No ano em que apaga dez velas no bolo de aniversário, o MOTELX-Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa (6 a 11 de Setembro), apresenta duas modificações. Uma, a mais discreta, é gráfica: o nome do festival passa a ser todo em maiúsculas, MOTELX, em vez de MOTELx. A segunda, mais visível, é na estrutura da programação, com a estreia de uma secção competitiva reservada a filmes do género realizados na Europa. O vencedor recebe um Meliès d’Argent e irá representar o MOTELX ao prémio Meliès d’Or, atribuído anualmente pela Federação Europeia de Festivais de Cinema Fantástico. Assim, à competição da Melhor Curta Portuguesa, o festival junta esta nova, de longas europeias. Competem sete fitas, de países como a Grã-Bretanha, a Turquia, a Alemanha, a Espanha ou a Noruega. Quanto ao filme de abertura deste ano é “Don’t Breathe”, um “thriller” realizado nos EUA por um uruguaio, Fede Alvarez.

No restante, o MOTELX mantém o seu formato tradicional, dominado pela secção não-competitiva Serviço de Quarto, onde é apresentada uma escolha muito abrangente de filmes de terror e fantásticos rodados nos últimos dois anos, complementada pelas secções paralelas e especiais. O convidado especial deste ano é o italiano Ruggero Deodato, autor de “Holocausto Canibal” (1980), um dos filmes mais proibidos, censurados e execrados da história do cinema, que chegou a levar o seu autor à barra do tribunal e deu origem a um subgénero, o “terror canibal”. Estreou-se em Lisboa no cinema Politeama, com uma campanha promocional feita à medida.

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Portugal está representado em dois tempos. Na secção Quarto Perdido, dedicada aos filmes nacionais, que este ano homenageia a realizadora Noémia Delgado, recentemente falecida, com a exibição de duas obras que rodou para a série “Contos Fantásticos”, da RTP nos anos 80, “A Princesinha das Rosas” e “Tiaga”. E com a projeção de “O Segredo das Pedras Vivas”, de António de Macedo, o único realizador nacional que se tem dedicado regularmente ao cinema fantástico. Trata-se de uma versão retrabalhada da série “O Altar dos Holocaustos”, que Macedo assinou para a RTP em 1992.

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Selecionados das várias secções do MOTELX 2016, escolhemos destacar seis filmes de terror muito diferentes e vindos de países bastante variados, e ainda um documentário-entrevista sobre um dos principais realizadores americanos associados ao género.

Terror fantasmagórico – “Personal Shopper”, de Olivier Assayas

O francês Olivier Assayas ganhou, “ex aequo”, o Prémio de Melhor Realizador no Festival de Cannes com este “thriller” sobrenatural onde Kristen Stewart interpreta Maureen, uma jovem norte-americana que vive em Paris e trabalha como “personal shopper” de uma celebridade. Maureen começa a receber estranhas e inquietantes mensagens que poderão ser do Além, nomeadamente do seu irmão gémeo, que morreu há pouco tempo. Serão reais, ou estará ela a ficar louca? (Dia 11, 17h05, Cinema São Jorge – Sala Manoel de Oliveira)

Terror japonês – “Creepy”, de Kiyoshi Kurosawa

O realizador de “Sonata de Tóquio” e “Rumo à Outra Margem”, mas também de “thrillers” psicológicos e sobrenaturais como “Cure”, “Rofuto” ou “Castigo”, volta neste filme ao policial de terror realista. Um antigo detetive e psicólogo criminal muda-se para um sossegado subúrbio, mas começa a desconfiar que um dos seus vizinhos, sujeito afável e banal, não é quem aparenta ser. (Dia 9, 00h00, Tivoli BBVA)

Terror do Irão — “Under the Shadow”, de Babak Anvari

Apesar de ser uma teocracia, é no Irão que se faz atualmente algum do melhor cinema do mundo, e o fantástico também não falta à chamada. Em “Under the Shadow”, passado em 1988, durante a guerra Irão-Iraque, Babak Anvari conta a história de uma mãe e de uma filha que são assombradas, em Teerão, por entidades maléficas do imaginário sobrenatural do Médio Oriente. (Dia 11, 00h15, Cinema São Jorge – Sala 3)

Terror-catástrofe – “The Wave”, de Roar Uthaug

E agora, eis o primeiro “filme-catástrofe” realizado na Noruega e inspirado por incontáveis exemplares do género rodados em Hollywood. O desabamento de parte de uma montanha num fiorde dá origem a um maremoto, e um geólogo e a sua família estão entre as pessoas que correm contra o tempo para salvarem a vida. “The Wave” foi o campeão de espectadores na Noruega em 2015. (Dia 11, 17h10, Tivoli BBVA)

Terror histórico – “The Black Death”, de Chalermchatri Yukol

O cinema tailandês mais “mainstream” praticamente não chega às salas portuguesas, por isso, “The Black Death” é uma oportunidade para darmos uma espreitadela. Passado em meados do século XVI e aproveitando acontecimentos reais dessa época, o filme funde o épico histórico com um enredo envolvendo “zombies”. É a primeira que estes aparecem no cinema da Tailândia. (Dia 8, 00h00, Cinema São Jorge – Sala Manoel de Oliveira)

Terror erótico – “O Monstro”, de Walerian Borowczyk

O MOTELX homenageia este ano o cineasta polaco Walerian Borowczyk (1983-2006), que fez a maior parte da carreira em França. Um dos seus filmes mais singulares é “O Monstro” (1975), uma fantasia erótica e de terror vagamente inspirada numa obra de Prosper Mérimée, sobre a relação sexual entre uma rica herdeira e um ente monstruoso. Estreado em Portugal em plena agitação do PREC, o filme, originalmente um dos episódios de “Contos Imorais” (1974), fez sensação e esteve vários meses em cartaz. (Dia 8, 19h15, São Jorge 3)

“De Palma”, de Jake Paltrow e Noah Baumbach

Dois jovens realizadores americanos juntaram-se à esquina para assinarem um documentário-entrevista sobre um ilustre colega de uma brilhante geração anterior, que ambos admiram: Brian De Palma, autor de filmes-chave de terror e de “thrillers” como “Sisters”, “O Fantasma do Paraíso”, “Obsessão”, “Carrie”, “A Fúria”, “Vestida para Matar”, “Blow Out – Explosão”, “Testemunha de um Crime” ou “Mulher Fatal”. (Dia 7, 16h45, São Jorge 3)