A Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT) considerou num parecer que os serviços prestados pela nova plataforma de mobilidade Uber podem ser “um risco” para o público por não cumprirem as mesmas exigências do que os taxistas.

“Quem utiliza este serviço não sabe a quem pertence aquele veículo, nem que o condutor não está habilitado com carteira profissional para o efeito […], nem sabe que o seu transporte não está abrangido por nenhum seguro, em caso de acidente”, afirmou aquela entidade.

A posição da AMT consta de um parecer pedido pela Assembleia da República sobre as condições de transporte coletivo de passageiros e o serviço prestado pela Uber a que a Lusa teve acesso esta sexta-feira.

Pode ler-se ainda no parecer, datado de 02 de setembro, que em caso de acidente ou crime em que o passageiro seja afetado “não é fácil identificar o responsável pela reparação do dano ou que responda pelo crime praticado, tendo até em atenção que a Uber, afinal, alega que quem presta o serviço é a empresa local – que o utilizador de todo desconhece”.

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“Assim sendo, os acordos de transporte, quer com veículos e motoristas não devidamente habilitados, quer com passageiros não protegidos, prejudicam diariamente, a cada contrato e serviço, o público em geral”, acrescenta a AMT.

No documento, aquela Autoridade considera também que as novas plataformas de mobilidade “não protegem adequadamente” quem trabalha para elas porque não têm horários definidos, enquadramento em categorias profissionais concretas, direito a férias remuneradas, segurança e saúde no trabalho e mesmo a proteção social.

Afirmando que aquelas plataformas criaram especificidades que “não são subsumíveis às tradicionais relações laborais”, a AMT diz ainda que “este fenómeno irá inevitavelmente colocar desafios relativos ao modo como interpretamos o Direito do Trabalho e as relações entre estas empresas e os seus trabalhadores/colaboradores”.

A Autoridade defende no parecer que, sendo “possível e viável a legalização” da Uber, deve ser avaliada a necessidade de um “escrutínio mais apertado” aos contratos celebrados com os parceiros, na promoção e defesa da concorrência e na defesa do cidadão.

Quanto às empresas de táxi, a AMT considera que, com estas novas plataformas, ficam “obrigadas” a modernizar-se e a basear a sua competitividade nas plataformas existentes no mercado e não “no protecionismo resultante da hiper-regulamentação clássica” que “carece de uma revisão profunda”.

Frisando estar “aberta a apoiar soluções baseadas em inovações tecnológicas”, a Autoridade defendeu que devem continuar a ser garantidos os “princípios legais da concorrência, transparência e não discriminação” e que tanto as novas empresas como as dos táxis devem criar modelos de negócio competitivos.

A Uber e a Cabify são plataformas ‘online’ que permitem pedir carros de transporte de passageiros, com uma aplicação para ‘smartphones’ que liga quem se quer deslocar a operadores de transporte. A sua instalação em Portugal tem sido muito contestada pelos taxistas, tal como noutros países, tendo já havido registo de situações de confronto e agressões entre os profissionais.

Os taxistas, através das suas associações representativas reclamam sofrer de concorrência desleal em virtude do quadro legislativo existente que obriga a determinados preceitos financeiros e de segurança (licenças, seguros, entre outros) para poderem exercer a sua atividade.

Em abril, milhares de taxistas protestaram em Lisboa, no Porto e em Faro. Uma nova manifestação foi marcada para 10 de outubro.