Vinte setembro. Sim, hoje é 20 setembro. Quarta-feira. Sim, hoje é quarta-feira. Sim senhor, hoje é quarta-feira, 20 setembro. De 2000. Calma lá, não estamos assim tão na lua. Sabemos ferpeitamente que hoje é terça-feira, 20 setembro 2016. O salto para o passado sugere-nos uma ligeira alteração. Menos 16 anos, mais um dia.

Voilà: quarta-feira, 20 setembro 2000. É um dia sem futebol em Portugal. Tal como hoje. No Jornal da Tarde, SIC e RTP anunciam a contratação de José Mourinho para treinador do Benfica, com Mozer a adjunto. A TVI insiste no nome de Toni. O Benfica organiza então duas conferências de imprensa, ambas presididas por Vale e Azevedo. A primeira com Jupp Heynckes. É o adeus do alemão, após um início de época para esquecer: derrota nas Antas (2-0), derrota em Halmstad (2-1) e empate em Leiria (1-1). Em cinco jogos, só duas vitórias (4-1 ao Beira-Mar mais 2-1 ao Estrela, com um bis de Van Hooijdonk aos 89’ e 90’). “Estávamos a construir uma equipa nova e é uma pena abandonar este clube”, argumenta Jupp.

“Fui um jogador de altíssimo nível e nunca tive problemas com a pressão. Temos sete pontos, como o campeão Sporting, menos dois do que o Porto e já jogámos lá [nas Antas]. Se ganhássemos o jogo em casa, ficaríamos um ponto à frente. É preciso mais paciência entre os adeptos. Mas a verdade é que se os sócios não estão satisfeitos, é melhor sair agora enquanto estão intactas as aspirações desportivas.” Ao seu lado, Vale e Azevedo realça o altruísmo de Heynckes, por ele contratado no verão de 1999, um ano depois de se ter sagrado campeão europeu ao serviço do Real Madrid. “O senhor Heynckes teve sempre todo o apoio do clube. É uma saída a bem. Foi muitíssimo correto em todas as circunstâncias e teve dificuldades a todos os níveis, nesta fase difícil da vida do clube.”

Às 17 horas, o momento chave do dia com a apresentação da nova equipa técnica, a dupla M&M (Mourinho e Mozer). Aos 37 anos de idade, Mourinho chega ao cargo de treinador principal. A sua experiência neste campo resume-se a um jogo em 1998. A páginas tantas, quando o Barcelona soma quatro derrotas seguidas na Liga espanhola (Maiorca, Atlético Madrid, Deportivo e Villarreal), entre 27 de novembro e 12 de dezembro, os adeptos pedem a saída de Van Gaal. Vai daí, o holandês entrega o comando técnico a Mourinho. Num particular, é certo (a 16 de Dezembro), mas quem disse que isso não conta? Mourinho vence e convence. Dá ordens, gesticula muito e acaba 4-1 vs. Estrela Vermelha, em Cádis, com Pep Guardiola a titular e Xavi a entrar aos 81’. É aplaudido pelos adeptos e até pela imprensa (o jornal “Mundo Deportivo” titula “Com Mourinho, sim”), enquanto o adjunto Van Gaal vai para o banco só para tomar notas e ouvir cânticos contra si.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Passa-se um ano. Quase dois. E eis o salto gigantesco de Mourinho, de adjunto do Barcelona para principal do Benfica. O primeiro indício dá-se na noite de 18 setembro, uma segunda-feira. O Estrela marca o 1-0 na Luz aos 79’, por Djalma. Os adeptos entram em polvorosa e fazem esvoaçar os lenços brancos. Van Hooijdonk empata aos 89’ e os lenços brancos continuam bem presentes. Van Hooijdonk garante a reviravolta aos 90’ e os lenços brancos incomodam Heynckes. Tanto assim é que o alemão comunica a Vale e Azevedo a vontade de sair. Na manhã do dia seguinte, o treinador mantém a ideia de abandonar o barco e o presidente aceita finalmente o pedido de demissão. Com tudo nos trinques sobre valores etc. e tal, Vale e Azevedo e José Capristano reúnem-se com o director-desportivo Toni no escritório do presidente. O convite de treinador é-lhe lançado, só falta decidir salários e assim. Para tal, agenda-se uma reunião para o dia seguinte, às 16h30. Algo que nunca acontece.

