Neste género de coisas – leia-se preview, apresentação exclusiva para a imprensa que antecede a inauguração – nunca se quer tudo pronto. Quer-se adivinhar o amanhã, quer-se imaginar isto de rosto pronto, barba feita, para receber o mundo. E prevê-se mais gente do que a dúzia de artistas e responsáveis da produção que agora ocupam o Jardim Municipal de Oeiras, mais os cabos, latas a tilintar, barris de cerveja danados para serem abertos. Tudo isto será este fim-de-semana uma gigante instalação artística.

O Iminente está quase aí, o lugar ideal onde arte urbana e música se sentam no mesmo sofá prontos a conversar. O novo festival, com curadoria de Alexandre “Vhils” Farto, em parceria com a Câmara Municipal de Oeiras, a UAU e a Underdogs, decorre em Oeiras de sexta a domingo. E o preço dos bilhetes, apenas diários, vai provocar risada: 2€. Ou seja, tratemos de arranjar desculpas para não ir.

Cheira a tinta junto ao Jardim Municipal de Oeiras. Ao fundo ouvem-se aqueles martelos que furam paredes, aquele ruído que avisa: Vhils está por perto. E Alexandre Farto lá faz uma curta pausa para receber os jornalistas e dizer que o Festival Iminente é “no fundo, uma celebração da arte urbana feita da grande Lisboa”. Esclarece a identidade do que nós aqui já vamos vislumbrando: “Na música, o que tentámos fazer foi uma seleção de artistas de cariz urbano, iminentes, que estão a borbulhar. A intervenção no espaço, a escala que estes artistas têm para trabalhar, distinguem este festival. Alguns deles só tinham trabalhado em mural. É uma oportunidade única, o que queremos é dar espaço à cultura”.

Antes de voltar a meter mãos à obra, Alexandre vai ainda a tempo de nos explicar uma das obras que tem presentes no recinto, e para esta não foi preciso furar parede nenhuma. Uma espécie de mahjong, cubos de aço sobrepostos com várias imagens que recolheu de vários pontos do mundo. “Levanta uma relação de identidade no meio urbano, muitas vezes percorremo-lo sem reparar, mas sempre nos influencia e nos absorve”, indica o artista e, por agora, curador. Que nos deixa em boas mãos: Pauline Foessel e Paulo Dias, co-produtores e próximos guias de viagem.

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Uma visita presidencial

Mal viramos à esquerda, seguimos outras direções, deparamo-nos com uma imagem do Presidente da República, Marcelo está entre nós, acena para os que passam de sorriso rasgado, agarrado a postes de eletricidade. Imagens que provam que a arte também é matreira, assim pensaram Vhils, Pedrita e maismenos, responsáveis pela presença do professor.

Ele que também está à entrada da estufa ocupada por David Oliveira. A luz muda, entramos numa jaula tropical, de ambiente mais íntimo, onde umas teias de lã nos sobrevoam a cabeça e suportam as obras que são afinal animais. David Oliveira escolheu quatro espécies em vias de extinção, mas prefere não falar muito sobre a sua obra: “O que tenho para dizer está ali”, apontando para o atum que fez com tule e arame, de dentro para fora.

Saímos da penumbra em direção à ribeira, onde Bordalo II fez das suas, e das boas. Dois flamingos gigantes feitos a partir de material reciclado e que vão ser companhia bonita para os três dias de festival. Outro detalhe cheio de pinta deste Iminente está mesmo ao lado. A pista de carrinhos de choque está lá mas os carros nem tanto, “pensámos que a pista podia dar uma bela pista de dança”, diz Paulo Dias. A bilheteira vira cabina e a garantia de que aquele senhor do “menina bonita não paga mas também não anda” vai ter substitutos à altura.

Palmas das mãos para cima

Assim nos ordena Wasted Rita, artista que ocupa uma das gaiolas do Jardim Municipal de Oeiras para nos ler a sina. Chegar, sentar e virar as palmas das mãos para cima, e acreditar que Wasted Rita nos vai dizer coisas boas, ela a quem só vemos os olhos, escondida atrás de um pseudo-guichet. Aqui, no Iminente, se for caso disso, também se podem afastar demónios.

Seguimos em paz, que Wasted Rita só cá chega amanhã, para perto da intervenção de Gonçalo Mar. “Natureza Humana”, de seu nome, que ao longe dá ares de um banquete de carne viva para cães de três cabeças devorarem. Quando a lente ganha precisão estamos perante um enorme monte de troncos de eucalipto pintados a vermelho e branco.

Ainda para mais está no lugar que todos querem: bem de frente para o palco, para não perder sequer um concerto. E não são poucos, são é bons: Chullage, Halloween, Sam The Kid + DJ Big, DJ Marfox, DJ Firmeza, Linda Martini, Paus, Slow J, Batida, Orelha Negra, entre tantos outros. Parece não faltar ninguém para se fazer uma bela festa em Oeiras até domingo. Pelos vistos o verão não acabou.

Todos os detalhes da programação do Iminente aqui.