Pinheirinho, pinheirinho
De ramos verdinhos
P’ra enfeitar, p’ra enfeitar
Bolas, bonequinhos.
A letra, recordar-se-á certamente dela. Da meninice. Mas vamos ao Sporting-Estoril — e ao “pinheirinho” Bas Dost, que é (sobretudo) dele que reza a crónica.
Há matulões e matulões. Falando dos lá da frente. Há-os mais ajeitadinhos com a bola e a redondinha nunca é mal tratada. E há-os mais desajeitados com ela — e que a tratam com a “fineza” de um lenhador. Bas Dost é assim-assim. Está no limbo. A correr é desengonçado — ou não estivesse ele a escassos quatro centímetros de ter dois metros de altura. Mas na hora de fazer o que faz melhor — leia-se: golos –, desengonçado ou não, a verdade é que molha a sopa. E desde que se estreou pelo Sporting na Primeira Liga, “molhou” sempre. Esta noite em dose dupla.
O primeiro dos dois golos chegou cedo (13′) e a bola, essa, chegou-lhe onde Dost mais gosta de a receber: na área. Bryan Ruiz, qual dez que é, desmarcou (desde o centro e à entrada da área) Gelson na direita e nas costas de Joel, o miúdo que tem sido primeira página de jornais nas últimas semanas cruzou para a área, um cruzamento a meia altura, Dost é altíssimo, mas lá desceu ao rés-do-chão (com o lateral Lucas a vê-lo descer, impávido e sereno) e cabeceou para o 1-0, na direção do poste direito de Moreira — que nem todo esticadinho lá chegou.
O Estoril não fez um só remate à baliza de Patrício na primeira parte. E o Sporting, apesar de ter passado o tempo todo a cirandar, serenamente, a baliza do Estoril, também só o fez por uma vez (fora o golo, claro) com direção, num remate de fora da área (8′) que saiu da canhota de Alan Ruiz.
Porquê? Por causa da maldita tentação. Sim, é tentador. Quando se tem um “pinheiro” na área, é tentador cruzar para lá. E o Sporting foi useiro e vezeiro desses cruzamentos, uns atrás dos outros. O resultado até deu frutos, com o 1-0. Mas até final da primeira e durante parte do recomeço, quando não era o holandês a errar a direção, era o cruzamento (à esquerda ou direita) que não saia, ou era o central do Estoril que o cortava dali para fora. Enfim: nada do “Pinheirinho, pinheirinho/De ramos verdinhos” enfeitar a baliza com “Bolas, bonequinhos”.
Mas nem só de um “pinheiro” vive o Sporting. Coates é da mesmíssima altura que Dost. E é aqui que avançamos até ao minuto 59′. O cruzamento à direita é de Bryan Ruiz. O costa-riquenho foi bater um canto, bateu-o largo, em arco, a bola passou o primeiro poste, perdeu altura, chegou ao segundo e aí foi Coates que cabeceou para o 2-0. Moreira foi imprudente a sair da baliza, talvez algo tardiamente, chocou com o uruguaio fora da pequena área e pediu falta. Não há. Quando eles chocam já Coates tinha cabeceado. Essa é que é essa. E outra: o Sporting alarga a vantagem.
O Estoril continuava sem rematar. Se recuasse mais, cairia no malfadado fosse do estádio José Alvalade. E o Sporting apertava o cerco. Mais e mais.
O passe é um primor. E o minuto o sessenta-e-dois. A meio-campo, bem no centro deste, William tabelou com André, recebeu a bola de volta, aguentou a pressão que lhe era feita — e era muita –, levantou a cabeça e desmarcou Bas Dost nas costas da defesa do Estoril. É “meio” golo. O holandês, embalado, nem precisou de chegar à área rematar: Moreira saiu da baliza e Dost chutou, rasteiro e colocado ao poste esquerdo, para o 3-0 e o seu bis.
William começou a jogada do terceiro golo. E começaria outra, aos 78′, que sou não deu em golo porque William não quis. Mas lá tentar, tentou. Lento? Lento é a tua tia, pá! Se quisesse, era o que William poderia ter respondido no final. Aos críticos. Ele que tão criticado tem sido por causa da falta de intensidade defensiva (e até ofensiva) que amiúde demonstra nos jogos. Mas adiante. Depois de receber um passe de Coates à saída da área do Sporting, aguentou a pressão de Diogo Amado, rodopiou, deixou quem o pressionava para trás, e acelerou. Acelerou meio-campo fora — o defensivo e o ofensivo –, deixou tudo e todos para trás, chegado à área desmarcou Markovic na direita, este cruzou para ele na volta e William rematou. Por cima, é verdade. Mas lento é que coisa que não se lhe poderá chamar hoje. Ou as tias sofrerão. Muhahahahaha!
Tic-tac. O cronómetro seguia a contagem e não havia maneira do Estoril rematar. Não havia, mas houve. Foi aos 85′ — mais pozinho, menos pozinho. E ao primeiro remate, golo. Tocantins (santinho!) acelerou pela esquerda do ataque, João Pereira seguia-o de perto mas não impediu que cruzasse, rasteiro e para o primeiro poste, respondendo ao cruzamento Bruno Gomes, mais veloz a “atacar” a bola do que Rúben Semedo. Contas feitas: 3-1.
Era tudo? Homessa! O árbitro João Capela deu três minutos de tempo extra. O suficiente para ter mais dois golinhos para aqui contar. Aos 91′, o do Sporting. Contra-ataque. E é novamente William a conduzi-lo, abrindo na esquerda em Bryan Ruiz, este cruza (com a força de um remate, diga-se) para o primeiro poste, desviando André para o 4-1. Simples. E a estreia de André a marcar pelo Sporting. Depois, aos 93′, é a vez de Bruno Gomes (ele que só entrou a tarde e boas horas: 65′) bisar. Mas Jefferson, o tal Jefferson que substituiu hoje o desastrado (a defender) Bruno César de Vila do Conde, foi tão ou mais desastrado que ele (tentou cruzar onze vezes e falhou as onze!) no jogo contra o Rio Ave. À direita e dentro da área, Mattheus Oliveira fez o que quis dele, teve tempo para receber a bola, olhar para a pequena área, driblar e cruzar, chegando ao cruzamento Gomes.
Peeep, peeep, peeeeeep! Apitou o árbitro, sobe o Sporting à liderança que perdeu há uma semana. Dormir na frente, vai dormir. E se o Benfica perder pontos em Chaves, até vai dormir mais do que uma noite. Embalado pelo “pinheirinho” desengonçado mas goleador.