Com idade para ver desenhos animados, brincar na rua com os amigos e ir à escola transformar-se em alguém, Clara perdeu os pais — o nome é fictício e familiar, talvez ajude a aproximar aquele país distante. O drama, vivido em Thiruvarur, na Índia, prometia assombrar a sua vida para sempre, com uma caminhada aos soluços nos primeiros tempos de habituação, lado a lado com os avós. Mas o fado de Clara seria muito mais dantesco…

Alguém, ainda não identificado, apoderou-se da menina e vendeu-a por mil rupias. Clara foi comprada por míseros 15 dólares, pouco mais do que 13 euros. O que podemos fazer com 13 euros? Clara foi vendida, usada como mercadoria, como uma pedra que se chuta na rua, como uma máquina de fazer o que os outros não querem fazer. A educação ficou esquecida, a alegria mirrada e a dignidade pisada. Clara era obrigada a trabalho doméstico forçado. Tinha 11 anos.

O tormento durou até uma madrugada em que a menina decidiu desafiar a sorte e testar o destino. Sem as amarras que a prenderam até ali, viu um muro por escalar, que lhe prometia a liberdade. Clara subiu esse muro e foi à estrada pedir ajuda aos homens que colavam as mãos ao volante. O tormento acabara.

A história está publicada no diário espanhol El Mundo nesta sexta-feira e há ainda várias pontas soltas por esclarecer. “A menina disse-nos que foi vendida a um conhecido da sua mãe e que trabalhou para ele e para a sua família como criada”, explicou Mohamed Zaheeruddin, um homem que trabalha em serviço social.

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E continuou: “Subiu o muro numa madrugada de sábado para domingo e pediu ajuda a uns condutores. Agora está numa casa do Governo. A investigação preliminar diz que foi explorada, mal alimentada e enclausurada”.

O El Mundo informa ainda que as autoridades já terão identificado o criminoso que gastou 15 dólares para comprar o trabalho forçado de uma menina de 11 anos.

As informações conhecidas são todas da responsabilidade da menina de 11 anos, que avançou ainda que trabalhava em duas casas. Segundo informações do governo indiano recolhidas pelo diário espanhol, 40% dos seres humanos traficados em 2015 naquele país eram crianças, que foram vendidas ou exploradas. Estamos a falar de escravatura moderna.