Nessa noite de 19 setembro, Vale e Azevedo trabalha com Eládio Paramés, então diretor de comunicação do Benfica, e pede-lhe para acelerar o processo José Mourinho, já então desvinculado do Barcelona e de férias na terra-natal Setúbal. Há quem misture as informação e contacte Mourinho nesse sentido, ao que este responde: “Não vou para adjunto nem do Toni, nem do Capello, nem de ninguém”. A reunião é marcada para a casa de Álvaro Braga Júnior, onde as duas partes se entendem às mil maravilhas. A empatia entre presidente e (novo) treinador é imediata, obra de segundos. Durante a madrugada alta, assina-se no escritório de Vale e Azevedo o contrato válido até junho 2002. “Vou treinar o Benfica e amanhã vou para um hotel qualquer em Lisboa porque preciso de estar concentrado apenas nisto”, desabafa Mou.

Dia 20. Enquanto Heynckes faz o último treino, com os suplentes e não convocados no 2-1 ao Estrela, os jornalistas recebem a notícia das duas conferências de imprensa. É o próprio Vale e Azevedo quem os informa, à chegada ao Parque das Nações para uma reunião com a UEFA. Minutos depois, Toni recebe um telefonema do Benfica a desmarcar a reunião combinada na véspera. Mais tarde, Toni receberia outra chamada, esta de Vale e Azevedo, a justificar-se pela escolha de Mourinho. Apanhado na curva pelos acontecimentos, Toni lamenta-se à TSF.

“A forma como as coisas foram concluídas… Não me deram tempo para dizer nem que sim nem que não. Ao início da tarde de quarta-feira, as explicações dadas pelo presidente apontaram no sentido de não concordar com duas coisas: o nome do técnico que me iria acompanhar [Jorge Castelo] e achar que eu não tinha grande confiança no plantel. Ora eu defendi que era preciso retocar o plantel com jogadores de grande qualidade e se em dezembro os houvesse. Se não, trabalharia com os jogadores que lá estão, como fiz das vezes em que foi treinador do Benfica e fui campeão [em 1989 e 1994].”

Quando se lhe pergunta sobre os fait-divers financeiros na conclusão do negócio, Toni reage energeticamente. “Nem tive tempo de pedir dinheiro ao Benfica. A proposta financeira foi-me feita pelo dr. Vale e Azevedo.” No fim, Toni respeita as opções “respeitáveis” do presidente. “Ele decidiu na convicção de que escolheu o melhor para o clube. Desejo a melhor sorte ao José Mourinho e ao meu grande amigo Carlos Mozer, que era jogador quando fui campeão com o Benfica [insista-se: em 1989 e 1994].”

Está na hora. Às 17, Vale e Azevedo apresenta-se na sala de imprensa do Estádio da Luz e dá a conhecer José Mourinho como um “treinador jovem, com uma escola interessante” antes de justificar a decisão. “Aquilo que é mais importante não é estar no Benfica, é ganhar no Benfica. O Benfica é um clube ganhador e é preciso ter ambição para estar aqui. Mourinho têm essa ambição, provavelmente mais do que muitos treinadores consagrados. Faz-se acompanhar por Mozer, um homem da casa, com espírito de campeão”. Para a pergunta da inexperiência de Mourinho, o presidente tem a resposta na ponta da língua. “José Mourinho é uma certeza. Há sempre uma primeira vez e estamos convencidos de que é uma aposta ganha.”

https://www.youtube.com/watch?v=84NZr1rcnvk

Passa-se a palavra a Mourinho. Quem quiser, vê-o em direto na RTP e SIC. “Nem sequer hesitei e o que vou dizer não são palavras de circunstância: sinto uma enorme honra e orgulho em representar o Sport Lisboa e Benfica.” De seguida, os resultados como forma de agradecimento. “Eu podia estar aqui a agradecer a quem usou da legitimidade de que dispõe para me escolher, mas prefiro utilizar o meu trabalho diário para fazer esse agradecimento.”

