As Nações Unidas suspenderam temporariamente todas as ajudas humanitárias na Síria, depois de um ataque aéreo ter atingido camiões que transportavam alimentos para uma área rebelde perto de Alepo, na segunda-feira. Doze pessoas morreram no ataque e 18 camiões foram destruídos. A suspensão foi noticiada esta terça-feira e vai afetar tanto os rebeldes como as forças do regime.

Jens Laerke, porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU), informou que a missão de entrega de ajudas tinha a aprovação das partes em guerra no território sírio – incluindo dos governos da Síria, Estados Unidos e Rússia. Os camiões transportavam roupa de inverno, trigo e medicamentos para milhares de pessoas.

[Tweet da Crescente Vermelho a anuncia a entrega da ajuda, esta segunda-feira.]

Os trabalhadores e camiões pertenciam às Nações Unidas e à associação Vermelho Crescente – organização humanitária que age em conjunto com a Cruz Vermelha -, sendo que todos os mortos são civis.

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Peter Maurer, o presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha, descreveu o ataque como uma “violação deflagrante da lei humanitária internacional”.

Segundo o jornal britânico The Guardian, os Estados Unidos responsabilizam a Rússia pelo ataque, mesmo que os aviões de Moscovo não tenham estado envolvidos no ataque. Os EUA afirmam que os russos estavam responsáveis por controlar as forças do governo sírio durante o período de cessar-fogo e que, ao não conseguir fazê-lo, eram parcialmente “responsáveis”. Um porta-voz do governo americano, John Kirby, afirmou numa declaração que “o destino da coluna era conhecida do regime sírio e da federação russa e que, mesmo assim” o ataque tinha acontecido. Kirby acrescentou que este ataque pode pôr em causa as perspetivas de cooperação com a Rússia no futuro.

A Rússia ainda não comentou o sucedido ou as acusações do governo americano.

Os mantimentos estavam a ser entregues a forças rebeldes sírias. O comandante das operações humanitárias da ONU, Stephen O’Brien, pediu uma investigação “imediata, imparcial e independente” ao incidente que pode vir a ser considerado como “um crime de guerra”. O’Brien acrescentou ainda que os responsáveis “deviam saber que um dia vão ser julgados pela violação do direito internacional humanitário e das leis dos direitos humanos”.

Entre os mortos encontrava-se Omar Barakat, o diretor da Vermelho Crescente Síria. Robert Mardini, o diretor da Cruz Vermelha no Médio Oriente e Norte de África, explicou que a ajuda tentou chegar até à coluna de camiões, mas demorou duas horas e que quando conseguiram começar a evacuar Omar Barakat, este não aguentou os ferimentos.

Mardini explicou que as áreas afetadas pela suspensão de entrega de ajuda humanitária vão ser Foua e Kefraya, dominadas por rebeldes, e Madaya e Zabadani, junto da fronteira do Líbano e controladas pelas forças do governo.

[Os camiões destruídos, momentos depois do ataque.]

Maurer explicou que falhas na proteção de estruturas e trabalhadores humanitários “podem ter pesadas consequências no trabalho humanitário em todo o país”.

Esta segunda-feira, uma coluna de camiões da Crescente Vermelho/Cruz Vermelha conseguiu fazer a primeira entrega de ajuda desde julho, levando mantimentos para mais de 80.000 pessoas em Talbiseh. No entanto, a coluna teve de pernoitar devido aos combates intensos na área.