O militar Hugo Abreu, que morreu durante o treino dos Comandos no início deste mês na sequência de um golpe de calor, terá sido forçado a comer terra já depois de estar “próximo da inconsciência”, revela um dos colegas do curso ao programa Sexta às 9, da RTP. Também a mãe de Hugo Abreu, ouvida pela mesma reportagem, garante que “o sargento Rodrigues, depois de ele cair por terra, pô-lo a respirar terra e a comer terra”.
Nessa altura, “quando o Hugo tombou no terreno”, explica o antigo colega, sob anonimato, o militar estava “com imensas dificuldades respiratórias”. Uma outra testemunha revela à reportagem da RTP, que é emitida na íntegra esta noite, que, durante o treino, os militares só podiam beber água após uma ordem de um instrutor nesse sentido, o que levou o pai de Hugo a afirmar que o filho morreu “de desidratação”.
Hugo morreu no dia 4 de setembro, durante um treino do 127.º curso de Comandos. No mesmo dia, vários outros militares foram transportados para o hospital, também com sintomas de golpe de calor. Outro militar, o recruta Dylan da Silva, viria a morrer uma semana depois após ter estado internado no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, à espera de um transplante hepático.
Na sequência das mortes durante o treino, todos os militares foram sujeitos a um exame médico complementar, e o curso foi retomado a seguir a esse exame. O Estado-Maior do Exército decidiu também suspender os próximos cursos de Comandos enquanto durarem os inquéritos relativos à morte dos dois soldados.
Durante o treino, alguns dos militares, escolhidos de forma aleatória, tinham os seus indicadores fisiológicos monitorizados, no âmbito de um projeto do Laboratório de Biomecânica do Porto. Ao Observador, o investigador responsável pelo projeto garantiu que os dados obtidos não permitiram concluir qualquer tipo de esforço além dos limites humanos. No entanto, nenhum dos militares que receberam tratamento hospitalar fazia parte da amostra selecionada.