A presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) disse este sábado que nenhum juiz está impedido de dar entrevistas à imprensa, admitindo, no entanto, que se o fizerem correm “um risco” de ser mal interpretados.

Em declarações à agência Lusa a propósito da entrevista ao juiz Carlos Alexandre, publicada hoje no jornal Expresso, Manuela Paupério disse pensar que a intenção daquele juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal foi “apresentar-se, falar de si como pessoa, mostrar a pessoa por trás do juiz”.

“E portanto falou de si, das suas condições pessoais, das suas condições de vida, e quanto a isso eu creio que qualquer juiz, este e qualquer outro, não estão impedidos de o fazer”, referiu.

No entanto, “também este e qualquer outro terão de saber que aquilo que disserem pode ser interpretado se tirarem a partir das palavras que dizem algumas ilações corretas ou incorretas, mais de acordo com o que estava na ideia de quem proferiu as palavras”.

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“Digamos que é um risco a partir da altura em que é feito um tipo de entrevista desta”, frisou, sublinhando não ter ainda lido a entrevista.

Ao referir que da entrevista leu apenas “títulos e bocadinhos descontextualizados”, já que foi a convidada da SIC hoje de manhã para fazer a revista de imprensa, a presidente da ASJP adiantou que “vai ler com atenção a entrevista toda”.

“Não vou estudar a entrevista, não me cabe, não me compete. Vou lê-la, com a curiosidade que terá qualquer outra pessoa que tenha o jornal em mãos e queira ler essa entrevista”, frisou.

Questionada sobre o facto de o juiz Carlos Alexandre voltar a dizer que não tem amigos na magistratura, a presidente daquele órgão de disciplina e gestão de juízes escusou-se a comentar tal declaração.

“Nós somos mais de 2.000 juízes. Eu sei que tenho muitos amigos, na magistratura e fora dela, e, aliás, gosto de ter amigos, mas isso também tem a ver com o temperamento de cada um. (…) Cada pessoa é um ser único e isso depende das características de cada um”, observou.

Questionada sobre se é comum a exposição mediática a que aquele juiz do TCIC se submeteu na última semana, a presidente da ASJP admitiu que “não é habitual”.

“Não é muito habitual até porque, normalmente, a vida da pessoa do juiz não suscita muita curiosidade. As pessoas não querem saber nada do juiz a não ser o que ele vai fazer no processo”, indicou.

Não é “habitual até porque os juízes não estão vocacionados para isto. Não estão habituados a dar entrevistas e também não é habitual os juízes serem tão instados pela comunicação social para dar entrevistas”, concluiu.

Na entrevista publicada hoje no Expresso, Carlos Alexandre disse acreditar que o querem afastar, incluindo arguidos dos casos que tem em mãos.

Questionado sobre se estava a falar de arguidos que investiga, Carlos Alexandre respondeu: “Não sei. Há sempre interesses. Já tive incidentes de recusa nos processos e não interpreto isso como uma tentativa de afastamento”.

O Expresso revela que a entrevista publicada hoje foi realizada antes de outra àquele juiz do TCIC transmitida pela SIC, a 08 de setembro, na sequência da qual a defesa do ex-primeiro-ministro José Sócrates apresentou um pedido de recusa do juiz responsável pelo processo da Operação Marquês, na qual o antigo primeiro-ministro é arguido.