O candidato a secretário-geral as Nações Unidas António Guterres defende que a imparcialidade e a independência são “valores cruciais” naquele cargo e acredita que os manteve e cultivou quando esteve à frente do Alto Comissariado para os Refugiados.

“Ser alto-comissário para os Refugiados é estar no centro de todos os conflitos políticos no mundo e lidar com todas as partes”, disse o ex-primeiro-ministro português numa entrevista à agência noticiosa russa Sputnik, divulgada na segunda-feira.

“Acredito verdadeiramente que consegui sempre manter aqueles que são os valores cruciais da imparcialidade, da independência. Acredito que sou respeitado em todos esses cenários pelas diferentes partes porque nunca fui um instrumento de uns contra outros”, acrescentou.

Sobre o conflito na Síria, considerou que “ninguém está a ganhar aquela guerra, toda a gente está a perder” e que “há muitas contradições”.

“Acredito fortemente que se os países [envolvidos] se juntarem e compreenderem que os riscos para toda a gente são hoje muito maiores do que aquilo que podem tentar ganhar com esta ou aquela vantagem (…) a paz, no final, prevaleça”, afirmou à agência russa.

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Guterres falou ainda, na mesma entrevista, sobre refugiados, as migrações e as políticas europeias de integração, considerando como uma das suas “maiores frustrações” ver que vários países da Europa estão a fechar as suas fronteiras, invocando questões de segurança, num “sinal muito negativo para ao resto do mundo”.

Para o ex-primeiro-ministro português, isto é resultado, em certa medida, da ineficácia e do investimento insuficiente em políticas de integração na Europa no passado recente.

“Não houve investimento suficiente na criação de condições para que sociedades que estão a torna-se todas multiétnicas, multirreligiosas, multiculturais consigam entender isso”, afirmou.

Para Guterres, as migrações são a “solução para os problemas do mundo” e lembra, na entrevista, que tentou explicar isso mesmo aos portugueses quando chefiou o Governo: “Lembro-me que decidimos dizer a verdade às pessoas e dizer ‘Olhem, nós, portugueses, temos uma taxa de fertilidade de 1,3, o que significa que não conseguimos sobreviver como nação sem migração'”.

Segundo a Sputnik, o candidato à liderança da ONU afirmou que a Rússia é um bom exemplo de construção de uma sociedade multicultural, com diversas nações a viverem juntas em paz.

Guterres é um dos dez candidatos ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas e ficou, até agora, à frente em todas as votações realizadas pelos membros do Conselho de Segurança.

Haverá nova votação a 26 de setembro e outra no início de outubro. Nesta última, os votos dos membros permanentes do conselho, que têm poder de veto sobre os candidatos, como é o caso da Rússia, serão destacados.

Apesar da pressão internacional para escolher pela primeira vez uma mulher para o cargo, ainda nenhuma das candidatas (cinco) conseguiu melhor do que um terceiro lugar nas votações.

O segundo lugar tem passado entre vários candidatos da Europa de Leste. O cargo é habitualmente atribuído a candidatos de diferentes áreas geográficas e um grupo de países, incluindo a Rússia, defende que chegou a hora de alguém desta região liderar a ONU.