Jean-Claude Juncker esteve esta quarta-feira em Estrasburgo para falar sobre o estado da União Europeia e os eurodeputados portugueses aproveitaram a ocasião para criticar a eventual suspensão de fundos estruturais a Portugal, que ainda está em cima da mesa. De Paulo Rangel a João Ferreira, passando por Marisa Matias, todos alertaram Juncker para a “injustiça” daquela penalização. Todos menos a eurodeputada do PS, Maria João Rodrigues, que optou por usar o seu tempo para falar sobre o novo roteiro de prioridades para a Europa pós-brexit.

A eurodeputada socialista afirma ao Observador que Portugal “não pode autolimitar-se à questão das sanções quando se exprime no espaço europeu”, e que quis usar o palco de Estrasburgo para dar recados à Eslováquia — que organiza esta sexta-feira a cimeira de Bratislava.

Num debate longo onde cada eurodeputado tem cerca de um minuto para questionar o presidente da Comissão Europeia, a geringonça desuniu-se, com o PCP e o BE a atacarem Juncker sobre a questão das sanções e o PS a elogiar o presidente da Comissão Europeia por ter dado uma “contribuição notável” sobre o novo roteiro da Europa.

O eurodeputado comunista João Ferreira endureceu o discurso contra os “interesses” do “grande capital” defendidos pela Europa de Juncker e Barroso, dizendo que “para os trabalhadores e os povos só sobram as ameaças e a chantagem, como prova o inqualificável processo de sanções para Portugal”. A bloquista Marisa Matias confrontou o homem forte de Bruxelas com as sucessivas violações das regras orçamentais dos governos francês e alemão — questionando Juncker sobre se não sentia “vergonha” por ignorar esses casos — e permitir que se continuasse a discutir o “processo vergonhoso de sanções” contra Portugal.

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Ao coro juntou-se o eurodeputado social-democrata e vice-presidente do Partido Popular Europeu, Paulo Rangel, que criticou Juncker (que pertence à mesma família política do PSD) por estar “preocupado com o populismo e o euroceticismo” mas ao mesmo tempo estar a equacionar sancionar países como Portugal e Espanha. “Isso só aumentará o populismo e a força dos que estão contra o projeto europeu”, disse.

“Está muito preocupado com o populismo e o euroceticismo mas o que vemos nas notícias e nos bastidores da UE é que só se fala na possibilidade de suspender e cortar os fundos estruturais a Portugal e Espanha. Países que fizeram sacrifícios enormes e que estão disponíveis para cumprir as metas não deviam ser sancionados dessa maneira. Se a Comissão considerou que o Estado português não devia ser sancionado também deve considerar que o povo, as universidades as empresas não devem ser sancionados com a suspensão dos fundos. Isso só aumentará o populismo e a força dos que estão contra o projeto europeu”, disse Rangel em Estrasburgo.

PS não quer limitar debate à questão das sanções

Do lado do PS, a eurodeputada Maria João Rodrigues, que coordenou as últimas negociações entre o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia em torno daquelas que devem ser as novas prioridades da Europa pós-brexit, optou por falar sobre a cimeira de Bratislava da próxima sexta-feira. “Precisamos de um novo roteiro com melhores soluções europeias”, disse Maria João Rodrigues em Estrasburgo. E acrescentou: “Com a sua intervenção fez uma contribuição notável nesse sentido mas o Parlamento Europeu precisa de aprovar posições muito claras com esses objetivos, para que o Conselho europeu na cimeira de Bratislava produza resultados”.

A eurodeputada socialista defende que a eventual suspensão de fundos estruturais é “absurda e anacrónica”, mas afirma ao Observador que “não podia limitar o [seu] discurso às sanções”:

Portugal não pode autolimitar-se a essa questão quando se exprime no debate europeu”.

Para a vice-presidente da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, é importante que Portugal tenha “uma voz ativa para saber quais são as grandes prioridades da Europa e no projeto europeu” e que não deixe que o debate europeu se cinja apenas às questões de segurança, terrorismo e refugiados.

“É preciso também apresentar soluções para resolver a crise da zona euro, e caminhar para a união bancária”, afirma ao Observador. “Estas prioridades estão a correr o risco de ser secundarizadas”, continua, explicando ainda que quis deixar o recado aos eurodeputados eslovacos que organizam esta sexta-feira a cimeira europeia em Bratislava.