Sobre o adjunto, Mourinho é bastante explícito. “Não acredito em treinadores adjuntos. Acredito em treinadores com identidade própria, umas vezes discordando, outras concordando. Mozer foi o único nome que reuniu concordância absoluta de todos para formar equipa comigo.” E este plantel? “Extremamente profissional e ambicioso. As inscrições estão fechadas e mesmo que não estivessem não pedia ninguém. Estes jogadores merecem o carinho dos associados.”

No dia seguinte, o primeiro treino no relvado número dois da Luz com a presença de 300 adeptos. Só para a história, a frase mais ouvida é “explosão na tabela e mudança de velocidade no último metro” durante o jogo de dez contra dez. Se Dani, Escalona (lesionados), Chano (a dar voltas ao campo) e Marchena (na seleção olímpica espanhola) falham o evento, há duas novidades dos bês: Bruno Aguiar e Geraldo. Dobramos o dia e já estamos na sexta-feira, véspera da estreia. O Boavista de Jaime Pacheco é o adversário. Na conferência de imprensa, Mourinho esfrega as mãos de contente enquanto solta um “vamos lá” e umas quantas respostas marcantes:

“Quem tem medo, fica em casa; quem não sente potencial psicológico, trabalha toda a vida em clubes de menor dimensão”

“O Benfica não tem 10 bons jogadores e outros tantos que são ‘passarinhos’, tem 20 bons elementos”

“Trata-se apenas de mais um jogo de campeonato. Não é um jogo especial por ser a nossa estreia, nem com consequências gravosas para o futuro”

“A equipa não pode ser muito diferente, por uma questão de coerência. Serão diferentes alguns mecanismos de jogo, mas fazer uma mudança radical seria uma autêntica loucura”

“Há possibilidades de o Poborsky jogar mais no meio e não encostado à linha lateral. Tenho conversado com os jogadores para explicar-lhes os meus conceitos de polivalência e perceber a sua autoconfiança para jogar em determinadas posições. O Poborsky foi claro comigo: disse-me que pode jogar aberto na direita, como extremo, mais no interior, atrás do ponta-de-lança, ou fazer todo o flanco direito, num esquema de três centrais, como faz na seleção da República Checa.”

Na lista dos 18 convocados, só onze se apresentam de início no Bessa: Enke; Dudic, Paulo Madeira (cap.), Ronaldo e Rojas; Meira; Poborsky e Maniche; Carlitos, Van Hooijdonk e Sabry. Decide um golo de Duda, de calcanhar, aos dois minutos. O Boavista ganha 1-0 e será campeão nacional nessa época. No fim, Mourinho deixa a sua marca: “Níveis de confiança estão muito baixos. Mais que uma chicotada psicológica, esta equipa precisa de uma chicotada metodológica.” Perguntam-lhe pelo árbitro: “Não vou comentar o trabalho, isso é tarefa para os jornalistas.” Qual o percurso daí para a frente?

Halmstad, 2-2

O primeiro desafio na Luz é para a Taça UEFA. Só interessa reverter o 2-1 da Suécia e Van Hooijdonk faz a sua parte, aos 23 minutos. Depois, o mundo benfiquista desaba, com o 1-1 de Gustafsson (32’). A três minutos do fim, Selakovic tira o Benfica da Europa. De nada vale já o 2-2 de Miguel, aos 89’. Mourinho deixa o aviso. “Não terei contemplações com as coisas que me desagradam. Não abdicarei da mentalidade guerreira a partir de 2.ª feira. Quem a tiver, será uma opção. Quem não tiver, não dá garantias. Temos de ter carácter.”

Braga, 2-2

A segunda-feira que se refere é o jogo com o Braga, na Luz, para o campeonato. Ao intervalo, 1-0 para o segundo classificado (obra de Fehér). O Benfica reage. João Tomás entra aos 60’ e marca no primeiro toque na bola, aos 61’. Van Hooijdonk completa a reviravolta, aos 75’. Ao cair do pano, o central Artur Jorge fixa o 2-2. Que desilusão. Mourinho explica: “Pela sua personalidade ou cultura, há jogadores que não conseguem atingir os limites do esforço, da seriedade e da concentração dentro do campo. Com os meus métodos consegui-lo-ão. Não tenho nenhuma pistola apontada, apenas um dedo indicador a dizer: ‘Tens de passar destes níveis de seriedade, concentração e esforço, para aqueles que pretendemos’”.

