As autópsias aos corpos das três brasileiras encontradas mortas em Tires, no concelho de Cascais, ainda não foram concluídas. Segundo apurou o Observador junto de fonte da Polícia Judiciária, quase três semanas depois ainda não foi possível concluir a causa da morte das três mulheres devido ao estado de decomposição dos cadáveres.

Os corpos das irmãs Michelle Santana Ferreira, de 28 anos, da irmã Lidiana, de 16, e da namorada desta, Thayane Mendes Dias, de 21, foram encontrados a 26 de agosto num tanque de um hotel para cães em Tires, Cascais. Era ali que Dinai Alves, o namorado de Michelle e o principal suspeito do triplo homicídio, trabalhava antes de fugir para o Brasil — onde se encontra preso.

Os corpos foram imediatamente transportados para o Instituto Nacional de Medicina Legal, mas por se encontrarem em elevado estado de decomposição obrigam a exames periciais mais complexos. E, quase três semanas depois, ainda se desconhece como as três brasileiras a viver em Portugal morreram. Enquanto a Polícia Judiciária aguarda os exames periciais para prosseguir com o processo, uma amiga das vítimas tenta, nos Estados Unidos, juntar dinheiro para poder levar os restos mortais das três mulheres para o Brasil.

A primeira campanha levada a cabo por Irene Meira começou em abril, ainda a família das vítimas acreditava na tese de que as três raparigas tinham desaparecido, talvez às mãos de uma rede de tráfico de seres humanos. Na altura, a ideia era que a mãe das duas irmãs, Solange Santana, conseguisse dinheiro para viajar até Portugal, perceber os últimos passos das raparigas e pressionar as autoridades para procurá-las.

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A campanha foi feita através do Gofundme e mantida já depois da notícia do resgate dos corpos com o objetivo de trasladar os restos mortais. Até agora conseguiu-se pouco mais de 5500 dólares (cerca de 4900 euros). Este sábado, Irene pretende fazer uma nova campanha para a comunidade brasileira a viver nos Estados Unidos. “Vamos vender marmitas de arroz, feijão, salada, refrigerante, por 12 dólares (cerca de 10 euros)”, disse ao Observador. Quem quiser, pode fazer doações além do valor da refeição.

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Irene é natural da mesma cidade das irmãs Michelle e Lidiana e amiga da mãe delas, Solange Santana. “Ela é uma pessoa pobre, não tem dinheiro sequer para viajar para Portugal. A ideia, e também porque é a mais barata, é conseguir dinheiro para o irmão delas viajar para Portugal e levar as cinzas. Também é preciso dinheiro para cremar os corpos”, explica. E o orçamento que pediram aponta para 2750 euros cada corpo.

A brasileira a residir nos Estados Unidos decidiu ajudar a família quando se apercebeu das publicações desesperadas de Solange na rede social Facebook. “A Michelle era minha amiga e das minhas irmãs, chegaram a morar juntas em Portugal. E eu sei o que é estar fora do nosso país”, prossegue. Irene só quer que a família das três vítimas possa fazer-lhes um funeral no Brasil. “A Solange está a sofrer muito, mas como é muito religiosa ela acredita que Dinai vai ser punido”.

Irene recorda que antes do desaparecimento das três raparigas, Michelle falava habitualmente com a mãe pelo Whatsapp. Em janeiro Michelle deixou de comunicar, Solange insistiu com mensagens através das redes sociais e acabou por receber como resposta de que uma falha na internet não lhe permitia comunicar com a frequência habitual. Mas Solange sentiu que “a conversa estava diferente”, recorda a amiga da família. Foi neste momento que Solange pediu a uma amiga das filhas para lhes bater à porta de casa e perceber o que se estava a passar.

Segundo Irene, quando a amiga percebeu que elas não estavam em casa foi à polícia apresentar queixa, mas a formalização não terá sido logo possível. Elas eram maiores de idade e, por isso, livres de partir para qualquer parte do mundo. Também no Brasil, Solange tentava que se fizesse alguma coisa. Acreditava que as filhas tinham sido vítimas de uma rede de tráfico de seres humanos.

“Demorou muito tempo, elas desapareceram em fevereiro e só em maio a policia brasileira entrou em contacto com a portuguesa”, recorda Irene, ou seja, um mês antes da família das vítimas perceber que Dinai — que também cortara contacto com a família da namorada, tinha voltado ao Brasil. Melhor. Tinha fugido de Portugal.

Michelle estava grávida e não tinha descoberto que ia ser mãe há muito tempo. Uma das teses da PJ é que Dinai lhe tenha roubado a vida por ela estar grávida. É que ele tinha mulher e filhos no Brasil. Só não lhes disse que em Portugal também.