maiores petrolíferas do Mundo”, pelo que insistiu que se deve “parar com essa questão de ser filha ou sobrinha”.

“Não nos levará a lado nenhum”, concluiu.