Belenenses, 1-0

A primeira vitória só chega ao quarto jogo, com um golo de Marchena aos 32’, na sequência de um livre dentro da área assinalado por Isidoro Rodrigues e altamente contestado pelo treinador belenense Marinho Peres. Para o Benfica, é o terceiro jogo seguido com um capitão diferente: Paulo Madeira, Calado e, agora, Ronaldo. “Estamos finalmente a entrar nos eixos, temos de manter esta dinâmica para toda a época”, puxa Mourinho.

Paços, 0-0

Afinal, a vitória sobre o Belenenses é a exceção à regra. O Benfica anda na cepa torta e jamais se endireita. O nulo em Paços indicia isso mesmo. Mourinho está ligeiramente insatisfeito com a equipa. “Numa escala de 0 a 10, classifico a nossa atuação defensiva com a nota máxima, enquanto a qualidade do passe, coisa fundamental para a interligação dos setores e obtenção de situações de golo, com apenas 1. E estou a ser bastante simpático.”

Depois, o ataque a Sabry. “Levou oito minutos a preparar as botas e as caneleiras à minha frente. Não é fácil para um treinador gostar de um jogador (Sabry) que tem uma média absurda de foras-de-jogo, que não sabe que quando a bola está na posse do adversário, ele tem de fechar o espaço interior e não ficar aberto, que não sabe o que é relação posicional e ocupação equilibrada do espaço e que fora de casa quando lhe mostram os dentes foge.”

Campomaiorense, 2-0

Manuel Vilarinho é eleito presidente e o Benfica joga no dia seguinte, em casa, com o Campomaiorense. Decide um bis do suplente João Tomás. Em vez de falar dos jogadores ou da exibição, Mourinho opta pela via Vale e Azevedo. “Dedico esta vitória a quem me convidou.”

Marítimo, 0-3

Lagorio, Lagorio e mais Lagorio. O avançado argentino desfaz o Benfica com um hat-trick e Mourinho vive o pesadelo do caldeirão dos Barreiros numa noite de intensa canícula. A mudança tática para o 3-5-2 (Poborsky faz todo o lado direito, Diogo Luís o esquerdo). “Voltamos à mesma conversa: há jogadores que ainda não conseguem atingir os limites do esforço, da seriedade e da concentração dentro do campo. Assim, não.”

Farense, 2-1

Marco Nuno adianta os algarvios, aos 73’. O empate chega de penálti, por Van Hooijdonk (84’). A vitória é garantida por João Tomás, aos 88’. A força da vitória está com Mourinho. “A partir do golo sofrido, vi onze homens vestidos de vermelho com grande dignidade. Se fossem outros, tinham procurado um buraco para se meterem.”

Vitória, 4-0

Em Guimarães, o Benfica dá espetáculo com hat-trick de João Tomás na segunda parte. Antes do intervalo, o golo é de Chano. Goleada impensável, e sem Van Hooijdonk no onze. “A equipa está preparada para tudo e conhece o treinador que tem. A equipa sabe que o treinador é grato, directo e frontal. Não sei onde está o jogador que, neste momento, chega ao Benfica e eu tire um dos meus meninos para ele jogar.”

Campomaiorense, 1-0

É Taça e o Benfica evita a surpresa em Campo Maior com um golo do suplente Sabry. Apurado para a 5.ª eliminatória, Mourinho dá uma bicada no treinador dos alentejanos. “Diamantino Miranda revela coerência e coragem. Primeiro disse que nenhum jogador do Benfica tinha lugar no Campomaiorense. Pensei que se ganhássemos ele mudasse de opinião. Não mudou porque foi coerente. Mas eu prefiro estar na minha posição, de apurado, do que na dele.”

