É um dos maiores contribuintes para a receita fiscal, rende 4.100 milhões de euros por ano, e tem um dos maiores exportadores industriais, a Galp, que também é grande importadora. Movimenta vendas superiores a 20 mil milhões de euros por ano, mas é responsável por apenas 0,6% do emprego, o que equivale a 20 mil postos de trabalho. Estes são alguns números do mercado petrolífero português que constam do estudo “O Contributo da Indústria Petrolífera para a Economia Portuguesa”, apresentado esta terça-feira por iniciativa da associação que representa as empresas petrolíferas, a APETRO.

É um retrato em números que pretende demonstrar a força económica, e até social, de um setor que “não é querido”, em termos de opinião pública, reconhece o secretário-geral da APETRO, porque é visto como poluidor e como acumulando elevados lucros graças aos preços “caros” dos combustíveis, ainda que mais de metade sejam em regra impostos.

António Comprido assumiu, na apresentação, que a “indústria petrolífera atravessa uma grande crise a nível mundial” por causa da forte descida dos preços do petróleo. E salientou que, ao contrário da expectativa de muitos, a baixa do petróleo não trouxe grande prosperidade à economia mundial. “Esqueceram-se do reverso da medalha, das muitas economias que dependem das receitas do petróleo” e que estão a passar dificuldades, como Angola, um dos maiores parceiros comerciais de Portugal.

O estudo não aborda as novas tendências no mercado de energia que podem, no limite e a prazo, comprometer a força económica da indústria petrolífera, caso se reduza a dependência dos transportes em relação aos combustíveis fósseis. Mas a questão não passou ao lado do secretário de Estado da Energia que, no encerramento do evento, desafiou a APETRO a refletir sobre as estratégias para o futuro. Um futuro em que a aposta nas energias renováveis vai ser maior, sublinhou Jorge Sanches Seguro, ainda que sem o recurso a subsídios, como no passado, e em que vai existir uma rede nacional de abastecimento para carros elétricos, com 50 postos de carregamento rápido até ao final deste ano.

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“Não queremos que o setor fique demasiado surpreendido com a mudança nos hábitos do consumo” e que tenha tempo para adaptar as suas estruturas a um novo paradigma no mercado da energia, sublinhou Jorge Sanches Seguro.

O governante elogiou, ainda, os resultados da oferta combustíveis low-cost (simples e de custo mais baixo), uma iniciativa imposta pelo anterior governo e fortemente contestada pelas petrolíferas que, segundo Jorge Sanches Seguro, aumentou a oferta de preços. E deixou ainda o aviso de que o governo pretende, até ao final da legislatura, pôr em prática no setor petrolífero a separação vertical ao nível da logística e do armazenamento, tal como foi feito na eletricidade e no gás natural.

Em Portugal, a indústria petrolífera vive anos de estagnação do consumo e do crescimento da concorrência por parte de entidades não petrolíferas, com destaque para os operadores low-cost e para as empresas de distribuição que já ultrapassaram a Galp em termos de quota de mercado.

O estudo, da autoria dos economistas Eurico Brilhante Dias e Gonçalo Pernas, conclui que existe uma elevada cobertura geográfica de postos de abastecimento em Portugal Continental, com uma distância média de 2,7 quilómetros entre postos. Mas há, também, uma grande assimetria geográfica, entre a distância média em Lisboa, de 1,1 quilómetros e a registada no distrito de Portalegre — 6,8 quilómetros.

A mesma assimetria verifica-se ao nível da distância mínima máxima entre postos de abastecimento que é de 19,3 quilómetros a nível nacional, mas varia entre 7,6 quilómetros no distrito de Lisboa e os 41,2 quilómetros em Beja.

O setor petrolífero em Portugal representa um volume de negócios anual (2014) entre 22,5 e 24 mil milhões de euros, o que corresponde a cerca de 7% a 7,5% do volume faturado pelas empresas nacionais, no entanto em número de empresas pesa apenas 0,2% do total nacional. Os produtos do setor valem 7,3% a 8% das exportações nacionais, mas também são fortemente responsáveis pelas importações, sobretudo pela via da matéria-prima o petróleo. Estes valores estão sobretudo concentrados na operação da Galp Energia, a única empresa de refinação em Portugal.

O setor emprega 20 mil pessoas, 0,6% do emprego total, do qual a larga maioria é no retalho de combustíveis. O estudo salienta um salário médio acima da média nacional, que corresponde também um número mais elevado de empregos qualificados.