Há dois anos, quando chegou a Cabo Verde, Issufi Candi, natural da Guiné-Bissau, não sabia ler nem escrever. Hoje recebeu o certificado do segundo ano ao abrigo de um projeto de alfabetização de imigrantes africanos promovido por jovens guineenses.

Issufi Candi, agora com 24 anos, saiu da Guiné-Bissau há dois à procura de melhores condições de vida em Cabo Verde. Praticamente só sabia fazer pão, mas começou a trabalhar como guarda.

Assim que apareceu a oportunidade de apreender a ler e a escrever em Cabo Verde, não pensou duas vezes, tendo começado a frequentar aulas de alfabetização. Hoje, recebeu o seu certificado de conclusão do 2º ano de escolaridade.

“Ler e escrever é algo muito importante para todos. Não tive essa oportunidade na Guiné-Bissau, mas agora já sei ler e escrever, enviar mensagens e comunicar melhor com outras pessoas”, indicou.

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Issufi deixou de trabalhar como guarda para se dedicar ao que melhor sabe fazer: pão. E hoje trabalha numa padaria na cidade da Praia e concilia o trabalho e as aulas de alfabetização de adultos, sistema que já tem muita tradição em Cabo Verde.

O guineense não quer parar por aqui. “Enquanto estiver em Cabo Verde quero continuar a estudar”, traçou Issufi, afirmando que a sua vida mudou muito desde que começou a frequentar as aulas de alfabetização, ganhou muita experiência e aprendeu muitas coisas.

Issufi Candi é um dos 37 imigrantes africanos residentes em Cabo Verde que receberam hoje o seu certificado de alfabetização de adultos no âmbito do projeto desenvolvido há dois anos pela Associação de Estudantes e Investigadores Guineenses em Cabo Verde (AEIG-CV).

Além dos imigrantes da Guiné-Bissau, que são a maioria, há alunos do Senegal e da Guiné-Conacri, e até cabo-verdianos, num projeto que conta ainda com o apoio dos Governos do Brasil e de Cabo Verde e de várias outras entidades cabo-verdianas.

A propina mensal é de 1.500 escudos (13,6 euros), sendo que os estudantes pagam 500 escudos (4,53 euros) e o Governo cabo-verdiano financia o resto, neste projeto que segundo o embaixador do Brasil em Cabo Verde, João Inácio Padilha, tem uma “vocação humanitária”.

Segundo Paulo Kuantcham, coordenador nacional do projeto, foram inscritos 86 alunos há dois anos, mas só 37 foram selecionados para a realização dos testes e exames, tendo recebido o certificado de conclusão do 2º e 4º anos de escolaridade.

Paulo indicou que todos os alunos são profissionais, desde carpinteiros, ferreiros, pedreiros e muitos guardas-noturnos de países da costa ocidental africana. Há ainda quatro cabo-verdianos inscritos, que convenceram os responsáveis dizendo que “também são africanos”.

“É uma oportunidade muito nova na vida desses alunos porque ao estar no terreno, falar com eles, constatamos os seus reais problemas, daí que a nossa mensagem passou e eles nos veem como exemplos”, salientou o coordenador, que também estudou em Cabo Verde.

Além da Praia, as aulas decorrem em Santa Cruz e Assomada, interior da ilha de Santiago, mas já há pedidos para Sal e Boavista, ilhas que também acolhem muitos imigrantes africanos.

“Hoje é um dia marcante para estes alunos, tendo em conta que nunca pensavam que algum dia iriam ter um papel como diploma ou certificado”, prosseguiu o responsável, esperando que mais alunos possam aderir ao projeto no próximo.

Paulo Kuantcham disse que o objetivo é reduzir o número de analfabetismo nos imigrantes africanos residentes em Cabo Verde e abrir-lhes novas oportunidades de emprego.

A entrega de certificados, realizada no Centro Cultural do Brasil (CCB) em Cabo Verde, está enquadrada nas comemorações do dia mundial da alfabetização, que se assinala quarta-feira.