Sporting, 3-0

Chega o dérbi da Luz, para o campeonato, e o campeão é vergado ao peso do 3-0. Mourinho aposta num onze com Enke; Dudic, Marchena, Meira e Diogo Luís; Chano e Calado; Carlitos, Maniche e Miguel; Van Hooijdonk. É o holandês quem desbloqueia o nulo, de penálti. Marca à primeira e também na repetição, por indicação de Jorge Coroado. Na segunda parte, bis do suplente João Tomás. Na sala de imprensa, Mourinho diz de sua justiça. “A minha equipa foi uma perfeição.”

A saída

Quando finalmente os astros se conjugam, à quarta vitória seguida, eis a saída de Mourinho. Fala-se do Sporting, que, entretanto, se desprendera do treinador campeão Augusto Inácio. O presidente Manuel Vilarinho tem uma palavra a dizer. “O Mourinho ganha 3-0 ao Sporting. O Benfica não jogava nada. Tinha uma equipa que era uma porcaria, até eu era capaz de ter lugar, ou pelo menos era um suplente muito utilizado. É que não jogavam nada, nem tinham forma de jogar, porque não havia matéria-prima. E o senhor Mourinho, que é um excelente treinador e condutor de homens, meio bruxo, consegue mudar aquelas mentalidades. O defesa esquerdo, o David… Luís… Como é que ele se chamava? O Diogo Luís, isso, estava convencido que era o melhor defesa esquerdo do mundo. E quando uma pessoa está convencida, é muito melhor do que é. O senhor Mourinho ganha 3-0 ao Sporting sem saber ler nem escrever, aquilo aconteceu. E isto é um sábado. Segunda-feira temos reunião da direção e o senhor Mourinho diz isto: ‘Ou me renova o contrato mais um ano ou amanhã já não dou o treino’. Ele nunca gostou de mim, não sei porquê, devia pensar que eu não gostava dele.”

Ao cabo de onze jogos oficiais em três frentes, com seis vitórias, três empates e duas derrotas, Mourinho e Mozer abandonam a Luz dois dias depois do 3-0 ao Sporting. É uma terça-feira. Como hoje. Dia 5 Dezembro 2000. “É um dia bastante triste para nós, o dia em que terminamos a nossa relação contratual com o Sport Lisboa e Benfica.” A sala de imprensa está cheia de adeptos invasores a gritar o nome de Mourinho.

“Não interpretem mal esta situação, bastante complicada. O sr. Manuel Vilarinho entrou no clube com o estigma de um treinador atrás, o que era legítimo, mas eu e o Mozer considerámos que a única forma de acabar com as especulações e a situação de treinadores a prazo, dependentes de um ou outro resultado, foi a de dizermos à Direcção que só continuaríamos se renovássemos por mais uma época para darmos continuidade ao nosso trabalho. Nada me move contra o sr. Vilarinho, mas ele achou por bem não aceitar o nosso pedido de renovação. Interpretámos isso como uma prova de pouca confiança e achámos por bem deixar o nosso lugar à disposição da Direcção, para esta poder optar pelo treinador que entende servir melhor os interesses do Benfica.”

Uma semana depois, em entrevista ao jornal Record, o treinador desempregado vai mais longe ainda. “Quem esteve atento e acompanhou com perspicácia a forma implícita e maliciosa como eu, nas conferências de imprensa, dava a entender que as coisas não estavam bem, pode compreender que, desde o princípio, se estava a caminhar a passos largos para um desenlace como este. Há um sócio de empresário que está escondido para o grande público com fato de comentador [Fernando Seara] que me critica. Essas críticas estão anexadas a corrupção moral. Estivemos quatro semanas seguidas a ganhar e a ver pessoas tristes, frustradas.”

Mourinho nunca mais voltaria a treinar nessa época (só vai para Leiria no Verão de 2001) Já o Benfica assinaria a pior época de sempre, com o sexto lugar no campeonato e a impossibilidade de participar nas competições europeias pela primeira vez desde 1959-60. A Heynckes e Mourinho, segue-se Toni, eliminado na Taça de Portugal pelo Porto (4-0) e treinador de mais sete derrotas no campeonato.