Que não se ofendam os dinamarqueses (os que compreendem o português, claro) ao lerem isto. Mas o Copenhaga é um chavão com pernas. Altos e toscos, todos eles — do guarda-redes Olsen ao ponta-de-lança Cornelius. O que Óliver ou Otávio (que são meia-lecas) mais viram durante o FC Porto-Copenhaga foi o preto dos calções aos adversários; o rosto estava no “primeiro andar” e eles no rés-do-chão. Então, e toscos? Também são. Não se lhes peça que driblem (lá está: como Óliver ou Otávio) este mundo e o outro. O Copenhaga é, isso sim, esforçado, sem virar a cara à luta. E suam, os do Copenhaga. Muito. O que mais deles se viu na primeira parte foi suor a pingar por tudo quanto era poro.

O Copenhaga esteve sempre encostadinho lá atrás, na defesa. Óliver (sobretudo ele) distribuía jogo, faltando só quem rematasse o que o espanhol distribuía. Quem não remataria, por certo, era Santander. Nem Cornelius. Os dois da vida airada, na frente do Copenhaga. Não havia maneira de tocaram na bola. Não havia, mas houve. Uma só vez. Uma: aos 11′. E chegou para desassossegar o Dragão. Cornelius, longuíssimo de pernas e de tudo, cruzou à direita, cruzou para dentro da área, e foi lá dentro que Santander — este, está visto, não é dinamarquês, mas paraguaio — saltou mais alto que Felipe e Marcano, cabeceando em jeito. Quem teve jeitinho, mas para os reflexos, foi Casillas, que defendeu para canto rente à barra.

Ai é assim? Nem avisam? O FC Porto não gostou do que viu. E chegou ao 1-0 logo depois: 13′. É de Otávio o golo. Um golo onde a defesa do Copenhaga ficou mal fotografia. Flash, flash! Tudo começou em Alex Telles, que correu esquerda fora, cruzou para a área, mas cruzou mal e a bola acabou nos pés do central Jorgensen. Dele, de Jorgensen, esta vai ter com o capitão Delaney. Otávio pressionou-o, “sacou-lhe” a bola em três tempos — de tão passivo que Delaney foi –, tabelou com André Silva à entrada da área, André devolveu a bola ao brasileiro de calcanhar e este chutou, na passada, em direção à “gaveta” — que é como quem diz: o canto superior esquerdo da baliza de Olsen. 1-0 no Dragão.

Toma lá, dá cá. O FC Porto a circular a bola. O Copenhaga a vê-la circular. Sempre na “retranca”, os dinamarqueses. Ora contem-se os que estavam recolhidos na defesa: Ankersen, Jorgensen, Johansson, Augustinsson, Gregus, Delaney, Kvist e Toutouh. Oito. E nem uma brecha se abria entre eles. Com isto, o Copenhaga “esvaziou” os bolsos na visita ao Porto: eram fichas atrás de fichas, para andar no “carrossel” que Nuno abrira no relvado do Dragão. Só faltava a música para embalar tantas voltinhas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O André ainda não sabe o que ele vale. “Ele”, Óliver Torres. À entrada da área, Óliver pisa a bola, rodopia sobre ela — mas “ela” fica onde está, sossegada e sem ir a nenhum lado –, o adversário vai com o espanhol — ele volta; o adversário não –, e depois de tanto se “armar” em Pina Bausch a dançar à frente de Kvist, lá se lembra de inventar um passe entre o defesa central (Johansson) e o esquerdo (Augustinsson) para dentro da área. Corona recebeu-o, cruzou rasteiro para dentro, mas André Silva chegou atrasado. Uma perna de atraso, que se chegasse a horas, àquela “hora” (41′) estaria 2-0 no Dragão. Sim: ele ainda não sabe o que Óliver vale.

Foi-se a primeira parte. Chegou a segunda. E a segunda ainda teve carrossel. Por pouco tempo. É de Cornelius (52′) o golo do empate, na insistência (ele é “chato” para os defesas, ó se é) e depois de muito a defesa do FC Porto falhar. Ludwig Augustinsson, à esquerda, cruza para a área, mas acerta em cheio da cabeça de Danilo. Sorte das sortes — para o dinamarquês, entenda-se –, a verdade é que de Danilo a bola segue para o segundo poste, Alex Telles é surpreendido com o desvio, não consegue cortar a bola, Cornelius recebe-a nas suas costas com peitaça e desvia para a baliza. Não consegue fazer golo. A bola esbarra em Marcano e Cornelius não consegue. Mas “esbarra em Marcano” é diferente de “Marcano corta”. A bola ficou na pequena área, redondinha, solitária, e o gigante dinamarquês foi tentar desviá-la uma segunda vez. Desta, conseguiu mesmo. E empatava o Copenhaga no Dragão.

Aos 66′, Ján Greguš, médio do Copenhaga, derruba Otávio (foi imprudente num “carrinho” desnecessário e a meio-campo) e vê o segundo cartão amarelo. Que é como quem diz: foi tomar banho mais cedo. Nuno Espírito Santo, expulso que Greguš estava, resolveu mudar. Fez entrar um matulão (Depoitre) lá para a frente, para perto de André Silva. E voltou-se a ver Brahimi no Dragão, que entretanto também entrou. Com isto, o FC Porto insiste (muuuuuito!) nos cruzamentos para a área (tem Brahimi — que continua um prega-cuecas –, Otávio, Telles, Layún e Óliver para cruzar; André Silva e Depoitre para desviar lá dentro), mas sem sucesso. É oficial: o carrossel, o da primeira parte, parou. E o FC Porto até tinha menos um dinamarquês para andar às voltinhas.

Depois do FC Porto muito insistir nos cruzamentos para dentro da área — e de muito os centrais do Copenhaga dizerem “não passarão” –, estes lá chegaram a Depoitre. No tempo extra, André Silva trabalha bem à direita, dribla Augustinsson, cruza rasteiro para o primeiro poste, Depoitre atrapalhou-se, não rematou de pé direito nem de esquerdo, a bola esbarrou-lhe nos dois e perdeu-se. Acabou? Ainda não. Depoitre haveria de ter mais uma tentativa para fazer o 2-1. Brahimi “despacha” Johansson na direita, entra na área, cruza rasteiro para o belga, mas este, de costas para a baliza, resolveu rematar de calcanhar — ainda que tivesse espaço para receber e rodar. Resultado? Um remate frouxo e mãos a cobrir o rosto pelo estádio todo. Oh no, he didn’t!